Raquel Teixeira/Polícia Civil-MT
A Polícia Civil concluiu o inquérito do homicídio que vitimou Adriele da Silva Munis, 25 anos, ocorrido em dezembro de 2016, na Capital, e indiciou o autor por homicídio doloso qualificado. No inquérito instaurado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Cuiabá, o autor do crime foi indiciado ainda por tentativa de homicídio qualificado contra as outras três pessoas que estavam no veículo com a vítima.
Adriele foi atingida por um tiro nas costas, que perfurou o pulmão e o coração, quando estava em um veículo Palio com seu namorado e mais duas pessoas voltando de uma festa no bairro Duque de Caxias, na madrugada de 18 de dezembro de 2016.
O veículo em que Adriele estava, descia pela Avenida Isaac Póvoas e antes de chegar à Avenida Tenente-coronel Duarte, o condutor colidiu na lateral dianteira de um Honda Fit e seguiu à frente do carro, cujo motorista fez três disparos contra o Pálio, antes de chegar ao cruzamento entre as duas vias. Um dos disparos atingiu Adriele, que caiu no colo do namorado. O motorista do Pálio correu em busca de socorro na Santa Casa, que não estava aberta e em seguida buscou o Pronto-Socorro de Cuiabá, onde a vítima morreu minutos depois de dar entrada na unidade.
Após quatro anos de diligências para confirmar a identidade do veículo que era conduzido pela pessoa que realizou os disparos, assim como cruzamento de informações, análise de inúmeras câmeras de segurança, depoimentos e laudos, a equipe do delegado Caio Fernando Albuquerque conseguiu fechar a linha de investigação e coletar provas que levaram ao autor dos disparos.
“O caso, por longos quatro anos, padeceu de suporte informativo a ponto de se alcançar a autoria. As imagens coletadas, ainda que descrevessem boa parte da dinâmica, não identificavam o veículo de onde partiu os disparos. Morreu uma jovem, de apenas 25 anos, com um tiro nas costas, quando apenas retornava a sua residência, após confraternização na casa de amigos, e sem dar causa, de qualquer modo, ao ocorrido. A angústia dos familiares, principalmente da mãe dela, persiste por todos esses anos”, explicou o presidente do inquérito.
Na última semana, o delegado encaminhou representação pela prisão preventiva do investigado ao juízo da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, que indeferiu o pedido. “Condutas como essa, notadamente perpetradas por quem se espera o contrário, são inaceitáveis; uma jovem perdeu a vida sem dar o mínimo motivo, e, por muito pouco, seus amigos não tiveram o mesmo triste fim. Uma mãe, até hoje, peregrina à Polícia Civil e Ministério Público, suplicando a apuração do ocorrido com a filha”, destacou Caio Albuquerque.
Voltando de uma festa
Adriele Munis e o namorado foram a uma festa no bairro Duque de Caxias, na noite de 17 para 18 de dezembro. Após o fim da confraternização, o casal foi embora com dois amigos, um deles o aniversariante.
Indícios e análise de câmeras, além de depoimentos coletados, apontaram que o veículo em que estava Adriele trafegava na Avenida Isaac Póvoas e no cruzamento com a Avenida Presidente Marques, houve a colisão do Pálio na lateral direita do Honda e uma discussão entre os ocupantes dos dois veículos e a partir desse ponto inicia-se a perseguição do Palio pelo Honda.
Os dois veículos passaram pelo cruzamento com a Rua Barão de Melgaço, ao lado da Praça Rachid Jaudy, quando então ocorreram os três disparos vindos do Honda Fit, que atingem o Palio na parte traseira e alveja Adriele nas costas.
Com a morte de Adriele no Pronto-socorro de Cuiabá, a DHPP iniciou a investigação do homicídio e começou as diligências para reunir informações que pudessem chegar ao autor dos disparos. Diante das primeiras informações coletadas, além de depoimentos iniciais dos ocupantes do Pálio, a equipe de investigação traçou uma linha que chegou a um possível suspeito, que depois não se confirmou.
Negativa em depoimento
Em 2019, a DHPP voltou a realizar novas diligências cruzando informações de todos os veículos que passaram no horário próximo e pelo mesmo trecho onde os dois carros envolvidos transitaram. Além disso, a equipe de investigação coletou dados e imagens em uma boate na Avenida Isaac Póvoas de frequentadores que portavam armas de fogo na data do crime. E as informações da análise de balística para chegar ao tipo de arma compatível com a munição encontrada no corpo de Adriele (calibre .40), compatível com pistola da marca Imbel, levaram a Polícia Civil a uma pessoa que esteve na boate na madrugada em que ocorreu o crime, portando uma arma de fogo, que posteriormente, após outras diligências, foi constatado que o registro estava em nome da Polícia Militar do Estado.
Com a localização da pistola, a Polícia Civil requisitou exame de confronto balístico à Politec, que constatou que a munição que atingiu Adriele foi disparada da arma em questão. A partir dessa informação, chegou-se ao nome da pessoa que estava com a arma acautelada.
Em um primeiro depoimento na DHPP, o investigado negou qualquer das informações apuradas nas investigações que o colocavam na boate, portando uma arma de fogo compatível com a que fez o disparo que matou Adriele, assim como das provas periciais e no deslocamento do veículo no trajeto feito pelo Pálio em que estavam as vítimas.
Dias depois após o primeiro depoimento, o investigado, diante das informações que lhe foram apresentadas, solicitou um novo interrogatório, onde confessou a autoria dos disparos, mas alegou que agiu em legítima defesa. Ele declarou que atirou contra o carro onde estava Adriele porque sofreu uma tentativa de assalto. Contudo, as provas coletadas comprovam que em momento algum as vítimas esboçaram qualquer ato que pusesse em perigo de vida o casal que estava no Honda Fit (investigado e sua namorada), assim como os ocupantes do Pálio não desceram do veículo durante o trajeto apurado.
“O Fiat/Palio sempre esteve à frente do Honda/Fit, ou seja, não tinha condições, sequer, lógicas de estar na perseguição de alguém e nenhum ocupante do Palio efetuou qualquer disparo de arma de fogo, informações confirmadas pelas testemunhas que se encontravam com o investigado, e por ele próprio”, explicou o delegado.
Pessoas que estavam com o investigado na noite em que esteve na boate e depois saíram junto com ele, em veículo separado, mas acompanhando o mesmo trajeto, também foram ouvidas e as informações dementem a declaração do autor dos disparos.
Diante de todo o conjunto probatório coletado nas investigações, indicando a materialidade do homicídio doloso consumado e homicídios dolosos tentados, o delegado Caio Albuquerque representou pela prisão preventiva do investigado. As investigações apontaram ainda indícios de que após a colisão de trânsito e discussão, o investigado seguiu no encalço do veículo em que as vítimas estavam, até que tivesse condições para fazer os disparos certeiros, o que indica a intenção de matar.