Cuiabá amarga o título de cidade com o menor índice de umidade relativa do ar no país. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), os 13% que a Capital atingiu nas últimas horas podem ser considerados como "situação de alerta".
Além de Cuiabá, Goiânia (GO), Campo Grande (MS), na região Centro-Oeste, e Palmas (TO), na região Norte, estão com, respectivamente, 17%, 16% e 18% de umidade relativa do ar.
Segundo dados da OMS, a partir de 30% já pode ser considerado estado de atenção. Abaixo dos 20% é considerado estado de alerta e abaixo dos 12%, estado de emergência. São Paulo e Rio de Janeiro, na região Sudeste, também atingiram níveis baixos. A capital paulista amarga 22% e a carioca 30%. Brasília também tem níveis baixos de umidade relativa do ar, com 30%
Mal à saúde
A temperatura elevada e a baixa umidade relativa do ar, características desta época do ano, já aumentaram, até agora, 15% dos casos de doenças respiratórias em Mato Grosso, de acordo com dados da Secretaria de Estado de Saúde.
Além disso, as queimadas têm reflexo direto no aumento destes casos, já que prejudicam o clima e deixam a cidade com aspecto e sensação desérticas. Tosse seca, cansaço, ardor nos olhos, na garganta e sangramento no nariz estão entre os sintomas mais comuns apresentados pelo cidadão.
Fora esses sintomas, pneumonia, asma, bronquite e gripe figuram no grupo das doenças respiratórias, que somam anualmente R$ 15 milhões em despesas com atendimento médico.
De acordo com o superintendente de Vigilância em Saúde, da Secretaria de Estado de Saúde, Oberdan Lima, as doenças respiratórias têm impacto maior que as endêmicas – caso da dengue – e um gasto superior que câncer e doenças circulatórias juntos, que, juntos, somam R$ 13 milhões.
Para o superintendente, a redução no número de queimadas diminuiria proporcionalmente os gastos anuais com doenças respiratórias.
"O problema é que Mato Grosso está indo, neste ano, no mesmo caminho que trilhou em 2007, quando ostentou o título de estado com o maior número de focos de queimadas", lembrou Oberdan.
Falta de consciência
Para a meteorologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de Brasília, Priscila Monteiro Gonçalves, falta por parte da população a tomada de consciência.
"A maioria dos incêndios é de caráter criminoso, mesmo quando um incêndio é tido como natural, mas foi devido a, por exemplo, um pedaço de vidro no meio do mato. Claro que foi deixado por alguém", observou.
O reflexo da queimada, segundo ela, é no próprio cidadão. "A gente desidrata sem perceber devido ao clima seco, que faz com que nem percebamos o suor", disse Priscila.
De acordo com a meteorologista, a população esquece cuidados básicos, cmo a ingestão de líquidos e hidratação das mucosas, essencial para que a sensação de tontura ou mal estar não aconteça.
"Procurar um médico é sempre o recomendável, mas a principal questão é ambiental. Tem dia que não conseguimos nem ver o céu, devido à queimadas, que agravam ainda mais os problemas respiratórios", reforçou.
Relatórios diários
Para ter controle da necessidade de cada município de Mato Grosso, a Secretaria de Estado de Saúde criou,em 2008,o Programa Qualidade do Ar, que gera, a cada dois dias, o Boletim Vigiar.
Divididos nos níveis de qualidade do ar Boa, Regular, Péssima ou Irregular, o conteúdo do boletim pode ser obtido diariamente no site da Secretaria (www.saude.mt.gov.br/portal/).
De acordo com o resultado desta quinta-feira (18), Cuiabá apresentava qualidade "boa", o que significa não haver riscos à saúde.
Em situação "péssima" estão os municípios de Colíder (650 km ao Norte de Cuiabá) e Peixoto de Azevedo (691 km ao Norte), com sérios riscos de manifestações de doenças respiratórias e cardiovasculares e aumento do número de mortes prematuras em pessoas de grupos sensíveis, como crianças e idosos.
Apesar da situação dos municípios serem variáveis, Oberdan informou que a situação de alerta nesta época é permanente. "Até outubro, é indicado que todo o estado fique de olho nas queimadas e, principalmente, na prevenção delas", disse.
Chuvas
Segundo a previsão do tempo para os próximos dias, feita pelo Inpe, Mato Grosso continuará apresentando temperaturas elevadas.
Cuiabá deve apresentar, para esta semana, uma média de máxima de 36°C e mínima de 17ºC.
A umidade relativa do ar, segundo a meteorologista Priscila Monteiro Gonçalves, também continuará baixa em todo o Estado, apresentando médias de 20%.
Chuvas, que, de acordo com a meteorologista, seriam essenciais para este período, só devem começar a ocorrer, em forma de pancadas rápidas, a partir da segunda quinzena de setembro.