Setor de cana pode crescer menos e com mais qualidade

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Com previsão de safra recorde para este ano, a produção de cana-de-açúcar no Brasil precisa de mais sustentabilidade, afirmam usineiros. Para eles, o setor, que tem apresentado nos últimos anos um crescimento elevado da safra colhida, precisa se preocupar agora com a melhoria da remuneração do produto.

"Nos últimos três anos, o crescimento não tem sido sustentável. Crescemos 13% ao ano e isso trouxe uma série de dificuldades, como a remuneração inadequada. Regredindo a um crescimento de 7%, 8% (como o registrado em 2009), podemos ter um crescimento sustentável a partir de agora", destaca João Carlos Moraes Toledo, presidente da União dos Produtores de Bioenergia (Udop).

Em 2009, houve alta de 7% na quantidade de cana colhida. Para a safra 2010/2011, a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima alta de 10% em relação ao ano anterior, conforme dados divulgados na quinta-feira (29).

De acordo com o diretor técnico da União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única), Antônio de Pádua Rodrigues, o crescimento de 7% na última safra foi, na prática, menor. "Colhemos mais cana, mas em qualidade o crescimento foi zero. As chuvas reduziram a qualidade. A cana esmagada era de baixo teor. (…) Perdemos 8 quilos de açúcar por tonelada de cana esmagada", diz.

Rodrigues afirmou que a alta dos últimos anos ocorreu devido ao "boom" de investimentos. "Foram abertas 103 usinas entre 2005 e 2009", destaca. "Isso traz pontualmente excesso de ofertas e, consequentemente, depreciação dos preços", diz, explicando que, com o maior número de indústrias, sobrou produto e o preço foi reduzido.

Para o diretor da Única, a solução não passa por controlar a produção, mas sim estimular uma remuneração melhor do produto. "Temos que criar um mercado externo forte para que seja regulador do mercado interno. Não podemos só ter boa remuneração quando falta oferta. Falta uma estrutura reguladora de precificação, existência de bolsa de mercado futuro", destacou Antônio de Pádua Rodrigues.

O diretor da união das indústrias também destaca que nos próximos anos o crescimento do setor deve começar a recuar. Isso porque, explicou, os efeitos da crise financeira internacional começarão a ser sentidos. "A cana é uma cultura que leva alguns anos depois que planta para colher. Se deixa de plantar agora, em quatro anos não terá produto."

Produtores
Em relação à produção da cana, as usinas acreditam que os produtores e prestadores de serviço têm a tecnologia adequada para uma boa produtividade. Os produtores reclamam, porém, que falta crédito para a área.

Durante a feira agrícola Agrishow, em Ribeirão Preto, durante a última semana, o G1 conversou com alguns empresários do ramo.

Os sócios João Roberto Bessa e Flávio Antonio de Oliveira, de Serrana, no interior de São Paulo, reclamaram da falta de incentivo ao prestador de serviço, uma vez que o produtor têm a disposição créditos específicos.

"O prestador de serviço ao comprar máquina não consegue desconto nenhum, tem que pagar o financiamento com juros mais altos", destaca Bessa. Ele afirmou que, enquanto um pequeno produtor pega empréstimo com juro de 4,5% ao ano, eles obtém recursos com a taxa de 8% ao mês.

Oliveira destacou que, assim como os produtores, os prestadores de serviços também geram emprego e renda e deveriam ser beneficiados. "Temos oito tratores trabalhando e 28 funcionários registrados, tudo em ordem. Pagamos nossos impostos. Mas não temos ajuda."

Produtor de cana, o empresário Carlos Tessari Habermann também reivindicou melhorias para o crédito rural: "Queremos que o Pró-Trator (programa do governo de São Paulo) seja ampliado para implementos, não fique só nos tratores", destacou.

Habermann afirmou ao G1 que no ano passado, a dificuldade foi receber em dia das usinas. "Na cana-de-açúcar até que 2009 foi razoável. Algumas usinas tiveram problemas com câmbio, dólar, e isso afetou a cadeia. (…) A gente espera que as usinas fiquem sadias e com saúde financeira."

A União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única) afirmou que a falta de pagamento ocorreu de forma isolada e que não se trata de um retrato do setor.

Melhorias
O pesquisador Décio Gazzoni, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), ligada ao Ministério da Agricultura, afirmou que não falta tecnologia para a produção de cana de açúcar. Segundo Gazzoni, o grande problema do setor é o clima – apontado pelo governo como um dos fatores positivos para assegurar um crescimento de 10% na safra 2010/2011.

"O que prejudica é o excesso ou falta de chuva. Em relação ao excesso, não se tem muito o que fazer. Sobre a falta, a Embrapa diz que está em fase de criação de uma variedade de cana que tolera períodos sem chuva. Em cinco anos, devemos ter variedades comerciais à disposição", destacou Gazzoni.

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