De protagonista a cidadão comum: a vida de Joaquim Barbosa um ano após as prisões do Mensalão

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O relógio marcava 18h30m da última terça-feira quando Joaquim Barbosa apareceu nas proximidades da esquina das Avenidas Ataulfo de Paiva e Borges de Medeiros, no Leblon. Enquanto as lojas baixavam as portas, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) caminhava a passos lentos, acompanhado por uma moça mais jovem. De camisa clara, calça comprida e chapéu estilo Panamá, o visual contrastava com o traje sisudo dos tempos de ministro. A toga exigida nas sessões não existe mais. Um ano após a prisão de José Genoíno, ex-presidente do PT e primeiro réu do mensalão a ir para a cadeia, Joaquim, como é chamado por vizinhos, comerciantes e porteiros, trocou a rigidez do tribunal pelo prazer de uma caminhada na Zona Sul carioca no fim da tarde.

Pouco antes, ele dera uma palestra para funcionários do Banco Itaú, no Copacabana Palace. A ideia de Barbosa é ampliar a participação nessas conferências. Mais tarde, enquanto os ex-colegas de STF discutiam uma decisão do Conselho Nacional de Justiça que afastou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Roraima (TRE-RR), Alcir Gursen de Miranda, Barbosa cumprimentava o segurança Marcelo Barros, veterano no trecho que ocupa a fronteira entre Leblon e Ipanema.

— Ele sempre fala comigo. A gente se conhece há bastante tempo, ele nem era juiz ainda — conta Barros, em referência ao período em que Barbosa era procurador da República no Rio.

Mineiro de Paracatu, a quase 500 quilômetros de Belo Horizonte, o juiz aposentado mantém o apartamento em solo carioca desde os tempos de Ministério Público. Também nesta época, ele se tornou professor da Uerj. Atualmente licenciado do cargo, está pensando em pedir exoneração. Um dos campos de interesse durante a carreira acadêmica era o estudo do impacto das políticas de inclusão no Judiciário. Com a mudança para Brasília, após ser nomeado para o STF pelo então presidente Lula, Barbosa passou a frequentar a cidade de forma eventual. Depois de se aposentar do Supremo, em julho, largou o protagonismo exercido durante o processo do mensalão e abraçou o estilo low profile, como quem evita ser visto. Mas, quando descoberto — debaixo de habituais bonés ou chapéus —, não é mais o magistrado implacável nas penas e conhecido também por evitar até mesmo receber advogados em seu gabinete. Barbosa — ou Joaquim — tira fotos, distribui sorrisos e não economiza nos cumprimentos.

— Há duas semanas, ele desceu do táxi e logo veio uma senhora. Ele tirou foto, conversou, e ela ficou na maior felicidade — lembra o porteiro de um prédio vizinho.

Quando estava no STF, por imposição do cargo, Barbosa não podia circular com a mesma facilidade. Dois carros com seguranças ficavam parados na esquina, e um outro vinha buscá-lo na portaria do prédio. Mas a liturgia não o impediu, por exemplo, de ir ao samba do Renascença, no Andaraí, na Zona Norte do Rio, no fim do ano passado. Apesar de não aparecer por lá há alguns meses, outro local que conta com a simpatia do ex-ministro é o Chico & Alaíde, tradicional reduto boêmio e do chope pós-praia no Leblon.

— Tem gente que vem aqui e fica com pose de estrela, mas ele não é assim — diz um garçom.

As lembranças da época severa de STF voltam à tona apenas na busca por informações no prédio em que vive. Tal qual o advogado que ansiava em vão por uma audiência em Brasília, o repórter não consegue atravessar a barreira — neste caso, as grades da portaria — que cerca o entorno do discreto ex-presidente do tribunal mais relevante do país. Para perguntas diferentes, uma mesma resposta.

— Não posso falar sobre isso, desculpa — abrevia a conversa o porteiro, de modo firme e educado.

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