O futebol brasileiro é regido por interesses.
Nada acontece por acaso, de graça.
Ainda mais com pessoas bem preparadas.
Ou que se iludem acreditando ser mais espertas do que outras.
Este foi o caso da entrevista de Mano Menezes à rádio Bandeirantes.
A tentação é cair no truque simplista e maniqueista.
O técnico resolveu sair do bunker e falar.
Não é assim.
O importante para o torcedor é usar o cérebro de um jornalista.
Pensar nos motivos que fizeram Mano falar.
E justo agora, ao perder a tutela de Ricardo Teixeira.
Quando assumiu a Seleção em julho de 2010, o treinador fez uma excursão.
Falou aos veículos que lhe convinha.
Por uma vez.
Depois de agarrou na TV Globo e na Sportv.
Nas emissoras cariocas se sentia à vontade.
Até porque sempre foram parceiras de Ricardo Teixeira.
O gaúcho acreditou que estava protegido.
Não precisava dos demais veículos de comunicação.
Abria exceção para rádios gaúchas, onde também se sentia em casa.
Fazia a política de quintal.
O resto, não importava.
Estava soberano no cargo.
A ciranda era a seguinte: Teixeira protege Andres que protege Mano.
Eram trigêmeos unidos pela alma, pelo caráter.
Mano é o maior campeão da história do Brasil, isso não pode ser esquecido.
Ninguém ganhou tanto a Segunda Divisão.
Com Grêmio e Corinthians.
Além disso, tem dois estaduais e uma Copa do Brasil.
Com um currículo tão pífio, ele tem de se agarrar à amizade com Andres para treinar a Seleção.
Só que tudo virou de pernas para o ar com o exílio de Ricardo Teixeira.
Assumiu José Maria Marin.
O novo presidente da CBF detesta Andres.
Quer Raí no seu lugar.
Não pode demitir o ex-presidente corintiano por promessa feita a Teixeira.
Mas um fracasso na Olimpíada será a desculpa perfeita.
Mano não é bobo.
Ele e seu empresário Carlos Leite traçaram a sua carreira.
De maneira fria, calculista, eles planejam como dar cada passo.
E Mano começou a agir.
Como se Andres não existisse.
Assim como Ronaldo não titubeou em afirmar querer a CBF e atropelou o tutor corintiano…
O técnico da Seleção começou a se virar.
Não foi por acaso que saiu da toca e foi ao Morumbi no domingo passado.
Foi acompanhar São Paulo e Santos.
Buscou a aproximação do clube de José Maria Marin.
E, afoito, arrumou uma maneira de falar com o público paulista.
Mano percebeu que a Globo era aliada de Teixeira.
O ex-governador biônico Marin tem um enorme trânsito na Bandeirantes.
E não é que Mano resolve gastar 43 minutos de sua preciosa carreira falando à rádio?
Nada é por acaso com o treinador ameaçado.
Treinado pela filha jornalista, ele é um especialista em enrolar.
Não se comprometer.
Não tem convicção de nada.
Está sem rumo.
A análise fica clara nas palavras, não na pose.
Parece estadista ameaçado de impeachement.
Usa até truque de fonoaudióloga.
Não responde nada antes de dar uma profunda inspirada 'para oxigenar o cérebro'.
Não há convicção, plano de trabalho.
Foram 82 convocações e até hoje não conseguiu formar uma base.
Primeiro disse que talvez não precisaria chamar jogadore com mais de 23 anos para a Olimpíada.
'Talvez' é a palavra predileta do inseguro Mano.
Sua certeza se adapta de acordo com a realidade.
Hoje, tudo mudou.
Até já sabe quem serão os três.
Primeiro recomendou a Europa a Neymar.
Foi humilhado pelo presidente Luís Álvaro.
O dirigente recomendou que ele fosse para o continente europeu fazer um estágio.
E descobrir porque as seleções de lá são tão melhores do que a brasileira.
Sem graça e não querendo briga, Mano colocou a culpa no jornalista que o entrevistou.
Pergunta sobre Neymar repetida no ar e volta a velha insegurança.
Seria ótimo para o torcedor santista que ele ficasse.
Mas para o jogador seria boa a experiência da Europa.
Mano resolveu agradar a tudo e a todos com a queda de Teixeira.
O treinador ficou ainda mais sem graça ao ouvir a pergunta sobre Robinho.
A coincidência de que depois que ele brigou com a Nike deixou de ser convocado.
Ficou revoltado, negou.
E disse que seria a última vez que falaria sobre o assunto.
Mas deixou escapar que ninguém acredita na liberdade das suas convocações.
Revelou que um taxista perguntou se a Nike influenciava nas chamadas.
Assim como se o presidente da CBF interferia.
Lógico que o treinador negou.
Mas ele revelou apenas a descrença generalizada que o acompanha.
Tão treinado, o técnico escancarou a dúvida dos brasileiros.
Se é apenas um funcionário obedecendo ordens até na convocação.
Assim estaria explicada a insistência com Ronaldinho Gaúcho nos amistosos internacionais.
Por coincidência, é claro, quando os promotores precisam de uma estrela para os cartazes do jogo.
E para o mundo, Ronaldinho ainda é um nome de destaque.
A entrevista foi pífia, rasa.
Pelas respostas.
Mano a manteve sob controle o tempo todo.
A sua missão era falar para os paulistas.
Atingir o berço de José Maria Marin.
O importante era o som da sua voz.
Não as respostas.
O laço com a Globo continua.
Mas o momento delicado exige novos aliados.
A Bandeirantes da família Saad é fundamental para equilibrar o eixo.
Mano, Andres e Carlos Leite fizeram o que quiseram com o Corinthians.
Agora tentam fazer o mesmo na Seleção.
Luiz Antônio Venker Menezes é um sobrevivente.
Sabe que deve a sua vida esportiva a dois pênaltis perdidos pelo Náutico.
Se o Grêmio tivesse perdido a Batalha dos Aflitos, ele seria demitido.
Mas venceu.
Mano ganhou o seu primeiro título na Segunda Divisão, sua especialidade.
E o mundo se abriu para ele.
Nunca um treinador com currículo tão pífio e inseguro chegou ao comando da Seleção.
E ele não quer perdê-lo.
Mesmo com os resultados vergonhosos até agora.
Sem Ricardo Teixeira, ele trata de fazer o que pode.
Portanto, antes de pensar o que Mano Menezes falou na entrevista…
É obrigatório pensar o motivo o que o fez falar agora.
E para quem.
Mano não é tão astuto quanto gosta de pensar.
Muito menos está cercado por ingênuos.
É um técnico fraco, inexperiente, sem rumo e inseguro.
Terrível é pensar que o futebol brasileiro está nessas mãos.
Mãos tão trêmulas…
(Mano está mesmo por baixo…
A sua patrocinadora, a Kaiser, tomou uma decisão.
As campanhas usando o treinador sumiram da televisão.
O motivo?
Estavam sendo prejudiciais à marca.
Assim como na CBF…
A rejeição a Mano chegou aos botecos.
Aí não há entrevista que possa consertar…)