A transmissão da covid-19 segue a mesma sazonalidade de
outras doenças respiratórias, como H1N1 e gripe Influenza. Com isso, o Brasil e
o Hemisfério Sul devem passar por uma diminuição de casos a partir de outubro,
com a aproximação do verão, enquanto o hemisfério norte vê o aumento nos
registros, com a chegada do inverno.
A análise está no estudo Detecção Precoce da Sazonalidade e
Predição de Segundas Ondas na Pandemia da Covid-19, coordenado pelo professor
Márcio Watanabe, do Departamento de Estatística da Universidade Federal
Fluminense (UFF).
“A sazonalidade de doenças significa que existe um padrão
anual onde há um momento do ano em que a doença tem uma transmissão maior. No
caso das doenças de transmissão respiratória, geralmente elas apresentam uma
sazonalidade típica do período de outono e inverno, ou seja, elas têm uma
transmissão maior e, portanto, uma quantidade maior de pessoas infectadas nos
meses de outono e inverno”, explica Watanabe.
Para ele, geralmente a sazonalidade de uma doença só é
detectada após alguns anos de incidência, com o acúmulo das séries de dados ao
longo de vários anos mostrando as taxas de contágio e internação, como no caso
do Sistema InfoGripe do Brasil, que reúne dados sobre as internações e
mortes por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG).
Porém, com a covid-19 foi possível verificar os picos em
menos de um ano em razão da quantidade de informação produzida por todos os
países durante a atual pandemia. Com isso, o professor diz que se comprovou a
repetição da sazonalidade verificada na pandemia de H1N1 em 2009.
“Isso acontece no mundo inteiro, mas como as estações do ano
são invertidas entre o Hemisfério Norte e o Hemisfério Sul, os meses [da
sazonalidade] também se invertem. Aqui no Brasil e no Hemisfério Sul, o padrão
se estende dos meses de abril até julho. No Hemisfério Norte você tem um padrão
da doença aparecendo de setembro-outubro até janeiro-fevereiro. Isso vale para
praticamente todas as doenças respiratórias”, afirma.
Segunda onda
Segundo o professor Watanabe, os modelos matemáticos mostram
que a segunda onda no Hemisfério Norte será muito mais forte do que a primeira.
“A tendência é que essa segunda onda na Europa e na Ásia
será maior para muitos países do que a primeira onda, porque o período de
transmissão lá é de setembro até março e a primeira onda lá começou no final de
fevereiro, já no final do período sazonal. E aí ela foi interrompida. Era para
ser uma onda grande como no Brasil, mas foi interrompida logo no comecinho, com
o efeito da sazonalidade, com um mês e meio. Aí a transmissão caiu muito e essa
primeira onda ficou pela metade, por assim dizer”.
Os gráficos do Observatório Fluminense Covid-19 mostram
a curva de contágio em ascensão em países como Índia, Rússia, Reino Unido,
Itália, Espanha e França, sendo que nesses dois últimos o número de casos
atualmente já ultrapassa o pico alcançado em abril.
No Brasil e no hemisfério sul, por outro lado, o pesquisador
aponta que, se houver uma nova onda, ela será a partir da metade de março de
2021 e terá menor intensidade.
“São vários fatores. Provavelmente, lá para abril a gente já
tenha uma vacina disponível e tendo uma vacina provavelmente nós não vamos ter
uma segunda onda. E caso o país tenha uma segunda [onda], ela com certeza vai
ser menor do que essa primeira onda, porque a gente já teve um surto muito
grande no país, que durou desde março até agora, com um número significativo de
casos, então a tendência é que a próxima onda seja menor do que essa primeira”,
diz.
O Boletim InfoGripe, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
comprova que a tendência de queda nos casos de covid-19 permanece na segunda
semana de setembro. Porém, os valores semanais ainda estão muito acima do nível
de casos considerado muito alto e 97,5% dos casos e 99,3% dos óbitos em que há
comprovação do vírus causador da SRAG (Síndrome Respiratória Aguda), são em
consequência do novo coronavírus.
Watanabe destaca que as medidas de restrição da mobilidade e
isolamento social são fatores muito importantes na dinâmica da pandemia de
covid-19 e, se por um lado a sazonalidade favorece a diminuição de casos a
partir de agora, por outro o afrouxamento das medidas pode elevar o contágio.
“A sazonalidade ajuda a reduzir a transmissão, mas se
afrouxa as medidas restritivas, vai ter uma força puxando para cima e outra
puxando para baixo. Então, é importante que as as medidas sejam tomadas com
planejamento e responsabilidade”, finaliza.
Agência Brasil