Silval diz que infraestrutura de MT não acompanhou desenvolvimento

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O governador Silval Barbosa (PMDB) concedeu entrevista à Agência Brasil e admitiu problemas na infraestrutura de Mato Grosso, explicou sobre o novo modelo de gestão dos hospitais regionais que serão administrados por Organizações Sociais e ainda destacou a superação do estado na questão ambiental.

Confira reportagem da Agência Brasil feita pelo repórter Danilo Macedo


Mato Grosso é um dos estados que mais cresceram economicamente nas últimas décadas. Com sua economia baseada no agronegócio, o estado passou este ano, pela primeira vez, São Paulo no levantamento do valor bruto da produção (VBP). Levando em consideração os preços cobrados no mercado para as 20 principais lavouras brasileiras, a previsão é que os produtores mato-grossenses recebam R$ 33,2 bilhões pela produção da safra atual.

O governador Silval Barbosa avalia, no entanto, que a infraestrutura logística no estado não acompanhou seu desenvolvimento econômico. “As obras do PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] no sentido logístico não andaram ainda”, disse. Barbosa acrescentou que elas atenderão apenas parcialmente as necessidades do estado.

Eleito para o cargo nas últimas eleições, Silval Barbosa, no entanto, está no comando do estado desde o primeiro trimestre de 2010. Como vice-governador, ele substituiu Blairo Maggi que deixou o governo para se candidatar a uma vaga no Senado. Além da economia, o governador falou também à Agência Brasil sobre um novo modelo de gestão dos hospitais regionais, da implantação de escolas que aliam o ensino médio à educação profissionalizante .

Governador de um estado que é referência no mundo pela alta produtividade no cultivo da soja, uma das principais commodities mundiais, Silval aborda o tema da renovação do Código Florestal Brasileiro, em discussão no Congresso. A favor das mudanças, ele considera que Mato Grosso é penalizado pela crítica, mas superou “nesses últimos dez anos todos os problemas que causavam entraves ambientais”, como a produção no bioma amazônico.

Confira a entrevista

Agência Brasil – Quando o senhor se elegeu, disse que uma das principais prioridades seria dar um ritmo acelerado ao PAC. Cerca de 40% do produto interno bruto (PIB) do estado vêm do setor agropecuário, que sofre com a precária logística de transporte do país. Como está a execução das obras do PAC em Mato Grosso? As verbas estão sendo liberadas no momento adequado? As obras previstas contemplam as necessidades do estado?

Silval Barbosa – A logística em Mato Grosso não acompanhou o desenvolvimento da economia, especialmente a agropecuária. A partir disso, o custo dos fretes torna a produção não competitiva, o que nos tem obrigado a trabalhar no sentido da verticalização para agregar valor e diminuir o impacto do frete. As obras do PAC no sentido logístico não andaram ainda. Há expectativa de começarem algumas este ano, como a duplicação do trecho rodoviário entre Rondonópolis e Posto Gil, na BR-364. Em outra vertente, a construção da Ferrovia Centro-Oeste vai abrir cenários muito promissores para a logística central e a região nordeste do estado, com acessos possíveis aos portos de Santarém, de Porto Velho, à Ferrovia Carajás e ao Porto de Itaqui, no Maranhão. Essas obras atenderão parcialmente às demandas do estado.

ABr – Devem ser investidos em Cuiabá mais de R$ 1 bilhão para preparar a cidade para receber jogos da Copa do Mundo de 2014. O governo está tendo dificuldades para seguir o cronograma proposto para a execução das obras?

Barbosa – Desde a aprovação de Cuiabá como uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, os projetos começaram e, em todos os instantes, a Fifa [Federação Internacional de Futebol] nos considerou à frente ou muito bem posicionados nos cronogramas. Isso não mudou. No primeiro semestre de 2011, começarão as obras de mobilidade urbana que atingirão pontos bem definidos e projetados de Cuiabá. Não vemos razão para quaisquer preocupações a respeito dos cronogramas de todas as obras necessárias à realização dos jogos da Copa em Cuiabá

ABr – Em relação à educação, Mato Grosso atingiu a meta estabelecida pelo governo federal para o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) para o ensino fundamental, mas ficou abaixo da meta e da média nacional no ensino médio. Qual a estratégia para melhorar o ensino do estado, que segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) tem taxa de analfabetismo e analfabetismo funcional maior que a média nacional? Foram estabelecidas metas e prazos?

Barbosa – O estado tem a perspectiva de reverter o atual índice nos próximos três anos, com ações como a implantada em 90 escolas, com o Ensino Médio Integrado à Educação Profissionalizante (Emiep), e em mais 15 escolas implantamos o Ensino Médio Inovador, aumentando a carga horária dos profissionais e o currículo escolar. Quanto ao analfabetismo, o estado de Mato Grosso tem investido fortemente em alfabetização de adultos. Segundo dados do último censo populacional, existiam no estado 200 mil analfabetos ou semianalfabetos. Com investimento em educação de jovens e adultos, o estado formou nos últimos anos 80 mil pessoas, caracterizando redução dos índices registrados. No entanto, com a chegada de trabalhadores de outros estados da Federação para atuar na produção agrícola e construção civil, esses índices podem ter sido alterados.

