Mais de 80% das ligações registradas nos três primeiros meses do ano, ao Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (Ciosp), em Mato Grosso, foram trotes. Neste número, foram somados 386.761 mil ligações, sendo que 324.790 mil foram brincadeiras de mau gosto. O aumento de ocorrências por adultos também chama a atenção. Em 2015, 18.569 ligações foram registradas, enquanto que no passado esse número era 20% menor.
O coordenador do Ciosp, coronel PM Joelson Sampaio comenta que o número de trotes é muito alto, uma vez que corresponde a mais da metade das ligações recebidas pelo centro. Ele diz que o teor das brincadeiras envolve piadas e palavrões e também a comunicação de um fato que não é verdadeiro. “Esse é mais frequente, infelizmente, e pode causar uma situação delicada porque, em alguns casos, chegamos a deslocar uma equipe para o local do falso acontecimento e isso gera um custo para a máquina pública”.
Foi o que aconteceu há dois anos quando a polícia recebeu uma denúncia anônima que num prédio comercial da capital teriam quatro homens fortemente armados, inclusive com explosivos, e eles estariam mantendo pessoas como reféns. Aproximadamente 80 profissionais, entre Corpo de Bombeiros, Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) e Bope foram mobilizados na operação que durou mais de 2 horas. Após uma revista no local, nada foi encontrado e a polícia entendeu se tratar de um trote. O Serviço de Inteligência da polícia conseguiu identificar o suspeito e não era a primeira vez que ele fazia isso.
Coronel Sampaio lamenta que crianças, jovens e adultos insistam nessa prática de realizar ligações inconvenientes e explica que, normalmente, eles se aproveitam de telefones públicos, porém, alguns utilizam os celulares, o que dificulta a identificação e o rastreio. “Não há um efetivo para acompanhar e ficar vigiando para evitar as ligações. Mas em alguns casos conseguimos identificar o autor. Porém, só é crime quando é uma falsa história, os outros casos causam um desgaste para o profissional, mas não é criminoso”, diz.
‘Trote Zero’
O coordenador defende que é preciso incentivar uma mudança de comportamento da população. Para isso, deu início à segunda etapa do projeto “Trote Zero”, desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc) e o grupo de teatro Cena Onze. Criado no ano passado, o objetivo é conscientizar adolescentes e crianças da nocividade do trote e o quanto isso atrapalha o serviço na central de emergência do Ciosp. Em 2014, 20 escolas participaram da iniciativa.
Primeiramente, os estudantes visitaram o Ciosp e participaram de uma palestra educativa. Agora, uma equipe do centro e uma companhia de teatro irão até as escolas para atentar sobre os riscos do trote. “O intuito é mostrar com uma linguagem bem acessível para esse público o que acontece quando alguém liga e faz um falso comunicado. Na história da peça, enquanto uma pessoa está passando trote, outra está realmente precisando de ajuda”, narra Sampaio. (Com informações de Natália Araújo, repórter do jornal A Gazeta)
