Com todas as pesquisas de opinião convergindo para o estreitamento da diferença nas intenções de voto, os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) partiram para identificação dos Estados onde podem reverter desvantagem registrada em primeiro turno. No caso de Mato Grosso, Dilma pediu empenho do ex-governador e senador eleito Blairo Maggi (PR), do governador reeleito Silval Barbosa (PMDB) e de várias lideranças de partidos da base. Escalou o diretor-geral do Dnit, Luiz Pagot, para tomar a frente da coordenação da campanha.
A investida de Dilma no eleitorado mato-grossense, com a força das máquinas federal e estadual, não é por acaso. Acontece que foi no Estado onde seu padrinho político e presidente Lula detém uma das mais altas popularidades que a candidata, paradoxalmente, perdeu para o tucano Serra. Ela teve 659.771 votos, 42,94% dos válidos, enquanto Serra conquistou 678.614 (44,16%). Trata-se de um Estado onde o eleitor de um modo geral se mantém na linha conservadora. Muitas regiões em Mato Grosso vivem sob constantes conflitos agrários e a vinculação do petismo com, por exemplo, o MST, acaba por levar parte do empresariado, pecuaristas e vozes de outros segmentos a rejeitar a candidata do PT.
Dilma decidiu levar ma campanha mais agressiva. Ela elevou o tom e afirma que o debate sobre o aborto foi provocado por setores atrasados da oposição e acusa o tucanato de entregar o patrimônio público para investidores privados. São estratégias para recuperar a parte dos votos da esquerda partidária que foi para Marina Silva no primeiro turno.
A presidenciável orientou os coordenadores da campanha a insinuar golpismo, algo similar aos episódios de 1964 para preparar as ofensivas contra o governo estabelecido, e a classificar uma eventual vitória tucana de ilegítima, "porque seria com base na mentira, da calúnia e da difamação. Ademais, ainda culpa a imprensa pelo clima de golpismo político.
Os 15 dias finais da campanha prometem muitos confrontos e denúncias. A teoria da conspiração, que já surgira no primeiro turno quando começava a onda de que Dilma ganharia com mais de 50%, ressurgiu com a queda da diferença entre os dois candidatos, indicando que a dianteira da candidata oficial pode estar dentro do empate técnico.
A propaganda petista está arriscando muito nas acusações. Sustenta que o então governador Serra mandou a polícia invadir a Universidade de São Paulo (USP) durante uma greve de professores, quando, em verdade, foi a reitora da USP quem pediu na Justiça a reintegração de posse. Insiste na tese de que o ex-presidente da Agência Nacional do Petróleo David Zilberstein quer privatizar o pré-sal. Há acusação ainda de que Serra privatizou a Companhia Siderúrgica Nacional, quando a empresa foi privatizada no governo Itamar Franco, onde Serra não exerceu função.
Dilma tenta, por outro lado, se livrar do impasse em que está desde que o tema descriminação do aborto surgiu na campanha. O assunto tomou conta do debate político. Após relutar, ela divulgou uma carta em que se diz “contra o aborto”, mas não nega diretamente que seja contra a “descriminação do aborto”. Sugere que o Congresso decida sobre esse e outros temas polêmicos. A petista tenta encerrar uma discussão que tem prejudicado muito seu desempenho nas pesquisas.