Pesquisadores do Instituto do Coração (Incor-USP) propõem que a apneia do sono (obstrução das vias respiratórias durante o sono) seja considerada mais um componente da síndrome metabólica – condição associada a um risco elevado de doenças cardiovasculares. Os cientistas descobriram que a maior parte das pessoas com a síndrome tem apneia, apesar de não suspeitar. A presença da doença poderia aumentar ainda mais o risco de AVCs (Acidentes Vasculares Cerebrais) e enfartes nesses pacientes.
A apneia do sono se caracteriza por paradas respiratórias durante a noite. A gravidade da doença é de moderada a grave quando se registram mais de 15 interrupções em uma mesma noite.
A síndrome metabólica reúne pelo menos três das seguintes condições: obesidade, pressão alta, diminuição do colesterol bom, aumento dos triglicérides e resistência à insulina. A apneia ajudaria a compor o quadro da síndrome, segundo os estudiosos.
O trabalho examinou 152 pacientes com síndrome metabólica por 14 meses. Todos foram submetidos ao exame do sono por meio da polissonografia, mesmo quando não havia sintomas que recomendassem o exame. A conclusão: 92 deles (cerca de 60,5%) também sofriam de apneia enquanto dormiam. A maioria desconhecia o problema.
Segundo Geraldo Lorenzi Filho, coordenador da pesquisa, 30% da população brasileira sofre de diferentes graus de apneia, ou seja, metade dos pontos porcentuais observados nos pacientes estudados.
O estudo também sugere que a apneia do sono não é só um coadjuvante. Ela agrava o quadro geral. Os pesquisadores analisaram, no sangue de cada paciente, a presença de substâncias associadas à síndrome metabólica – triglicérides e açúcar – e a marcadores inflamatórios que aumentam o risco cardiovascular.
Nas pessoas com apneia, os níveis dessas substâncias eram maiores que nos pacientes com síndrome metabólica. O resultado dá força à tese de que pacientes com apneia podem correr um risco maior de complicações cardiovasculares, como AVC e enfarte.