As manifestações que invadiram as ruas do Brasil em junho são um sintoma de que o brasileiro está mais próximo da democracia. Depois de milhões de pessoas emergirem para a classe média, comprarem seu primeiro carro e fazerem a primeira viagem de avião, o brasileiro agora quer serviços públicos de boa qualidade. O diagnóstico é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que publicou artigo no jornal americano The New York Times desta terça-feira (16).
No texto, Lula diz que é mais fácil explicar as passeatas das ruas da Tunísia e do Egito, em 2011, quando a população estava revoltada com regimes totalitários que dominavam o poder. Na mesma medida, é mais simples, segundo Lula, determinar as causas dos protestos na Espanha e na Grécia, onde as taxas de desemprego estão altíssimas e a recessão é notícia frequente nos jornais.
Para o ex-presidente, as manifestações se devem ao sucesso dos progressos sociais, econômicos e políticos e refletem o “aumento do acesso à democracia, o que encoraja as pessoas a participar do processo democrático com maior profundidade”.
Lula cita que, nas últimas décadas, o Brasil dobrou o número de estudantes universitários — “muitos de famílias pobres” — e houve uma drástica redução na pobreza e na desigualdade. Por causa desses fatores, “os jovens, que estão conseguindo bens que os pais nunca tiveram, desejam ter mais. […] Eles querem mais lazer e atividades culturais”.
Acima de tudo, porém, “os jovens demandam mais clareza e transparência das atividades das instituições financeiras”, segundo o ex-presidente. Lula diz que “a democracia não é um acordo com o silêncio” e alerta que, quando os partidos políticos estão em silêncio e as soluções vêm à força, o resultado é desastroso: “guerras, ditaduras e perseguição a minorias”.
No artigo, Lula diz que as instituições democráticas e os partidos políticos precisam de uma “profunda renovação”, inclusive o Partido dos Trabalhadores, que ele próprio ajudou a fundar. O ex-presidente usa a seguinte expressão para resumir o problema: “enquanto a sociedade entrou na era digital, os políticos permaneceram na era analógica”. Por isso, os líderes políticos têm um grande desafio em suas mãos, segundo Lula.