Apontando que pouco mais de 7 anos de Governo o fizeram mudar a maneira de pensar em relação a muitas coisas, o ex-governador Blairo Maggi (PR) trata, nesta entrevista, de questões polêmicas como a aquisição de 705 máquinas rodoviárias a um custo de R$ 241 milhões, por meio de processos licitatórios irregulares.
Ele defende a apuração célere e rigorosa, apontando que não vai aceitar na campanha artifícios e subterfúgios da oposição em acusá-lo, lembrando que partiu dele, enquanto governador, a abertura das investigações, assim como aconteceu com todas as demais denúncias ao longo dos últimos anos.
Para ele, Mato Grosso se preparou para assumir a condição de grande estado produtor, mas é necessário buscar novas fórmulas e melhor distribuição de recursos públicos entre os entes federativos para que se faça justiça nas responsabilidades do Estado e dos municípios, onde vivem as pessoas e onde estão os problemas.
Afirmando ser um homem melhor, Maggi assimila que está retomando suas atividades empresariais que minimizam a diferença entre a função privada da função pública, mas diz estar pronto para um novo embate eleitoral e de que vai se empenhar pela reeleição do governador Silval Barbosa (PMDB) e de todos os companheiros de partidos aliados que caminharão no processo a ser deflagrado.
Como senador, caso seja eleito, Blairo Maggi defenderá uma política de maior valorização ao setor produtivo como indutor do desenvolvimento; a partilha dos impostos arrecadados pela União e as profundas discussões ambientais para que a produção agrícola seja feita de forma sustentável, ou seja, preservando o meio ambiente mas aumentando a produção de alimentos para atender a demanda mundial.
A Gazeta – Depois de mais de 7 anos, qual a sensação de quem deixou o governo do Estado e as atribulações do dia-a-dia?
Blairo Maggi – É uma nova vida. Uma readaptação por causa dos problemas decorrentes da função que é inerente a todos os cargos públicos de Executivo, como questões de segurança que o sistema lhe impõe. Fora isso existem outras questões como da própria agenda que no poder público não é feita por você pessoalmente e sim pelos compromissos do Estado.
Gazeta – Como o senhor avalia a função empresarial e a função de gestor?
Maggi – Olha são funções distintas, mas tem uma relação parecida. Sempre me adaptei com tranquilidade e rapidamente as missões que me foram incumbidas e isto facilitou a adaptação quando cheguei ao governo e agora quando estou retomando a vida particular. Existem ditados que apontam para que o governante sofre ao deixar o poder, por não querer cair no ostracismo, mas não se pode confundir as coisas, não é simples como o ditado, que depois que se sai nem o vento bate nas costas.
Gazeta – Então, como é?
Maggi – Sempre tive em mente que as pessoas chegavam para conversar com o mandatário do cargo, com o governador, não com a pessoa do Blairo Maggi. Então se o governador é o Zé ou o Mané ele existe para a função e será procurado como tal. As pessoas confundem o público com o privado, por isso fica aquele sentimento depressivo depois que você deixa o cargo de que ninguém te procura, mas na realidade eles nunca procuraram você e sim quem detinha o poder do cargo.
Gazeta – Na sua condição foi diferente?
Maggi – Olha muito das coisas inerentes a função de governador do Estado, mesmo com o fim do mandato, por causa da minha posição enquanto empresário são as mesmas, então exerço minhas funções na plenitude. Se confunde muito as coisas como pessoal quando deveriam ser impessoal. Em não sou governo, eu estava o governo e tinha as prerrogativas e aparatos do cargo, da função que foram exercidas na plenitude.
Gazeta – Mas o senhor só está momentaneamente fora da política, pois vai disputar nova eleição?
Maggi – Estou no curso de um processo político que envolve muitas pessoas, todo um grupo. Vou continuar na vida pública se assim a população de Mato Grosso entender e me conceder um novo mandato. A função de governador me enriqueceu muito e pude aprender muito e também fazer muito por muitas pessoas e isto engrandece qualquer ser humano.
Gazeta – O que é mais fácil, ser empresário de sucesso que saiu de baixo e se consolidou ou governador do Estado?
Maggi – É mais fácil ser empresário. Por maior que seja a empresa que você dirige ela é infinitamente menor e mais restrita que o Estado. Você empresário e responsável pelos seus atos, você governador responde pelos atos de todos que o auxiliam. O universo é muito maior e as responsabilidades também, então quando você acerta e faz as coisas direito é por que era obrigação. Já quando você erra, só você e ninguém mais é responsável.
Gazeta – Depois de mais de 7 anos onde não houveram grandes problemas a não ser os corriqueiros de uma gestão governamental. Agora passada a gestão começa uma verdadeira montanha de denúncias. O que é isto? É o mundo político? É por causa das eleições?
Maggi – Eu penso assim. Enquanto governador sempre procurei exercer minha função com dignidade, com respeito a coisa pública e nunca coloquei nada para debaixo do tapete. Todas as denúncias que me chegaram nestes anos, eu tomei providências e mandei apurar. Sempre fui cuidadoso e assim agi na questão das máquinas. Eu mandei apurar. Eu comuniquei ao chefe do Ministério Público Estadual (MPE) após ter acionada a Auditoria-Geral do Estado (AGE), órgão responsável pela apuração de qualquer tipo de desvio ou conduta irregular.
