O ex-presidente da Câmara Municipal de Sorriso , Francisco das Chagas Abrantes, era o chefe da quadrilha que tentava coagir o prefeito Clomir Bedin, o secretário de Indústria e Comércio, Santinho Augusto Salermo, e o procurador do Município, Zilton Mariano de Almeida, a pagar propina, que variava de R$ 50 mil a R$ 500 mil, sob ameaça de reprovação das contas da Prefeitura.
A acusação foi feita pelo promotor Sérgio da Silva Costa, que investiga a denúncia, em entrevista coletiva, na tarde desta sexta-feira (17), na sede do Gaeco, em Cuiabá.
Segundo ele, o presidente da Câmara era o mentor intelectual da cobrança de propina ("mensalinho"), bem como da venda de espaço na TV Sorriso (Rede Record), de propriedade da esposa dele, a empresária Filomena Maria Alves do Nascimento Abrantes.
Na manhã desta sexta-feira, o Gaeco (Grupo de Ação Especializada de Combate ao Crime Organizado), do Ministério Público Estadual, por meio da "Operação Decoro", cumpriu quatro mandados de prisões preventivas na cidade. Foram presos, além de Francisco das Chagas Abrantes, os vereadores Gerson Luiz Frâncio e Roseane Marques de Amorim e Filomena Nascimento.
As investigações começaram em janeiro. Na época, o secretário de Indústria e Comércio, Santinho Salermo, e o procurador Zilton de Almeida procuraram MPE para denunciar a suposta chantagem, em conversas gravadas.
De acordo com o promotor Sérgio Costa, a vereadora Roseane Amorim cobrou do prefeito Bedin, até mesmo, o pagamento do conserto do seu carro e três parcelas atrasadas do veículo.
O Gaeco não descarta a possibilidade de mais pessoas estarem envolvidas no esquema de corrupção. O promotor Sérgio da Costa revelou que outros nomes ainda deverão ser investigados, porém depende da cooperação dos envolvidos que estão presos. Segundo o Gaeco, se sabe que a "quadrilha" teria pelo menos cinco integrantes.
Os três vereadores e a proprietária da emissora foram encaminhados para a Polinter, em Cuiabá, e passarão por uma triagem para saber se ficam em cela especial ou não.
Os quatro responderão pelo crime de formação de quadrilha e os parlamentares também responderão por concussão (exigir vantagem no exercício da função). As penas variam de três a onze anos de prisão.
Além da prisão preventiva dos acusados feita pelo Gaeco, o promotor de Justiça da 1ª Promotoria Cível de Sorriso, Carlos Roberto Zarour deve propor uma ação civil pública, na próxima semana, contra os envolvidos no esquema de corrupção.
Distorção de papel
Ao MidiaNews, o promotor Sérgio da Silva Costa afirmou que a Operação Decoro deixou claro a corrupção que ocorria em Sorriso mostrava que havia por parte dos vereadores acusados uma inversão e distorção de papéis.
"Os vereadores, ao invés de cumprirem a verdadeira missão, que é legislar, pautar pelos interesses da sociedade de Sorriso e fiscalizar o prefeito, faziam um caminho inverso. Na verdade, eles eram os primeiros a tentar subtrair do erário municipal vantagens indevidas", disse.