Acusações feitas pelo jornalista americano Seymour Hersh de que os Estados Unidos teriam mentido sobre a operação que matou Osama Bin Laden, líder do grupo extremista Al-Qaeda, há quatro anos, geraram forte reação da Casa Branca e da imprensa do país, que apontaram inconsistências em seu relato.
Ganhador do Pulitzer de 1970, o mais importante prêmio jornalístico dos Estados Unidos, Hersh afirma que a morte de Bin Laden não foi alvo de uma operação arriscada e secreta, mas da cooperação entre militares americanos e paquistaneses.
“A história contada pela Casa Branca poderia ter sido escrita por Lewis Carroll”, escreveu Hersh em artigo publicado no periódico London Review of Books, em referência ao autor de Alice no País das Maravilhas (1865).
Na versão de Hersh, o líder terrorista não teria sido encontrado depois de uma série de interrogatórios e investigações envolvendo seu mensageiro, mas com a ajuda do Paquistão, que o o estaria mantendo sob sua custódia há cinco anos com a ajuda financeira da Arábia Saudita em um complexo na cidade de Abbottabad, no norte do Paquistão.
O ataque teria sido autorizado por oficiais paquistaneses de alto escalão depois que os Estados Unidos descobriram onde Bin Laden estava por meio de uma fonte na Inteligência do Paquistão.
Um acordo teria sido fechado para que os americanos operassem na área para confirmar por meio de amostras de DNA que se tratava de fato de Bin Laden. As únicos balas disparadas naquela noite teriam sido as que mataram o ex-líder da Al-Qaeda. Assim, segundo a versão de Hersh, ele teria sido assassinato friamente em vez de ter sido atingido em meio à invasão do local onde se encontrava.
Em troca, os Estados Unidos apoiariam financeiramente os serviços de Inteligência paquistaneses. Como parte deste acordo, os Estados Unidos adiariam o anúncio da morte de Bin Laden por uma semana e diriam que ele teria sido morto por um ataque com drone no Afeganistão.
No entanto, Obama teria descumprido esta última parte depois de saber que um dos helicópteros americanos caiu, o que teria feito a Casa Branca temer que a história viesse a público de qualquer forma.
Reação
O governo americano reagiu às acusações de Hersh afirmando que “a ideia de que a operação que matou Osama Bin Laden não foi uma missão unilateral dos Estados Unidos é falsa”, acrescentando que a versão está repleta de “imprecisões e afirmações sem fundamentos”.
Membros da imprensa americana também questionaram a teoria, especialmente Max Fischer, do site Vox, e Peter Bergen, da emissora CNN. A críticas se resumem aos seguintes pontos:
Fontes frágeis: grande parte do artigo de Hersh é baseado em alegações feitas de forma anônima, por integrantes dos órgãos de Inteligência militar dos Estados Unidos e do Paquistão, nenhum dos quais esteve envolvido diretamente na operação. A única fonte que teve seu nome citado, Asad Durrani, serviu nas Forças Armadas paquistanesas há mais de duas décadas. Ele diz que seus “ex-colegas” confirmam a versão de Hersh. Durrani foi contatado posteriormente por Bergen, da CNN, e disse apenas que a teoria elaborada pelo jornalista é “plausível”.
Contradições: Hersh deixou de lado o fato que dois integrantes do esquadrão de elite da Marinha americana – o Seals – envolvidos no ataque trouxeram a público detalhes da operação que contradizem diretamente sua versão. Bergen, que visitou a casa onde Bin Laden foi morto, afirma haver clara evidência de troca de tiros no local, que “estava destruído, com vidros quebrados e com marcas de saraivadas de balas” nas paredes.
Conclusões não-realistas: Por que os sauditas apoiariam Bin Laden, um homem que queria derrubar seu monarca? Por que as relações entre americanos e paquistaneses se deterioram se um acordo feito entre os países previa um subsequente apoio por parte dos Estados Unidos?
Hersh, que ganhou o Pulitzer em 1970 ao revelar o massacre de civis vietnamitas por soldados americanos no vilarejo de My Lai, ainda foi acusado por Fischer, da Vox, de trazer à tona cada vez mais denúncias baseadas em evidências frágeis.
Nos últimos três anos, por exemplo, Hersh assinou reportagens em que o governo do ex-presidente americano George W. Bush foi acusado de treinar militantes iranianos em Nevada e que afirmavam que a Turquia estava por trás de ataques com armas químicas na Síria.
“Talvez de fato exista um vasto mundo sombrio e diabólico de conspirações, executadas de forma brilhante por uma rede internacional de mentes governamentais”, escreve Fischer.
“E talvez só Hersh e seu punhado de ex-oficiais militares anônimos estejam enxergando este mundo e seus segredos aterrorizantes. Ou talvez haja uma explicação mais simples”.
‘Contra a correnteza’
Ao mesmo tempo, a versão de Hersh foi celebradas por alguns comentaristas americanos conservadores, que antes haviam se irritado com o jornalista por ele ter feito acusações contra o governo Bush.
“Quando Seymour Hersh fabrica maluquices contra Obama, ele deixa de ser um sábio para virar um excêntrico”, disse John Nolte, da rede de notícias Breitbart. “Quando era contra Bush, ele era Deus para a mídia.”
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Em uma entrevista veiculada na TV nesta segunda-feira, Hersh tentou virar a mesa, ao dizer que a versão do governo americano é que inacreditável.
“Vinte e quatro ou 25 homens vão para o meio do Paquistão e matam um cara sem apoio aéreo, sem proteção, sem segurança, sem obstáculos – você está brincando comigo?”, ele disse.
“Veja bem, desculpe-me se (minha teoria) vai contra a correnteza, mas venho fazendo isso minha vida inteira, e tudo que posso dizer é que entendo as consequências disso.”