Gazeta – O senhor teme a especulação política por causa da proximidade das eleições?
Maggi – Olha o momento correto é agora e o lugar certo é a Justiça e nós tomamos a iniciativa. O que não é admissível é se transformar este tipo de assunto em plataforma de acusação. Sei e conheço o papel da oposição, portanto, espero que após tudo apurado não me venham em plena disputa eleitoral com denuncismo barato, com depoimentos forjados para trazer tudo de volta no decorrer das eleições.
Gazeta – Como evitar que se utilizem politicamente disto?
Maggi – Já estão fazendo. Você nunca viu boa parte das pessoas que hoje estão a cobrar apurações rigorosas num passado recente, então a proximidade das eleições aguça o calor da disputa e o entendimento de alguns poucos de que somente se criticando, se acusando é que se conquistam os espaços políticos, por isso tenho cobrado constantemente as autoridades, o Ministério Público e a Auditoria-Geral do Estado para que sejam céleres, transparentes e determinados em explicar tudo o que aconteceu, como aconteceu e o tamanho do problema, pois se neste ano não tivesse eleições, com certeza a repercussão seria bem menor, bem mais branda. As coisas foram tão bem preparadas, que o Tribunal de Contas a nosso pedido, instaurou uma comissão para acompanhar as máquinas e todo o relatório de quem recebeu e quem tem a guarda se encontra registrado para que amanhã ou depois, quando a gestão mudar não apareçam ou melhor não desapareçam com os equipamentos como era comum se ouvir falar.
Gazeta – Qual sua principal preocupação com relação a este quadro?
Maggi – É de que tudo fique esclarecido por completo, que os envolvidos sejam punidos e que o cidadão, a sociedade e o município não fiquem desamparados com a retirada de um benefício concebido totalmente para atender a demanda. Existem municípios de Mato Grosso que nunca tiveram uma máquina rodoviária. A responsabilidade é do Estado e de mais ninguém, então o Estado terá que apurar e punir os responsáveis. Só digo uma coisa, separem os atos de governo do que é momento eleitoral.
Gazeta – Nas especulações políticas, comuns em ano eleitoral, se houve muito de uma possível desistência sua?
Maggi – Já ouvi dizer que fizeram festa por que eu teria desistido de concorrer ao Senado. Isto é muito, mas muito improvável. Já admiti que pelo entendimento do meu grupo político e pela vitória de nossas candidaturas, se fosse possível eu abriria mão da disputa, mas considero essa situação remota.
Gazeta – Mas também se ouve dizer que a sua proximidade com Mauro Mendes (PSB) poderia levá-lo a não apoiar o governador Silval Barbosa (PMDB)?
Maggi – Essa possibilidade não existe. Sou parte de um grupo. Trabalho politicamente neste grupo e sempre estarei no caminho do que for melhor para o grupo e para Mato Grosso. O resto é intriga da oposição que deseja ganhar as eleições no grito.
Gazeta – Os altos índices de sua aprovação podem ajudar na reeleição de Silval Barbosa (PMDB) para o governo do Estado?
Maggi – Essa é a nossa expectativa. A pesquisa é bastante favorável tanto a mim quanto ao Silval Barbosa, mas temos que transformar intenção de voto em voto. Agora se percebe a existência forte de um sentimento de continuidade, uma aprovação do nosso estilo de governar e de reconhecimento por tudo que foi feito. Agradeço a Mato Grosso e ao povo pela oportunidade de ter trabalhado pelo crescimento econômico, pela geração de emprego e renda e pela melhora na qualidade de vida de todos indistintamente e se assim a popular compreender e nos permitir vamos continuar trabalhando eu, como Silval e nossos demais companheiros.
Gazeta – Qual será sua principal missão caso venha a ser eleito senador?
Maggi – São muitas coisas que aprendi enquanto governador e outras em que tive dificuldades por falta de apoio político e de representatividade. Então tenho para comigo que temos que buscar soluções para que o setor produtivo, o agronegócio ganhe o devido respeito e se torne efetivamente um sustentá-lo da economia. O pequeno, médio ou o grande agricultor necessita de apoio para que possa melhorar e assim produzir mais. Temos também a questão da partilha dos recursos públicos, não dá para deixar a União com 60% da arrecadação, os Estados com 26% e os municípios com 14%. Fora isso temos questões ambientais que precisam ser defendidas. Aprendi que é possível produzir de forma racional, sustentável então vamos buscar regras para fazer mais e melhor.
Gazeta – O senhor fez tudo que esperava como governador?
Maggi – Tenho convicção de que me esforcei muito, mas não pude realizar tudo que esperava. Mas guardo para mim que muito aprendi, mudei minha forma de pensar em relação a muitas coisas e pretendo continuar a me dedicar pelo Estado de Mato Grosso e por sua gente. É com satisfação que a gente ouve que após quase oito anos de governo o nosso PIB, que é toda a riqueza gerada em nosso Estado saiu de R$ 23 bilhões para R$ 42 bilhões e chegará a R$ 50 bilhões no final deste ano, numa demonstração de que crescemos e nos tornamos melhor. Assim como eu, cada pessoa do governo, dos demais poderes, da sociedade organizada, do setor produtivo, da indústria, do comércio, enfim profissionais liberais todos ajudaram a construir este grande Estado que é Mato Grosso.