Uma empreiteira que até o fim da década de 90 era desconhecida virou, no ano passado, a maior recebedora de recursos do Governo federal. Trata-se da Delta Construções, que recebeu em 2009 R$ 720,1 milhões, quase o dobro de 2008 e 1.957% a mais do que no primeiro ano do governo Lula, 2003. A informação é do jornal Folha de S. Paulo.
Segundo a reportagem, a Delta foi a principal beneficiada por contratos emergenciais (sem licitação) na Operação Tapa-Buraco realizada pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para melhorar o asfaltamento das rodovias federais.
A direção do órgão é indicada por PT e PR. É de lá que vieram mais de 80% dos recursos recebidos em 2009 do governo federal, quase todos para serviço de manutenção de estradas.
Esta é a segunda vez que o jornal paulista cita o DNIT, comandado pelo mato-grossense Luiz Antonio Pagot, em suposto esquema de propinas. Na semana passada, o executivo foi citado como sendo um dos beneficiados, como R$ 500 mil, pela empreiteira Camarago Correa, investigada pela Operação Castelo de Areia.
O DNIT, vinculado ao Ministério dos Transportes, foi o órgão que mais fez pagamentos à Delta em 2009. A empresa obteve 52 contratos com o órgão, que somam R$ 1 bilhão (99% deles obtidos por concorrência pública). O valor é 120% superior ao volume de contratos de 2008 (42 contratos totalizavam R$ 401 milhões).
Dados do Portal da Transparência mostram que a empresa recebeu R$ 720,1 milhões do governo, sendo 87% do Dnit, segundo a ONG Contas Abertas.
Fundada em Pernambuco em 1961, a Delta Construções era uma pequena empreiteira até pouco mais de dez anos.
Comandada por Fernando Cavendish Soares, começou a se destacar no Rio no final da década de 90, na gestão de Anthony Garotinho. Inspeções do Tribunal de Contas do Estado na época constataram problemas em obras da Delta, que continuou recebendo contratos.
Conforme a Folha, o faturamento da Delta passou de R$ 251,7 milhões, em 2002 (último ano do governo FHC), para R$ 1,3 bilhão em 2008.
Nos últimos três anos, ela já era a empresa privada que mais havia recebido recursos do governo. Ficava atrás apenas das financiadores de pesquisa e colheita de café, que foram ultrapassadas neste ano. Em sete anos, já são R$ 2 bilhões pagos a esta empresa só pela União. Os dados são do Siafi (Sistema de Administração Financeira) e foram obtidos pela ONG Contas Abertas.
Fora do governo federal, a companhia tem negócios diversos em vários municípios -de recolhimento de lixo à implantação de lombadas eletrônicas.
O crescimento da pernambucana Delta, que migrou para o Rio no governo de Anthony Garotinho em 1999, seguiu o estreitamento de sua relação com políticos de vários partidos.
Mesmo assim, ela ainda está longe das gigantes do setor: não chega a 5% do faturamento do Grupo Odebrecht, por exemplo, cuja construtora faturou quatro vezes mais que a Delta.
O aumento do volume de pagamentos no governo federal aconteceu após 2004, quando ela foi a sétima maior empresa doadora da campanha de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo (R$ 415 mil ao comitê partidário) -a empresa já era fornecedora do governo.
Também doou mais R$ 1,2 milhão a candidatos do PMDB e PL (hoje PR) e R$ 120 mil a um candidato do PSDB.
Com Folha de S. Paulo