Os usuários do aplicativo de mensagens Whatsappcompartilharão dados com o Facebook. Javier Santos, um programador espanhol especialista em Android, esmiuçou a versão preliminar do WhatsApp que logo se tornará oficial e descobriu a novidade. “Eu me limitei a mexer um pouco na última beta. Eles mesmos a puseram em sua página. No Android sempre há um arquivo no qual são mostradas todas as telas. Encontrei algo diferente das versões anteriores. Era isso, a conexão com o Facebook”, explica Santos, estudante de Engenharia Informática. As versões beta, como são denominadas no argot, servem para que a comunidade mais avançada busque falhas e opine sobre como melhorá-las. Na realidade, costuma ser a antessala do modelo final.
Nem o WhatsApp nem o Facebook entraram em contato com o programador. Tampouco responderam a EL PAÍS sobre essa próxima opção.
Há quase dois anos o Facebook anunciou a compra do WhatsApp por 19 bilhões de dólares (78 bilhões de reais). Não se via uma curva de aquisição de usuários tão pronunciada desde que Mark Zuckerberg criou essa rede social. Esse foi o argumento de compra: prover um serviço que produz uma grande fidelidade. Ao mesmo tempo, custou muito entender que o Facebook não quisesse saber mais de cada um dos perfis, por mais que insistisse em que o aplicativo do polêmico Jan Koum se manteria à margem.
Antes de passar às mãos do Facebook, seu criador, ex-funcionário do Yahoo, proclamou sua rejeição à publicidade como modelo de negócio. Em uma entrevista em maio de 2013 enfatizava essa ideia: “Não queremos ser rede social nem site de jogos nem suporte publicitário”. Uma clara referência ao Facebook e a seu então maior concorrente, o Line.
Na semana passada foi anunciado que o WhatsApp passará a ser grátis para todos os clientes. O aplicativo dará acesso a organizações e empresas para comunicação com os clientes. Em seu blog, justificam: “Ao começar o ano, realizaremos testes com ferramentas que permitam que você se comunique com empresas e organizações que você escolher. Isso pode significar a comunicação com o seu banco sobre uma possível transação fraudulenta ou, talvez, com uma companhia aérea para te informar sobre o atraso de um voo. Sabemos que na atualidade você recebe toda essa informação através de mensagens de texto ou chamadas telefônicas e é por isso que nossas novas ferramentas te ajudarão a realizar tudo isso em um só lugar usando o WhatsApp”.
Algo que, novamente, contrasta com o defendido durante o encontro em sua modesta sede de Mountain View: “Nós queremos que nossos usuários sejam nossos clientes, não que eles sejam o produto com o qual se faz negócio. Assim estamos obrigados a melhorar, escutá-los e manter a qualidade. Sinceramente, acabei ficando bem cheio do mundo dos anúncios em meu trabalho anterior. Não quero saber de nada disso. Achamos que um dólar por ano tanto no iPhone como no Android é um preço justo”.
Um mês depois de passar a fazer parte do império Facebook, Koum saiu em defesa da decisão, proclamando sua independência: “O respeito pela privacidade de vocês está dentro de nosso DNA, e fizemos o WhatsApp como propósito de saber de vocês o menos possível: Vocês não têm de nos dar nem o nome, nem mesmo se pede o email. Não sabemos quando é o seu aniversário. Nem o endereço da sua casa. Não temos ideia de onde você trabalha nem das coisas de que você gosta, o que busca na Internet ou os dados do seu GPS. Nunca pegamos nenhum desses dados nem os armazenamos no WhatsApp. E, de verdade, não pensamos em mudar isso”.
Santos publicou no Google+, a rede social de Google, uma série de imagens que demonstram as intenções do Facebook. Até esta data, o perfil do WhatsApp estava associado a um número de telefone, mas não a um perfil do Facebook nem a uma conta de correio eletrônico. Na controversa novidade, explicam seu uso: “Compartilhar dados de minha conta de WhatsApp com o Facebook para melhorar minha experiência no Facebook”. O WhatsApp está prestes a superar um bilhão de usuários ativos.