O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) definiu cortes no Censo Demográfico 2020. O questionário completo passará a ter 78 perguntas em vez das 112 previstas no último teste realizado pelo corpo técnico, um corte de 30%, segundo um relatório apresentado nesta segunda-feira, 27, pela direção do órgão à comissão consultiva do censo, que foi obtido pelo Estadão/Broadcast. Oficialmente, o IBGE não informa o novo desenho da pesquisa.
A comissão esteve reunida por cerca de sete horas avaliando as mudanças. A proposta apresentada pelo novo diretor de Pesquisa, Eduardo Rios Neto, ainda será levada nesta terça-feira ao corpo técnico “em respeito” aos funcionários. Em seguida, ele vai encaminhá-la ao conselho diretor. A decisão final, porém, será de Rios Neto, que assumiu o cargo há menos de um mês. O anúncio deve ser feito até quinta-feira.
Na versão mais enxuta, proposta pela direção do IBGE, o censo deixa de levantar dados relevantes, como informações sobre rendimentos de todos os moradores do domicílio, se limitando apenas a coletar a renda de quem é designado pelos moradores como o chefe da família. Também não devem ser mais feitas perguntas sobre a posse de bens duráveis, como computadores, automóveis, motocicletas, geladeira, telefone celular e laptop. Ainda devem ser excluídas informações sobre aluguel de residência e mobilidade da população da casa ao trabalho e local de estudo, além de dados sobre o casamento.
Em coletiva convocada no fim do dia, após a reunião da comissão consultiva, Rios Neto negou que o encolhimento do censo tenha objetivo financeiro. Mas não explicou o que motivou a direção do IBGE a encomendar mudanças na pesquisa. Segundo ele, a prioridade será compreender o tamanho e a nova estrutura etária da população. Os demais temas sofrerão um “enxugamento marginal”, afirmou o diretor.
O corte do censo gerou indignação entre funcionários do IBGE, que acusam o governo federal de comprometer a qualidade da pesquisa para cortar custos. Diante da resistência dos técnicos, a presidente do instituto, Susana Cordeiro Guerra, exonerou há cerca de 20 dias os diretores de Pesquisa, Cláudio Dutra Crespo, e de Informática, José Santana Beviláqua. No lugar de Crespo entrou Rios Neto.
“Ranger de dentes faz parte. Não fui nem um pouco ditatorial no que tange à comissão consultiva. Espero que essa seja só uma etapa que pretendo passar logo para seguir”, disse Rios Neto.
A polêmica envolvendo a pesquisa, realizada a cada dez anos, começou ainda no governo de Michel Temer, quando o Estadão/Broadcastrevelou a decisão do Ministério da Fazenda de cortar recursos. Já na presidência de Jair Bolsonaro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, sinalizou um corte ainda maior e defendeu a redução do questionário do Censo. Guedes chegou a sugerir que o IBGE vendesse um de seus edifícios para custear o levantamento censitário.
O IBGE recebeu R$ 6,7 milhões no ano passado para preparar a operação do censo, de uma previsão inicial de R$ 7,5 milhões. Outros R$ 3,056 bilhões seriam necessários para viabilizar a coleta em 2020, conforme foi originalmente planejada.
Roberto Olinto, presidente anterior do instituto e funcionário de carreira do órgão, defendeu reiteradamente que a pesquisa não pode ser enxugada sem que haja perda de qualidade de informações.