Gonzaga de Pai para Filho. Brasil, 2012. Direção de Breno Silveira. Com Julio Andrade, Nanda Costa, Land Vieira, Nivaldo Expedito de Carvalho/ o Chambinho do Acordeom, Adélio Lima, Alison Santos, Giancarlo Di Tommaso, Silvia Buarque.
Continuo achar que os diretores brasileiros de cinema tem medo da emoção. Depois de esperar duas horas pela reconciliação de pai e filho eu estava aguardando a inevitável cena dos dois cantando juntos, certamente algum clássico. Nada disso. O filme termina com imagens do arquivo, mantém seu tom sobrio de sempre. Cadê meu momento de catarse?
Baseado em biografia da Regina Echeverria, o filme biográfico podia optar por vários caminhos. Preferiu contar de forma tradicional a vida do grande Luiz Gonzaga, o rei do Baião, ocasionalmente intercalando cenas de documentários, optando por três atores para o personagem (depois a mesma com o Gonzaguinha). O que fica com a melhor parte é um rapaz simpaticão, tocador de sanfona até no nome.
A verdade é que nenhum deles é bom ator, o que prejudica muito o filme que não se segura em momentos dramáticos. A única exceção é mesmo Julio Andrade, revelado em Cão sem Dono, mordomo gay em Passione, que está sempre bem e ficou extremamente parecido com Gonzaguinha e dá muita dignidade ao personagem. Que pena que não conseguiram encontrar outros do mesmo naipe. Eu gosto da Nanda Costa (que agora estrela a novela das nove da Globo) mas nem ela acerta como a primeira mulher de Gonzaga, garota de dancing mas que morreu cedo deixando ele com a missão de cuidar do filho. Os coadjuvantes em geral são piores ainda (menos Silvia Buarque, que quase não abre a boca, mas sempre dá humanidade ao pouco que lhe deixam fazer).
O grande problema do filme é simples. Luiz Gonzaga era um gênio damúsica, um grande mestre da comunicação, mas como pessoa não era nenhuma maravilha. O filme esconde o apoio que ele deu ao governo militar (ao menos dilui) e disfarça um pouco o péssimo pai que foi, tratando o filho da maneira mais errada terminando por fechá-lo num colégio interno no interior. Mas o velho era tão teimoso e fechado que nem é preciso dar a palavra ao filho (coitado do personagem do filho, que não tem chance de se expressar, em geral está sendo escorraçado e também é prejudicado na parte musical, sendo pouco representado para quem tem uma obra tão representativa). E de repente, mal eles fazem as pazes, os dois morrem, o pai seguido pelo filho um ano e meio em acidente de carro (também sem qualquer detalhe). Mas também de Gonzagão há muitas músicas famosas e mesmo fundamentais que não estão no filme. Como não ficar frustrado?
Resultado: um esboço do filme que poderia ter sido e não é nem sombra dos Filhos de Francisco do mesmo diretor e produtora.