Suspeito de fazer aborto, médico tem clínica interditada

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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Vigilância Sanitária do município de Barra do Garças (509 km a Leste de Cuiabá) interditaram, nesta sexta-feira (9), uma clínica de exames de ultrassonografia, que estava com Alvará Sanitário vencido.

A ação faz parte da “Operação Pró-Vita”, deflagrada hoje pela Polícia Federal, após denúncias recebidas pelo Ministério Público Estadual (MPE). A operação visa ao combate à comercialização de medicamentos ilegais e à prática de abortos criminosos em série.

Na clínica, foram encontrados medicamentos contrabandeados, como o abortivo Misoprost-200, de uso ilegal no Brasil, e medicamentos vencidos.

Remédios do Sistema Único de Saúde (SUS), blocos de receituários do SUS e medicamentos “tarja preta” também foram recolhidos – sendo que a clínica não tinha acordo firmado com o município.

Além disso, materiais cirúrgicos próprios para a realização de abortos foram encontrados. Entre os instrumentos cirúrgicos apreendidos pela PF estão agulhas espinhais e anestésicos, como Profonol e Morfina.

A clínica possuía autorização apenas para consultas médicas e realizar ultrassonografia, procedimentos que não necessitam de anestesias.

Até mesmo um remédio de uso exclusivamente veterinário foi encontrado pelos fiscais da Anvisa. O medicamento estava armazenado em uma geladeira, junto de alimentos e outros remédios, em um espaço físico destinado a remédios proibidos.

A clínica pertenceria ao médico Orlando Alves Teixeira, que está sendo investigado na operação e teve a prisão temporária decretada. A informação, no entanto, não foi confirmada pela PF ou pelo MPE.

Operação

Até o momento, sete pessoas já foram presas. Outros quatro mandados de prisão temporária ainda devem ser cumpridos.

Em entrevista ao site, o promotor de Justiça Wdison Luiz Franco Mendes, autor da denúncia encaminhada à Polícia Federal e que deu origem à operação, afirmou que as oitivas estão ocorrendo desde o início da manhã.

Segundo Mendes, que atua na 1ª Promotoria Criminal de Barra do Garças, há provas suficientes que comprovam a existência de um esquema de contrabando de remédios proibidos e realização de abortos no município.

O promotor confirmou, ainda, que na clínica do médico foram encontrados remédios ilegais.

Além da clínica e do médico citado, farmácias também estariam envolvidas no contrabando de remédios de comercialização proibida e uma pessoa, com a prisão preventiva decretada, estaria sendo procurada em Goiás.

De acordo com Mendes, as investigações começaram a partir de uma denúncia feita na ouvidoria do MP, em março de 2010.

“Desde então, começamos a apurar a denúncia. Encaminhei a denúncia para a Polícia Federal em outubro de 2010, ou seja, a investigação tem mais de um ano. Há provas e interceptações telefônicas suficientes para embasar a operação”, afirmou o promotor.

Na PF, o inquérito está sendo presidido pelo delegado Bruno Rodrigues dos Santos. A PF já colheu depoimentos de mulheres, que confessaram ter feito pagamentos que variam de R$ 800 a R$ 3 mil por procedimentos abortivos realizados na clínica.

Até o momento, a PF já apreendeu R$ 2,9 mil em dinheiro, uma cartela do medicamento abortivo Cytotec e várias cartelas de remédios de uso controlado, conhecidos como “tarja preta”. Foi localizada também uma caixa de Rouphinol, substância cuja comercialização configura tráfico de drogas.

Além disso, vários remédios e mercadorias que são vendidas apenas para hospitais, como comprimidos de Sildefanil e Sibutramina, foram encontrados nas residências já revistadas pelos policiais.

Ao todo, a 2ª Vara Criminal da Comarca do município expediu 66 mandados judiciais, sendo 11 de prisão temporária, 33 de conduções coercitivas e 23 de busca e apreensão.

A Justiça também determinou o sequestro dos bens de todos os investigados. Entre as pessoas que estão com prisão decretada há um médico, farmacêuticos e atendentes de farmácias da região.

A Operação envolve cerca de 110 policiais federais e cinco agentes da Anvisa, nos Estados de Mato Grosso e Goiás.

Os mandados judiciais estão distribuídos entre as cidades de Barra do Garças, Alto da Boa Vista e Primavera do Leste, em Mato Grosso.

Já em Goiás, há mandados a serem cumpridos nas cidades de Goiânia, Aragarças, Baliza e Aparecida de Goiânia.

Os presos serão encaminhados para a Cadeia Pública do Município de Barra do Garças e responderão criminalmente por aborto, comercialização de medicamentos sem registro na Anvisa, peculato, corrupção e formação de quadrilha.

O termo 'Pro Vita' deriva do latim e significa “Pela Vida” em português contemporâneo.

Investigação

A investigação revelou a existência de uma rede criminosa, dividida em duas ramificações, que interagiam nas práticas dos crimes.

A primeira era voltada para a importação e distribuição de medicamentos de origem estrangeira, sem o necessário registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para farmacêuticos e médicos da região.

Os remédios são de circulação proibida no país e utilizados como abortivos, remédios para tratamento de obesidade e disfunção erétil.

A segunda ramificação é composta por médicos e pessoas associadas, acusados de realizarem procedimentos abortivos mediante pagamento.

Os médicos utilizavam os medicamentos ilegais, fornecidos por farmacêuticos e importadores de remédios, na estrutura do serviço público de saúde: com uso dos materiais e equipamentos do Hospital Municipal de Barra do Garças.

Além do crime de aborto, eles também cobravam pela realização de procedimentos médicos custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Durante a fase de investigação, foi identificada uma série de casos de abortos criminosos e houve a apreensão de 187 comprimidos de Cytotec (quantidade suficiente para a realização de ao menos 50 abortos), 260 comprimidos de Sibutramina, 56 comprimidos de Desobesi-M, 60 comprimidos de Xanax, 40 comprimidos de Rheumazin Forte e 50 comprimidos de Pramil.

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