O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central (BC) aumentou o juro básico da economia, a Selic, de 10,25% para 10,75% ao ano, ou seja, em 0,50 ponto percentual. Essa é a terceira alta consecutiva da taxa, que está em seu terceiro ciclo de aumentos desde o início do governo do presidente Lula. Os outros dois ciclos de altas foram entre 2004 e 2005 e em 2008.
Para o consumidor, o impacto mais direto de um aumento da taxa básica é o encarecimento dos empréstimos e dos juros cobrados pelos bancos e comércio nas diferentes modalidades de financiamentos. Entretanto, especialistas avaliam que o impacto do aumento anunciado na noite desta quarta-feira (21) no bolso do brasileiro será pequeno.
Isso porque os bancos tendem a não mexer nas taxas para manter a competitividade, já que a inadimplência está em queda com a melhora na renda dos trabalhadores.
Em nota, o Copom informa que a decisão foi unânime, ou seja, que todos os integrantes do comitê votaram pelo aumento da taxa para 10,75% ao ano.
A Selic é chamada de taxa básica porque é a mais baixa da economia e funciona como um piso para a formação dos demais juros cobrados no mercado, que são influenciados também por outros fatores, como o risco de quem pegou o dinheiro emprestado não pagar a dívida.
Assim como no último encontro do Copom, o objetivo do aumento é frear o consumo dos brasileiros e inibir a aceleração dos preços. A inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor), já está em 4,84% no ano, acima da meta central do Banco Central– de 4,5% para 2010.
Desde a volta da Selic no patamar de dois dígitos, em junho deste ano, a inflação tem diminuído lentamente após ter batido recorde em janeiro. No mês passado, o IPCA ficou em zero, o que tem provocado uma diminuição na expectativa da inflação até dezembro.
No último boletim Focus desta segunda-feira (19), que é o levantamento semanal do BC feito com analistas, a estimativa é que o IPCA fique em 5,42% neste ano, abaixo da estimativa de 5,45% na edição anterior. O dado, no entanto, está muito acima do centro da meta oficial de 4,5%.
Crescimento sustentável
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta semana ser favorável a medidas para “conter um pouco o crescimento da economia”. Isso significa que com juros mais altos, os brasileiros vão consumir menos e por consequência toda a cadeia produtiva envolvida – que são as indústrias, os bancos e os investimentos – irá dar uma freada.
Mas até onde esse freio é bom? À medida que a taxa básica de juros vai aumentando, os consumidores tendem a pegar menos dinheiro emprestado e a indústria diminui o ritmo de produção. Esse efeito acaba divergindo sindicalistas e o próprio setor industrial, que temem demissões com a diminuição no número de pedidos com a queda na procura pelo consumidor.
No entanto, a perspectiva de crescimento do PIB (soma das riquezas produzidas) neste ano já chega a 7,20%, segundo o boletim Focus. A estimativa, que se mantém neste nível há três semanas consecutivas, preocupa o ministro da Fazenda, Guido Mantega, diz não ser “prudente” uma economia crescer acima de 5,5%. Para ele, uma expansão exagerada pode fazer com que os preços disparem e coloquem em risco a estabilidade econômica.
As altas seguidas da Selic ocorrem após uma estabilização da taxa por um ano e sete meses. A última sequência de altas ocorreu em abril de 2008, quando a Selic subiu de 11,25% para 11,75%, tendo aumentos sucessivos até setembro daquele ano, quando bateu 13,75%. No ano passado, logo após o início da crise financeira internacional, o Copom deu início a um ciclo de cortes que deixou a taxa no menor patamar da história, em 8,75%.
Ao mesmo tempo, o governo promoveu incentivos ao consumo, com a redução do IPI (Imposto sobre Produto Industrializado) na construção civil, veículos e eletrodomésticos, além de estimular a oferta de crédito, com prazos mais longos de pagamento e taxas reduzidas.