Negros vencem barreiras, mas a luta não acabou

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A Gazeta


Com o passar dos anos a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) está ganhando cor, tanto pelos alunos quanto pelos professores que ingressam na instituição. A avaliação é da coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas sobre Relações Raciais e Educação (Nepre), ligado ao Instituto de Educação, professora Maria Lúcia Rodrigues Muller, uma das fundadoras do núcleo há 15 anos.

Marcus Vaillant

Penteado trabalha autoestima e valorização cultural.

Os alunos Luís Guilherme Rocha, 21, de Filosofia, e Claudenilde dos Santos, 21, de Psicologia, são exemplos do aumento de negros nas salas de aula da UFMT. Ambos ingressaram pelo sistema de cotas em 2015. “Sou o primeiro da família a acessar o ensino superior”, diz o estudante que é de Nova Mutum.

Claudenilde veio do Pará para cursar Psicologia na UFMT e também é pioneira na família. “Meus pais tiveram que trabalhar muito cedo para ajudar em casa. Eu sou a filha do meio, minha irmã mais velha ainda não está fazendo faculdade, mas sonha com isso. Vamos fazer um revezamento para que todos os irmãos consigam fazer o curso superior e ajudem em casa”, planeja.

Tanto Guilherme quanto Claudenilde fazem parte do Coletivo Negro Universitário da UFMT, criado em 2013, a partir de necessidades relacionadas a questões raciais. “O Coletivo busca a formação política e cientifica do negro, estamos construindo um espaço de discussão e encaminhamentos das nossas questões”, informa Guilherme.

Entre outros temas, o Coletivo luta pela implementação da Lei Federal 10.639/03, alterada pela 11.645/08, que torna obrigatório o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana em todas as escolas, públicas e particulares, do ensino fundamental até o ensino médio. “Entendemos que o caminho para uma sociedade sem racismo é a educação”, contemporiza Claudenilde.

O Coletivo ainda recebe denúncias de discriminação, em menor quantidade se comparado ao início, mas por isso as discussões sobre o fim do preconceito não podem parar. “Para nós, o Dia da Consciência Negra significa valorizar os heróis e heroinas negros que lutaram para estarmos hoje neste espaço”, diz Guilherme. “Dia 20 iremos realizar ato que tem significado de resistência. A mensagem é: estamos aqui. Nós existimos”, completa Claudenilde.

Segundo a professora Maria Lúcia, a invisibilidade do negro na universidade tem diminuído, mas ainda existe. Ela lembra que quando veio transferida do Rio de Janeiro a impressão que teve era que não existiam negros em Cuiabá, apenas em Vila Bela da Santíssima Trindade. “Eram pouquíssimos alunos na UFMT, professores negros então, uma raridade. Com o advento das cotas a realidade mudou, mas apesar do estado ter cerca de 60% da população negra, alunos da UFMT negros ainda são menos de 50%”.

Irmãs buscam empoderamento

Há 14 anos a designer afro Vivian Souza, a Vivian Fashion, 42, e a irmã Ana Machado fazem penteados afros na Praça da República. Em alusão ao Dia da Consciência Negra, celebrado no dia 20 de novembro, elas oferecem tranças e oficinas de turbantes à população cuiabana de graça. Neste ano, o evento ocorreu na sexta-feira (18).

Segundo Vivian, é uma forma de valorizar as características da raça negra e empoderar os negros por meio da autoestima. “Quando era mais nova vivia passando pente quente para alisar o cabelo. Quem tinha o cabelo crespo sofria preconceito. Hoje isso mudou. A sociedade começou a aceitar o cabelo do negro e achar bonito”, diz a designer.

Ana Machado conta que o dia de valorização da cultura afro é realizado há 10 anos no mesmo local com o tema “Cuiabá cidade de todas as cores”. Além dos penteados, as irmãs promovem desfile, demonstração de tranças, amarração de turbantes, apresentação de danças, feira de artesanato e de culinária.

“Decidimos fazer o trabalho para chamar a atenção sobre a raça negra. Precisamos valorizar nossas origens”, destaca Ana.

“Não critico quem faz alisamento, cada um tem que passar pela experiência, mas é tão bom assumir seu cabelo, ninguém deve ser discriminado por se aceitar”, comenta Vivian.

A professora Elizabety Leite, 54, tem descendência indígena e quis um penteado afro. “Acho lindo”, elogia. “Além disso é uma forma de homenagear a cultura negra, a cultura africana, afinal todos nós brasileiros temos um pedacinho da nossa árvore genealógica negra”.

A estudante Alice Nogueira, 13, também teve os cabelos trançados. “Sempre faço trança ou coloco um turbante. Fico mais bonita”. 

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