Milhares de “crimes sem solução” apodrecem nos arquivos da Polícia e da Justiça

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Crimes de homicídio sem solução. Assassinatos macabros envolvendo personagens de todas as classes sociais. Muitos crimes registrados há quase 20 anos atrás que nunca foram solucionados. Mistérios insolúveis. Casos que nunca sequer foram investigados, restando deles depois de muitos anos parados em uma gaveta empoeirada, apenas uma capa de inquérito, um Boletim de Ocorrência (BO) uma requisição para exemes e uma liberação de cadáver

 São centenas, milhares de casos de assassinatos, a maioria execuções sumárias, ou latrocínios: roubos seguidos de morte. São crimes bárbaros com cenas macabras, dignas de um filme de terror. Violência de mortes de bandidos ou pessoas inocentes e trabalhadoras, cujos matadores nunca foram sequer citados nas investigações e continuam impunes. O que mais chama a atenção, no entanto, é que 99% dos casos de vítimas com passagens pela Polícia ou usuárias de drogas as investigações morrem no dia seguinte numa simples troca de plantão.

Quando a Polícia fala que conseguiu solucionar mais de 70% dos casos de homicídios registrados não é 100% de verdade. O que acontece é que na maioria dos locais de crimes, a Polícia recebe informações sobre o suposto matador. Pronto. Caso solucionado.

Muitas vezes as investigações ainda avançam até 10%, no máximo, chegando, inclusive à uma representação de prisão preventiva ou temporária. A Justiça não decreta e o caso também  cai no esquecimento. Ou seja, o autor do crime pode estar identificado, mas não está preso e pode matar mais alguém devido a sensação de impunidade.

"Verdade", comenta um policial que pediu para não ser identificado. Ele explica, por exemplo, que mais de 60% dos homicídios não são investigados porque não dá tempo por ser um caso atrás do outro. E os 40% restantes, menos de 10% dos assassinos são presos, e os 30%, mesmo investigados, os criminosos são apenas identificados, mas não vão para a cadeia".

CASO ANTIGOS E

CASO RECENTES

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Quem se lembra do ex-presidiário Thiago Alexandre arruda da Silva, de 28 anos? Com certeza apenas seus familiares ainda, mesmo que vagamente se recordam que ele existiu algum dia na vida e foi executado com vários tiros numa noite de oito de abril de 2010, no Jardim Vitória na periferia de Cuiabá.

Lá mais adiante, bem distante no tempo, no entanto, existe um assassinato que será difícil de ser esquecido. A estudante universitária Cristina Augusta de Moraes Correa, que se estivesse viva estaria hoje com 40 anos, foi encontrada morte por volta das nove horas da manhã de oito de novembro de 1992.

O “Caso Cristiane” como ficou conhecida a morte da estudante que na época morava no bairro Verdão está prestes de completar 20 anos e as investigações nunca chegaram a lugar algum. Duas pessoas chegaram a serem presas, mas acabaram e uma terceira pessoa acusada nunca foi investigada oficialmente.

A jovem voltava da universidade na tarde do dia sete de novembro, quando sumiu misteriosamente. O corpo de Cristiane foi localizado em um terreno baldio cheio de mato nos fundos do Colégio Estadual Barnabé de Mesquita, no bairro Verdão, a mesmo de 100 metros da casa do namorado, para onde ela estaria indo depois de sair da universidade.

De 1992 para julho de 2010, a reportagem do Portal de Notícias 24 Horas News, vasculhando seus arquivos encontrou a  execução de Reginaldo Rodriges Leonel, assassinado aos 26 anos com quatro tiros.

Reginaldo, cujo caso caiu no esquecimento. Aliás, nunca foi lembrado, foi executado no Jardim Itororó, em Várzea Grande (Grande Cuiabá). Dos arquivos para as ruas, os comentários de pessoas que não se arriscam a se identificar, mesmo sendo policiais, confirmam a tendência e a prática de que “bandido morto é apenas um bandido morto”, Ou, “menos um para infernizar a vida da sociedade”.

Verdade. A reportagem procurou, pelo menos três famílias de pessoas com passagens pela Polícia que foram executadas em motivo muito conhecido: o “acerto de contas”. Ou, a “queima de arquivo”. Franco, um policial também foi taxativo: “A Polícia não perde tempo para descobrir quem matou um bandido, que quando estava vivo não estava nem aí para as pessoas. Roubava e muitas vezes até matava”.

Um jovem de 25 anos, irmão de um bandido com mais de 15 passagens pela Polícia, executado com mais de uma dezena de tiros no bairro Morada da Serra, praticamente confirmou as palavras do policial. “Quando a vítima é um bandido a Polícia não está nem aí. A gente vai atrás para saber sobre as investigações, mas é só perda de tempo. Ninguém fala coisa com coisa e muitos até são bem claro: “Bandido morto é apenas um bandido morto”, conta o jovem.

Do descaso para a realidade, a reportagem chegou a um típico caso de bandido morto é apenas um bandido morto. Neste caso foram dois jovens identificados, o primeiro  apenas como “Cucu”, de 13 anos, e Bibio”, com a mesma idade. Os dois levaram mais de 30 tiros de pistola.

