Em uma década, o número de internações por asma no Brasil caiu 49%. Entre os anos 2000 e 2009, o número de pessoas que tinham se hospitalizado por causa da doença caiu de 397.333 para 203.197. As informações são do Datasus, o banco de dados do SUS (Sistema Único de Saúde), ligado ao Ministério da Saúde.
A melhor compreensão da doença por parte dos portadores e a distribuição de medicamentos de alto custo para os pacientes asmáticos graves são os principais fatores que contribuíram para essa queda, de acordo com a médica pneumologista Lilian Ballini Caetano, coordenadora do Ambulatório de Asma da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
– Anteriormente, muitos pacientes não tinham condições econômicas para comprar a medicação. Mas hoje eles têm direito a pegar esses remédios, isso reduziu muito a taxa de internação.
A asma é uma doença inflamatória crônica, sem cura e caracterizada pelo estreitamento generalizado dos brônquios (tubos que levam o ar aos pulmões). Ela pode ser desencadeada por fatores alérgicos, infecções por vírus e até fatores emocionais. É mais comum em crianças e adolescentes, mas também afeta adultos.
O tratamento da asma geralmente segue três diretrizes: controle da doença, higiene do ambiente e terapia com remédios para combater as crises. Como esse controle deve ser feitos todos os dias, muitos pacientes não seguem a terapia corretamente. Lilian afirma que, no Brasil, a taxa de adesão ao tratamento contínuo gira em torno de 40%. Uma pessoa asmática é hospitalizada quando ela sofre uma crise de broncoespasmo, que é crise forte da asma.
De acordo com o Ministério da Saúde, a queda dos últimos anos se deve a uma série de fatores, mas, principalmente, ao fato de que em 2002 a pasta publicou um protocolo que unificou o tratamento e o diagnóstico da doença em todo o país – o documento criou um padrão a ser seguido por todos os Estados e municípios.
A oferta de medicamentos pelo governo também vem se ampliando. Em outubro, oito dos 16 novos remédios que passaram a ser oferecidos pelo programa Aqui Tem Farmácia Popular eram para o tratamento da asma.
Para o médico alergista Flavio Sano, diretor da Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia, o fornecimento de medicação anti-inflamatória pelo SUS (Sistema Único de Saúde) contribuiu para a redução das internações por asma, “mas esse número ainda continua muito alto”.
Grande São Paulo concentra metade das internações do Estado
No Estado de São Paulo, as internações por asma também vêm caindo. No entanto, o ritmo de redução é mais acelerado no interior do que na região metropolitana. Em 1998, o número de internados em todo o Estado era de 38.201, caindo para 17.115 em 2009 – redução de 55%. No mesmo período, as hospitalizações na Grande São Paulo oscilaram de 10.443 para 8.368 – queda de 20%.
Apesar da diminuição dos casos, os números mostram que as internações estão cada vez mais concentradas na capital. Se em 98 as internações por asma na região metropolitana correspondiam a 27% do total do Estado, em 2009 essa participação saltou para 49%.
De acordo com a pediatra Zuleid Dantas Linhares Mattar, presidente do Conselho dos Programas de Asma e Rinite (COPAR), existem duas explicações para isso. Por um lado, ela diz que a capital paulista realiza diagnósticos com mais precisão em comparação ao restante do Estado.
Além disso, Zuleid afirma que as condições climáticas – como o alto nível de poluição e as variações bruscas de temperatura – são fatores que agravam a situação do asmático na capital, levando às internações. Por isso, diz a médica, o asmático que mora em São Paulo enfrenta condições piores, o que só reforça a necessidade de manter a doença sob controle.
– Em São Paulo, para melhorar [a condição de saúde], tem que haver adesão ao tratamento. É difícil convencer o paciente a tomar remédios todos os dias. As pessoas não querem tomar, acham que vai fazer mal, que vicia, mas nada disso é real.
Além da medicação de controle, Zuleid reforça que a importante de três outras medidas: manter um ambiente saudável dentro de casa (livre de pó, ácaros e pelos de animais); sair para ambientes arejados (evitando ficar sempre em locais fechados); e tomar vacinas contra as gripes.
Para evitar as internações, Lilian lembra que é importante também ensinar os pacientes a reconhecer os sintomas que indicam piora em seu quadro de saúde. Quem conhece bem a doença, diz a médica, corre menos riscos de sofrer as crises asmáticas que podem levar a uma hospitalização.