Há um outro campo no qual autoridades querem que o Brasil seja vencedor na Copa do Mundo: a segurança.
Elas estão investindo pesado para isso. O plano de segurança do governo federal tem o custo de R$ 1,9 bilhão e envolve cerca de 170 mil agentes.
Não é para menos. Além das 32 seleções e chefes de Estado, cerca de 600 mil turistas estrangeiros deverão chegar ao país para acompanhar a Copa.
Por aqui, mais de 3 milhões de brasileiros viajarão entre as 12 cidades-sede — várias delas entre as mais violentas do país — para ver as partidas.
E, claro, as autoridades terão que lidar com os protestos. Eles se tornaram frequentes em todo o país desde junho do ano passado, quando milhões de pessoas tomaram as ruas reivindicando melhores serviços públicos, educação e saúde, além de criticarem os gastos para a realização da Copa.
Manifestações têm ocorrido recentemente em diversas cidades e, apesar de menores, várias têm sido marcadas pela violência.
Mesmo assim, a polícia teme que atos violentos possam manchar a festa.
“Obviamente, hoje, nossa principal preocupação são essas manifestações que geram bloqueios de vias e impedem o fluxo de pessoas e até das seleções”, disse à BBC Brasil o delegado Guilherme Almeida, coordenador da Comissão Estadual de Segurança de Grandes Eventos de São Paulo.
Ele é responsável pelo centro de comando da segurança de São Paulo.
Todas as cidades-sede terão instalações semelhantes, que receberão informações de diversos órgãos – polícia, bombeiros, trânsito — e de câmeras e equipes espalhadas pelas cidades.
‘Estamos preparados para superar quaisquer problemas’, disse Almeida.
O governo diz que as novas tecnologias e a integração entre os órgãos serão os maiores legados do evento.
Só em São Paulo, serão monitoradas imagens de 500 câmeras, 30 delas instaladas ao redor da Arena Corinthians, que receberá o jogo de abertura entre Brasil e Croácia no dia 12.
Uma câmera especial em um helicóptero da polícia conseguirá ler as placas de carros que estiverem nas ruas, por exemplo.
“Me dá medo”
A expectativa entre autoridades é de que protestos serão realizados durante o Mundial.
Os motivos variam e poderão ser desvinculados do evento, como economia ou violência urbana.
“O governo não tem nenhuma intenção de conter os protestos. O que nós vamos fazer é evitar a violência”, disse à BBC Brasil uma fonte do governo a par dos planos de segurança, em abril.
As imagens capturadas pelas câmeras em São Paulo, por exemplo, serão armazenadas e poderão ser usadas para identificar suspeitos de crimes, incluindo manifestantes ligados a atos violentos, e em eventuais investigações criminais.
Mas para alguns, o alto investimento se traduzirá em repressão.
“Me dá medo. Como cidadão, me dá medo de ir para as ruas porque a gente tem o direito de protestar e saber que eles estão investindo tanto assim para bater na população”, disse o fotógrafo André Solnik, de 27 anos.
— Realmente me deixa inseguro. Muita gente que gostaria de protestar não vai para as ruas justamente por isso.
Cerca de 150 mil oficiais patrulharão ruas, aeroportos, hospitais e fronteiras. Além disso, 20 mil seguranças privados farão a proteção de estádios onde as seleções estarão hospedadas.
Protestos na Copa?
Os protestos se tornaram uma das principais questões da Copa.
O apoio aos atos têm caído e a população se diz contrária à realização de manifestações durante o torneio, segundo pesquisas recentes, num momento em que a atenção do mundo estará no Brasil.
Apesar de, pelo que indicam levantamentos, cada vez menos brasileiros se dizerem favoráveis à realização do torneio no país, há sinais que apontam para uma mudança de humor quanto à Copa.
A “febre” das figurinhas do torneio, a corrida por ingressos e cenas cada vez mais frequentes de torcida, como bandeiras nos carros e ruas pintadas com os cores do Brasil, mostram entusiasmo, mesmo que limitado, com o evento.
Especialistas dizem, ainda, que o desempenho do Brasil nos gramados poderá ser um dos fatores determinantes no tamanho de protestos — e os eventuais impactos que terão na segurança do país.
Atos poderiam atrair mais pessoas no caso de uma eliminação precoce da seleção. Por outro lado, no caso do Brasil avançar e brigar pelo título, manifestações poderiam se esvaziar.
Apesar de tudo ainda ser especulação, muitos dão como certa a realização de protestos.
“É certeza que vai ter manifestação, mas violência creio eu que não, porque a presidente (Dilma Rousseff) já está cuidando disso, muito bem por sinal”, disse o estudante Davi Alves Pereira, de 23 anos.
— Mas violência diferente do que é não vai ter.
“Vai ser como sempre”
Os jogos da Copa serão realizados em cidades com altos índices de criminalidade, como Rio de Janeiro, Salvador e Recife.
As Forças Armadas também estarão à disposição dos Estados para emergências.
O investimento envolve ainda reforço da defesa em fronteiras, ar e mar e segurança cibernética, diante da ameaça da hackers de realizar ataques virtuais.
Mas nem todos estão convencidos de que os esforços serão infalíveis.
“Vai ser como tudo como é no Brasil. Não tem segurança nenhuma. As pessoas não vão poder sair nas ruas. As pessoas que moram aqui, porque as pessoas de fora, pode ter certeza, vão ter toda a segurança do mundo”, disse a empresária Leila de Souza Maia, de 34 anos.
— Os oportunistas, as pessoas que gostam de se aproveitar da situação, que são os vândalos, vão se aproveitar com certeza.
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