Médicos dizem que morte de jovem é caso isolado e estimulam pessoas a serem doadoras de medula

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O caso da estudante de enfermagem de 21 anos que morreu na noite de segunda-feira (4) quando se preparava para fazer doação de medula óssea não deve afastar as pessoas que têm interesse em se tornar doadoras. De acordo com especialistas ouvidos pelo R, o caso que ocorreu no Hospital de Base de São José do Rio Preto é isolado e as técnicas para doação de medula são seguras.

Dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) indicam que o Brasil já realizou cerca de 18 mil transplantes de medula óssea. Esse foi o primeiro caso de morte de doador. Em nota, o órgão, que é vinculado ao Ministério da Saúde, diz que “não há registros de complicações graves durante o procedimento de doação de medula óssea e, até o momento, não há relato de óbitos de doadores no país relacionados a esse procedimento”.

A jovem morreu após colocar um cateter em uma das veias, de onde seria retirado o material para o transplante. Como o procedimento só iria acontecer no dia seguinte, ela foi liberada e voltou ao hotel onde estava hospedada. Mais tarde, sentiu fortes dores e voltou ao hospital, mas não resistiu e morreu de parada cardiorrespiratória.

A estudante de enfermagem, de fato, não chegou a fazer o procedimento da doação de medula. Ela apenas inseriu o cateter venoso central para que, no dia seguinte, fosse acoplada nesse local a máquina que filtraria seu sangue e colheria as células-tronco. Esse procedimento é chamado de aférese. Entenda como funciona a doação e o transplante.

A coleta do material pode ser feita logo após a colocação do cateter ou programada para outro momento, como no caso da jovem. Segundo o médico hematologista Rodrigo Santucci, do Instituto Hemomed, de São Paulo, cada instituição define como será o procedimento.

– No Hospital das Clínicas, [por exemplo,] não se interna porque nunca tem vaga, fazem tudo [no meio] ambulatorial. E se você internar e a pessoa pega uma infecção hospitalar? Então não tem muito certo e errado. Cada serviço faz de um jeito.

Segundo ele, a chance “de acontecer uma intercorrência na coleta é pequena”.

A reportagem conversou com outro médico especialista em transplante de medula, mas ele não quis dar entrevista. O especialista, no entanto, se mostrou preocupado com a repercussão negativa do caso. Ele disse que a doação de medula óssea é um processo seguro e que o caso foi uma fatalidade. Outros médicos foram procurados, mas não quiseram se pronunciar.

Observação constante

De acordo com o Inca, a colocação de cateter central “é um procedimento considerado de baixo risco”. Mas o instituto alerta que, “dependendo das condições anatômicas do paciente [vasos sanguíneos de difícil acesso] e experiência dos profissionais envolvidos, pode determinar complicações infecciosas, sangramentos, lesões vasculares, pneumotórax e hemotórax”.

A nota do Inca diz ainda que essa técnica “deve ser seguida de controle radiológico e observação constante”. No caso da estudante de enfermagem, ela foi para o hotel onde estava hospedada após receber o cateter.

Entenda o caso

A estudante de enfermagem foi ao Hospital de Base de São José do Rio Preto na manhã de segunda-feira para colocar um cateter, por onde seriam retiradas as células-tronco da corrente sanguínea. Como esse procedimento de retirada das células-tronco seria feito somente no dia seguinte, ela foi liberada e voltou ao hotel onde estava hospedada.

Na noite do mesmo dia, ela se sentiu mal e voltou ao hospital. Ainda de acordo com a assessoria de imprensa da instituição, ela sofreu uma parada cardiorrespiratória e morreu.

Segundo a mãe da vítima, a médica foi negligente no atendimento à jovem quando ela começou a passar mal. Segundo a mulher, a médica teria receitado um remédio para náuseas quando recebeu o telefonema de Luana e teria demorado mais de uma hora para chegar ao hospital.

– Ela estava com muita dor, gritava “vou morrer, vou morrer”. Gritava “vou morrer, doutora, meu estômago está ficando duro” e a doutora foi embora. Aí eu vi minha filha morrendo.

A diretoria do hospital informou que uma sindicância foi aberta para apurar os detalhes do atendimento. Será apurado também, segundo a diretoria, se a médica demorou para fazer o atendimento, como alega a família. O hospital tem 30 dias para concluir a investigação interna.

A polícia instaurou um inquérito e deve ouvir familiares e a equipe médica envolvida no procedimento nos próximos dias. Se ficar comprovado que houve negligência ou erro médico, os responsáveis devem responder por homicídio culposo (quando não há intenção de matar).

A jovem era filha única e morava com a mãe em Promissão, interior de São Paulo. Há quatro anos, quando entrou no curso de enfermagem, em Marília, ela passou a fazer parte do Cadastro Nacional de Doadores de Medula Óssea. Segundo os médicos, ela tinha a medula compatível com a de uma menina do Rio de Janeiro e foi chamada ao hospital para fazer a doação.

O Hospital de Base de S. José do Rio Preto realiza há dez anos procedimentos para doação de medula. Nesse período, já foram feitas 400 coletas de células-tronco da medula óssea. O caso da jovem foi o primeiro a registrar complicação que levou à morte.

 

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