População vai para calçadas apoiar manifestantes que pararam centro de Cuiabá

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Por cerca de 2h, Cuiabá, pelo menos na região central, parou na tarde desta quarta-feira . Vendedores, gerentes e lojistas, bem como moradores e pessoas que trabalham em escritórios pararam para observar de perto. Já os motoristas de carros de passeios e ônibus pisaram no freio para observar, e principalmente, abrir espaço para uma multidão que literalmente, ganhou as ruas. A vendedora Dinalva Souza Costa, 51, foi para a porta da loja onde trabalha na Avenida Getúlio Vargas, a poucos metros da prefeitura de Cuiabá e do seu jeito, apenas prestigiando e apoiando a iniciativa organizada pelas redes sociais, participou do ato por melhorias no transporte público e no passe livre estudantil. “Acho que estão certos, desde que seja de forma decente”, disse ela.

Questionada sobre o que seria de “forma decente”, ela respondeu: “Um protesto sem violência e sem vandalismo”. E foi exatamente isso que aconteceu. Durante as 2 horas de caminhada que começou na Praça Alencastro, em frente à prefeitura de Cuiabá, subiu pela avenida Getúlio Vargas até a Praça Popular e retornou descendo pela Avenida Isaac Póvoas até atingir o centro da Cuiabá ganhando a Prainha, não foi registrado qualquer incidente por parte dos manifestantes e nem dos policiais militares e agentes de trânsito que controlavam o fluxo parando motoristas em todas esquinas que davam acesso às avenidas por onde os manifestantes passavam. De acordo com a Polícia Militar, cerca de 4 mil pessoas participaram do ato que finalizou com uma grande concentração no mesmo local de partida: a Praça Alencastro.

Otmar de Oliveira

Gerente de uma sorveteria na Isaac Póvoas, Lilia Kubo, 40, também não resistiu e foi para a calçada para ver de perto, aquele movimento atípico que tomava conta de uma das avenidas mais movimentadas de Cuiabá. Não que ela não estivesse acostumada com movimento e tráfego intenso, afinal trabalha há um bom tempo no estabelecimento comercial situado nos dos “points mais badalados da cidade”. A novidade é que não eram carros ou motos que ganhavam espaço no asfalto, e sim pessoas em sua grande parte estudantes ainda uniformizados que carregavam faixas, cartazes, uniformes e muitos deles com parte dos rostos pintados. “Trabalho aqui há 6 anos e é a primeira vez que vejo isso” revela Lilia. Ela disse que acha justo o movimento que cobra por melhorias no transporte público e redução das tarifas abusivas, além da retirada de determinadas “regras” que regem o benefício do passe livre para os estudantes. “ Acho justo porque cada um tem direito de reclamar e exigir benfeitorias que contemplarão a todos”, justificou ela.

Assim como Dinalva e Lilia, centenas de pessoa saíram para as calçadas para acompanhar, fazer fotos e filmar o momento histórico vivenciado pelos cuiabanos nesta tarde. Histórico porque, a manifestação foi considerada uma das maiores já realizadas que começou e terminou de forma pacífica, ao contrários de outras grandes capitas brasileiras onde, as manifestações ficaram e continuam sendo marcadas por protestos, quebra-quebra, confronto com policiais e pessoas presas.

Chico Ferreira

“Hoje é dia de andar na rua e não na calçada” gritavam ao microfone conectado a um carro de som que puxava a multidão, os organizadores do ato que estavam à frente da multidão, ajudando a controlar os jovens e pedindo calma a todo momento. O movimento começou com cerca de 500 pessoas na Praça Alencastro e ao subir pela Getúlio Vargas foi ganhando novos “seguidores”. Os convites eram feitos a todo momento, mas claro, em forma de protesto, desafiando outras pessoas a participarem da caminhada. “Você ai parado também está sendo roubado”. Não adianta vocês ficarem nas ruas porque os ônibus não vão passar agora”. Vem pra rua vem, contra o aumento vem”. “Pula sai do chão contra o aumento do busão”. “O povo unido jamais será vencido”. “Amanhã vai ser maior”. Essas foram apenas algumas das palavras de ordem e frases ensaiadas que a todo momento eram entoadas pela multidão.

O prefeito Mauro Mendes também foi citado diversas vezes. Logo na concentração em frente o Palácio Alencastro, sede da prefeitura, os estudantes já gritavam em coro: “Ô Mauro Mendes cadê você eu vim aqui só pra te ver”. Frases como “dez centavos é muito pouco”, “o dinheiro do meu pai não é capim, eu quero passe livre sim, “mãos ao alto que a tarifa é um assalto”, também eram entoadas a todo momento.

Organizadores

Chico Ferreira

A universitária Viviane Gomes, 29, uma dos vários organizadoras do protesto, seguia na frente gritando ao microfone e orientando os “seguidores”. Ela pontuou que os jovens já estão na rua faz tempo, mas agora foi diferente. “Agora conseguimos unificar as pautas, justamente durante a Copa das Confederações para ganharmos visibilidade”, disse. Também envolvido na organização, o presidente da União Estadual dos Estudantes, em Mato Grosso, Fabrício Paz, também revezava no microfone. Ele disse que o movimento é legítimo e a causa é justa. “As entidades, a Une, os presidentes de bairros estão todos juntos com a gente. Os estudantes devem ir pra rua porque só assim as mudanças acontecem. No Brasil não há mudanças sem o povo ir para as ruas”, enfatizou.

Polícia e segurança

Otmar de Oliveira

Pelo menos 15 viaturas da Polícia Militar e uma van da Secretaria Estadual de Trânsito e Transportes Urbanos acompanharam os manifestantes do começo ao fim. Aproximadamente 50 policiais militares também marcaram presença. Parte deles seguia dentro dos veículos e outros caminhavam pelas calçadas, ao lado dos manifestantes, à frente do movimento e também na retaguarda da passeata. Tudo correu bem, sem registro de qualquer incidente. O capitão PM Paulo Cézar Vieira Melo, do 1º Batalhão era um dos oficiais que estavam no comendo da ação. Ele contou que a orientação era manter a lei. Ele disse que o manifesto é democrático e a Polícia Militar tem o dever de prestar a segurança para todas as pessoas envolvidas. Ressaltou porém, que se houvesse algum “problema pontual”, eles iriam agir para manter a ordem. Mas isso não aconteceu.

Pelo menos 35 agentes de trânsito, os populares amarelinhos também estavam em campo ajudando a garantir a segurança. Eles eram responsáveis por ajudar os PMs a bloquear o tráfego de veículos na avenida onde os manifestantes passavam e também impedir a passagem de carros nas ruas paralelas com acesso às avenidas com os estudantes. O único tumulto, segundo o agente Nicolau Jorge foram em alguns pontos de ônibus e consistiu em aglomeração de pessoas que aguardavam os coletivos que também estavam parados nas filas de veículos aguardando os manifestantes passarem. “Mas em questão de 20 ou 30 minutos, tudo voltava ao normal, pois com o trânsito liberado, os usuários conseguiam embarcar nos ônibus. Tudo correu bem, segundo o agente.

Ao final da caminhada, os manifestantes se concentram novamente a Praça Alencastro e convidavam a todos para o novo protesto marcado para às 17h desta quinta-feira (20). Desta vez, o protesto será contra a corrupção em todas as esferas de governo, municipal, estadual e federal. A articulação e convites para novos participantes segue pelo Facebook. A meta é levar para as ruas um número bem maior de pessoas do que o registrado nesta quarta-feira.

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