ABr – Uma das prioridades de governo que o senhor reforçou quando eleito foi resolver os problemas de água tratada na capital Cuiabá e na vizinha Várzea Grande, que juntas têm mais de 25% da população do estado. O que tem sido feito para solucioná-los?
Barbosa – O PAC contemplou Cuiabá e Várzea Grande, os dois maiores centros urbanos do estado, com recursos para obras de saneamento e de abastecimento de água. São R$ 574 milhões para as duas cidades. As obras sofreram paralisações sucessivas por causa de questionamentos legais, mas o governo do estado decidiu assumir a condução das obras nas duas cidades.

ABr – Quais são os projetos para melhorar o atendimento e o acesso à rede pública de saúde?

Barbosa – De fato, a questão saúde foi o tema mais relevante durante a campanha eleitoral, com justa razão. Nossa atitude para sanear todos os gargalos está sendo a adoção de organizações sociais com experiência comprovada em gestão de saúde, para conduzir pioneiramente o Hospital Metropolitano em Várzea Grande, região metropolitana de Cuiabá, ainda este ano. Depois, estender o sistema para os demais hospitais regionais.

ABr – Levantamento do Ipea, de 2008, mostra que Mato Grosso teve a segunda menor queda anual na desigualdade de renda entre 1995 e 2008, empatando com o Piauí e atrás de Pernambuco. Quais as políticas públicas que serão adotadas para diminuir a desigualdade social e de renda no estado?

Barbosa – No nosso programa de governo consta uma série muito relevante de projetos e programas nessa direção. Tanto que a nossa filosofia é a de um governo humanista, ou seja, capaz de produzir reais transformações sociais na ponta da sociedade. Um dos pontos mais sensíveis, diz respeito à educação profissional, para garantir qualificação técnica aos jovens. O nosso mercado de trabalho, a cada dia, caminha mais na direção da verticalização da produção primária.

ABr – O estado espera que o governo federal faça a reforma tributária? Mato Grosso ganha ou perde com a guerra fiscal? Há algum projeto no Congresso Nacional de interesse especial do governo de Mato Grosso?

Barbosa – A reforma tributária, se feita sem negociações com os estados federativos, vai prejudicar a maioria e beneficiar alguns. Mas, no contexto geral, não reduzirá as desigualdades regionais, a menos que todas as particularidades fiscais sejam revistas. Até lá, a guerra fiscal é elemento da sobrevivência da maioria dos estados.

ABr – O governo federal anunciou um corte no Orçamento. O estado pode sofrer prejuízos por causa do corte? Como tem sido o relacionamento com o governo da presidenta Dilma Rousseff?

Barbosa – Mato Grosso já reduziu recursos orçamentários para programas de investimento e de custeio, por causa da possível redução de repasses orçamentários da União e das emendas dos parlamentares federais. O nosso relacionamento com a presidenta Dilma Rousseff é de aliados. Temos sido tratados com deferência e com a expectativa de recebermos o tratamento que nosso estado requer pela sua contribuição no equilíbrio da balança de pagamentos do país, e, também, pelo fato de termos sido aliados políticos desde a reeleição do presidente Lula, repetida na eleição da presidenta Dilma.

ABr – Mesmo tendo sido vice-governador e assumido o cargo de governador há um ano, o senhor identificou ou surgiram desafios novos que devem ser priorizados, além dos três que o senhor elencou quando eleito: dar um ritmo acelerado ao PAC, resolver problemas de água tratada em Cuiabá e Várzea Grande e levar ligação asfáltica a todos os municípios?

Barbosa – Os problemas se renovam na medida em que os anteriores estão sendo solucionados. Sem contar que as demandas são crescentes em estados como Mato Grosso, onde o crescimento é muito acelerado. As demandas atropelam o governo e enfrentamos o leque das necessidades surgidas, das necessidades em andamento e da demanda que chega. Nenhum governo é igual ao outro. Nosso projeto na área de infraestrutura rodoviária é ambicioso e inclui, também, ligar todos os municípios por pavimentação à capital. São 41 municípios nessa condição atualmente.

ABr – Para concluir, como o senhor vê as disputas dentro do governo federal e no Congresso em relação às mudanças no Código Florestal Brasileiro? Como governador de um dos maiores produtores de alimentos do país, com destaque internacional, qual é sua a posição sobre o assunto? O estado é capaz de desenvolver uma agropecuária sustentável protegendo o meio ambiente? O que a renovação do código muda para os produtores mato-grossenses?

Barbosa – Mato Grosso tem sido penalizado por severas críticas quanto à questão ambiental. Corrigimos todos os gargalos como, por exemplo, a produção pecuária e agrícola em área amazônica. Consolidamos uma política ambiental estadual que, além de moderna, é rigidamente fiscalizada. Conseguimos reverter com muita eficiência todos aqueles cenários críticos de dez anos atrás. O novo Código Florestal é bem-vindo e necessário para disciplinar uma série de questões que vão do setor florestal aos setores produtivos do agronegócio. Mato Grosso produz grãos e fibras numa área de 6,8 milhões de hectares e tem um rebanho de 28 milhões de bovinos numa área de 29 milhões de hectares. Neste momento, caminha muito forte uma onda de integração entre a produção de grãos e a pecuária, com expansão sobre as áreas de pastagens degradadas. Não vejo nenhuma contradição entre as regras mais rígidas sobre a produtividade sustentável e as nossas políticas ambientais. Mato Grosso superou nesses últimos dez anos todas os problemas que causavam entraves ambientais.

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