Os dois corpos crivados de bala foram localizados em uma estrada de chão  paralela à Rodovia Mario Andreazza, em Várzea Grande no início da década de 90. Nada foi investigado e até o pai de um dos meninos, um homem de mais de 50 anos, que morava em um barraco humilde no bairro Primeiro de Março, em Cuiabá, foi contundente: “Meu filho já foi tarde. É melhor chorar a morte do que a má sorte. Ele já era um bandido, e se não morresse, com certeza viraria um bandidaço”, desabafou.

Um pai, um homem de 48 anos, no entanto, cujo filho de 22 anos com mais de dez passagens pela Polícia foi executado no bairro Tijucal foi taxativo e suas palavras podem levar a uma reflexão, tanto por parte da Poloícia, como pela sociedade e até mesmo pela Justiça.

"Fui na Polícia e a primeira coisa que eu escutei foi que meu filho era um bandido e teve o fim que mereceu. Tudo bem. Ele era um bandido e pode ter merecido morrer. Mas quem o matou também é um bandido. Afinal, quem mata um bandido também pode matar um inocentre. Aliás, se o meu filho estivesse preso por ter matado uma pessoa durante um assalto, hoje ele estaria preso, e não morto"

Também existem casos que são investigados, principalmente quando a imprensa cobra, ou quando a família não larga do pé da Polícia, mas que também não anda e ninguém consegue explicar os motivos. Casos como a execução sumária do jornalista político Auro Ida, de 55 anos, assassinado com seis tiros de pistola.


O jornalista estava conversando com a namorada dentro do carro dele no Jardim Fortaleza, região do Coxipó, na periferia de Cuiabá por volta das 22h40 de 22 julho deste ano, quando um homem se aproximou pelo lado e começou a atirar. Queiram ou não, o caso vai completar três meses e pode ser mais um sem solução.


Jornalista Auro Ida

Sem solução? A Polícia agora não fala sobre o “Caso Auro Ida”, pois sem qualquer explicação, as investigações ganharam uma classificação absurda: “Segredo de Justiça”. É bom lembrar, no entanto, que o caso está esclarecido e solucionado com autor, co-autor, mandante e financiador da pistolagem, pois a morte do jornalista foi “encomendada”.

Do Auro Ida para o empresário e professor Luiz Antonio dos Santos, de 60 anos, executado dias atrás com vários tiros, dois deles na cabeça. O crime aconteceu no meio de uma das mais movimentadas avenidas de Cuiabá, a Isaac Póvoas, no centro da Capital. E o que é pior, o professor foi morto na frente de várias pessoas.

Apesar da grande repercussão do caso, as investigações ainda não chegaram a lugar algum. Aliás, há quem aposte que o caso também já esteja solucionado, mas há os que também garantem que a morte do professor Luiz Antonia caminha a passos firmes para a impunidade do autor e o caso para o “arquivo morto”.

Depois de um mês de investigações a Polícia ainda não encontrou, sequer uma pista que leve a autoria da morte da pequena Ana Carolina, de apenas oito anos. A menina que foi sequestrada no Jardim Passaredo, no Coxipó, foi encontrada morta às margens da Lagoa Azul, com o corpo em adiantado estado de decomposição.

A Polícia ainda não sabe se menina foi estuprada e até o momento também não existem nas investigações qualquer pista que leve ao autor ou autores de um crime bárbaro contra uma criança, sem qualquer poder de reação. Uma especialista em investigações criminais, afirma que a pequena Ana Carolina foi morta por uma pessoa que ela e a família conheciam.

É bom lembrar, ou questionar. Quem matou e quem mandou matar os dois garimpeiros sequestrados em Poconé (Baixada Cuiabana, a 100 quilômetros da Capital)?

O dois corpos foram encontrados cinco dias depois às margens da Rodovia Mário Andreazza, em Várzea Grande. Cada uma das vítimas tinha seis perfurações de balas e os corpos estavam carbonizados. As investigações não chegaram a lugar nenhum e os mandantes e os pistoleiros continuam impunes.

Para finalizar. Quem matou o garoto Jean Carlos Rodrigues, de apenas 16 anos? Mistério. O adolescente levou quatro tiros na noite de 23 de março de 2010 quando caminhava por uma das ruas próximas ao Colégio Maria Pedroso, no bairro São Matheus, na periferia de Várzea Grande. Quem matou ninguém sabe porque o caso foi mais um em um universo de papéis recheados de sangue e poeira que dormem, apodressem e se desfazem nas gavetas e nos arquivos da Polícia, ainda como inquéritos, ou nos arquivos da Justiça como processos,  simplesmente porque os casos caíram no esquecimento.

 

Também é bom lembrar, que essa reportagem foi feita através de pesquisas apenas nos crimes de homicídios e latrocínios registrados apenas em Cuiabá e Várzea Grande. No interior de Mato Grosso as coisas podem ser até piores do que acontece na Grande Cuiabá.

 

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