Comitê do Prêmio Nobel passa longe das vacinas anticovid

Data:

Compartilhar:

Roberta Jansen

RIO – Na segunda edição do Nobel realizada durante a pandemia de covid-19, parte da comunidade acadêmica e alguns leigos apostavam em uma premiação relacionada ao desenvolvimento da nova tecnologia de vacina de RNA mensageiro. Ela foi usada pela primeira vez na prevenção ao Sars-CoV2 e é apontada como uma revolução biotecnológica na área dos imunizantes. Essa expectativa, no entanto, até agora foi frustrada.

O prêmio não veio na medicina nem na química. Provavelmente também não virá na sexta-feira, quando será anunciado o Nobel da Paz. Segundo especialistas, isso já era esperado. Tradicionalmente, a academia sueca leva anos, até décadas, para premiar uma descoberta. As vacinas contra a covid-19 foram desenvolvidas no calor da pandemia, nos últimos dois anos. Era um vírus novo. Havia a pressão das mortes em massa e da economia parada.

Mais de 1 bilhão de pessoas em todo o mundo já receberam os imunizantes da Pfizer/BionTech e da Moderna, que usam a nova tecnologia. Os produtos excederam US$ 50 bilhões em vendas somente este ano. A plataforma abre caminho também para a criação de outras vacinas e até mesmo tratamentos para várias doenças.

“Até agora todas as vacinas eram feitas com fragmentos de vírus, inativados ou vírus atenuados”, explicou o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações, Renato Kfouri. “Esta é a primeira vez que se consegue enviar uma instrução genética para que o nosso organismo produza o antígeno.”

Entre as vantagens da nova tecnologia estão a maior facilidade para criar imunizantes para novas variantes do vírus ou mesmo para outros vírus. Basta mudar a instrução enviada para isso. Outra circunstância favorável é a produção em escala.

“Ainda está em fase teórica, mas a tecnologia pode ser usada para corrigir genes defeituosos, por exemplo”, afirmou o pesquisador André Báfica, especialista em imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “E já estão em fase inicial de testes uma vacina contra a zika e outra contra o câncer.”

Criado há 120 anos, o Nobel tem por objetivo premiar os pesquisadores que apresentaram “os maiores benefícios para a humanidade”. É uma categoria na qual as criadoras da nova tecnologia de vacinas se enquadram.

A academia, porém, costuma esperar que as descobertas estejam definitivamente consolidadas. Também aguarda que seu impacto possa ser devidamente mensurado. Só então lhe concede a láurea. Foi assim até com Albert Einstein. Considerado até hoje o maior nome da área, ele só levou o Nobel de Física em 1921. A premiação chegou dezesseis anos após publicação da Teoria da Relatividade Restrita e seis anos depois da Teoria da Relatividade Geral.

Os nomes que apareceram como favoritos na lista de apostas deste ano eram os das cientistas Katalin Kariko e Drew Weissman, da Universidade da Pensilvânia, nos EUA. Seus trabalhos com RNA abriram o caminho para o desenvolvimento das vacinas da Pfizer/BionTech e da Moderna contra covid. As duas pesquisadoras já tinham faturado alguns dos mais importantes prêmios da ciência este ano. Ganharam o Lasker Awards, chamado de “Nobel americano”, e o Breakthrough Prizes.

“Esta descoberta permitiu o desenvolvimento de vacinas altamente eficazes contra a covid-19”, justificou a Fundação Lasker, ao anunciar o prêmio. “Além de fornecer uma ferramenta para conter uma pandemia devastadora, a inovação está impulsionando o progresso em tratamentos e imunizantes para uma série de outras doenças.”

David Pendlebury, da Clarivate Analytics, que tradicionalmente publica uma lista dos favoritos ao prêmio, não se surpreendeu com o resultado do Nobel ter passado longe das duas cientistas. “Pensando no conservadorismo do comitê (do Nobel), não achei que fosse acontecer”, afirmou.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

EPISÓDIO 1

Notícias relacionadas