O delegado Márcio Pieroni, preso na última segunda-feira (9), após ser acusado de fraude processual no caso que investiga o assassinato do juiz Leopoldino do Amaral, passará a responder um processo administrativo disciplinar na Corregedoria da Polícia Civil de Mato Grosso. A informação foi confirmada aoMidiaNews pelo corregedor-geral, delegado Gilmar Dias Carneiro.
Márcio Pieroni é suspeito de participar de uma suposta armação que sustentaria a tese de que o juiz estaria vivo e morando na Argentina, para beneficiar o empresário Josino Pereira Guimarães, apontado como principal acusado de ser o mandante do crime. O empresário também foi preso pela Polícia Federal.
De acordo com o corregedor, até então havia uma investigação preliminar contra Pieroni, mas que, a partir de agora, será transformada em processo. Ele destacou que aguarda as informações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, que denunciou o delegado por vários crimes.
São eles: formação de quadrilha armada, denunciação caluniosa, falsidade ideológica, fraude processual, interceptação telefônica para fins não autorizados em lei, quebra de sigilo funcional e violação de sepultura.
Caso as investigações comprovem os crimes imputados pelo MPF ao delegado Pieroni, ele pode ser punido administrativamente com penalidades que variam desde uma simples advertência à demissão dos quadros da Polícia Civil.
Investigação paralela
Para iniciar uma investigação paralela, Pieroni relatou ao Juizado Criminal de Cuiabá, a existência de um falso crime de ameaça com objetivo de levantar dúvidas sobre a morte do juiz.
De acordo com a Polícia Civil, Abadia e sua ex-esposa, Luziane Pedrosa da Silva, estariam recebendo ameaças de José Roberto Padilha, para não revelar que o juiz estaria vivo e morando em outro país.
Segundo as informações, a ligação de Abadia com o caso se deve a uma suposta conversa de bar que ele teve com José Roberto Padilha da Silva, na qual este lhe revelou que Leopoldino, o magistrado que há mais de dez anos já tentava denunciar a compra e venda de sentenças no Judiciário mato-grossense, estava vivo.
Intimada para prestar depoimento ao delegado Márcio Pieroni, da Delegacia de Homicídios, Luziane confirmou que o magistrado está vivo. A partir daí, o delegado retomou as investigações sobre o caso.
Segundo o MPF, nesta investigação, depoimentos foram falsificados, realizaram-se interceptações telefônicas cujos diálogos foram orientados pelos réus, produziram-se laudos periciais por dentistas particulares para legitimar a fraude.
Um dos dentistas, nomeado por Pieroni para este fim, que realizou exame de arcada dentária recebeu do irmão de Josino R$ 2,5 mil pelo laudo, conforme confessado pelo próprio dentista, o qual entregou o comprovante de depósito ao MPF.
De posse desses depoimentos e laudos, Pieroni, em conluio com os demais réus, conseguiu na Justiça Estadual autorização para exumação dos restos mortais de Leopoldino, com o objetivo de obter novo laudo odontolegista que colocasse em dúvida que o corpo enterrado não seria do juiz.
A farsa não obteve êxito graças à rápida intervenção dos Ministérios Público Estadual e Federal, que no mesmo dia da exumação obtiveram ordem judicial da Justiça Federal, para que todo o trabalho fosse interrompido.