Rumo a Mato Grosso. Foi com esta frase que o prefeito Wilson Santos se despediu da equipe de reportagem do Diário, fazendo referência à sua candidatura ao Governo do Estado.
Sua saída da Prefeitura de Cuiabá para participar da disputada deste ano só depende de um detalhe: o resultado de pesquisas eleitorais apontando quem está mais bem cotado pela população: ele ou senador Jayme Campos (DEM).
Num acordo firmado entre tucanos e democratas, o vencedor dessa pesquisa – que vai às ruas no dia 25 deste mês – será o candidato ao Palácio Paiaguás, com apoio do outro. Portanto, no momento, o maior concorrente de Wilson Santos é justamente seu aliado.
O prefeito garante que a decisão sobre quem vai comandar a majoritária depende única e exclusivamente desse resultado e que, caso o senador leve vantagem nessa disputada antecipada, irá cumprir o acordo.
À frente da Prefeitura pelo segundo mandato consecutivo, Wilson Santos garante que se não for candidato ao Governo, não deixa o comando do Executivo cuiabano. Se isso acontecer, o prefeito vai sofrer, no mínimo, uma frustração, já que todas as suas ações e discursos nesse momento são preparatórios para sua saída.
Na tentativa de cooptar partidos para o seu projeto, o prefeito oferece secretarias do staff cuiabano para alguns partidos, como PP e PPS. Ele revela que a pasta de Trabalho e Emprego vai ficar com o PPS e acredita que a legenda vai estar na aliança com PSDB, mesmo parte do grupo apoiando o pré-candidato Mauro Mendes.
Como bom político e pré-candidato da oposição, na entrevista, o prefeito ressaltou as benfeitorias da sua gestão, com destaque para a Avenida das Torres e a ETA Tijucal, e criticou a falta de investimento do Governo Maggi na Capital.
Diário de Cuiabá – O senhor vai ser candidato ao Governo do Estado este ano?
Wilson Santos – Em março respondo a esta pergunta!
Diário – Quais são as ponderações para essa decisão?
Wilson – Há uma única situação que é pública há meses: eu e o senador Jayme estamos aguardando o resultado de uma pesquisa para anunciar o candidato da oposição em março.
Diário – O Governo Maggi tem recebido muitas críticas por parte dos tucanos, que afirmam falta de investimentos na Capital. O senhor acredita que houve omissão do Governo do Estado na intenção de prejudicar a sua imagem e o PSDB?
Wilson – O Governo Maggi investiu em Cuiabá, mas na gestão do Governo França [Roberto França – ex-prefeito da Capital], bem mais do que na minha. Investiu, sim, mas não no nível que Cuiabá merece, representa historicamente, socialmente e economicamente. A Capital recebeu investimento do Governo Maggi, mas muito aquém do que os cuiabanos e a cidade representam. Não foi tratada como uma Capital.
Diário – Na campanha para prefeito em 2008, o senhor afirmou que não deixaria a prefeitura para ser candidato. Se realmente disputar o Governo, não teme o julgamento da população por conta da declaração anterior?
Wilson – O povo é soberano e saberá analisar e julgar.
Diário – 2009 foi um ano complicado para a Prefeitura de Cuiabá: greve dos médicos, Operação Pacenas com as obras do PAC paralisadas, alto índice de casos da dengue, a polêmica venda da Travessa Tufik Affi… Na sua avaliação, esses casos podem prejudicar a possível candidatura?
Wilson: Olha, quem disputa eleições está sujeito a debater todos os temas. Todos os temas, positivos ou negativos, serão motivo de debates.
Diário – A ETA Tijucal é uma promessa de campanha ainda do seu primeiro mandato. Depois de embargos da Justiça e a Operação Pacenas, a Estação ainda não foi finalizada. O que aconteceu com a Eta Tijucal? Ela fica pronta até abril?
Wilson – A ETA Tijucal já deveria ter sido inaugurada há anos. O início desse imbróglio foi o não pagamento de uma emenda parlamentar no valor de R$ 27 milhões, de autoria da deputada Thelma de Oliveira, em parceria com o deputado Wellington Fagundes e o senador Antero Paes de Barros. Uma emenda que constou no orçamento geral da União de 2007 e não foi paga. A partir daí, começou uma série de problemas. Mas a obra foi retomada desde novembro do ano passado e será a maior obra física da minha gestão e a maior obra de saneamento de Cuiabá nos últimos 40 anos.
Diário – Como o senhor já falou, PSDB e DEM têm um acordo: quem estiver mais bem colocado em pesquisas eleitorais terá o candidato ao Governo em 2010, ou seja, o senhor ou o senador Jayme Campos. A decisão de quem será o candidato depende exclusivamente dessas pesquisas ou outros fatores podem interferir?
Wilson – Exclusivamente da pesquisa!
Diário – Se, eventualmente, o senador ficar na frente nas pesquisas, o senhor vai cumprir o combinado?
Wilson – Positivo!
Diário – Se Jayme Campos for o candidato ao Governo, o senhor sai da prefeitura para tentar outro cargo, como o Senado?
Wilson – Não! Se não for para ser candidato, não saio da prefeitura por nada, fico aqui e continuo meu trabalho.
Diário – DEM e PSDB têm um histórico de rivalidade em Mato Grosso. Isso não pode ser estranho aos olhos dos eleitores?
Wilson – A campanha vai durar aproximadamente 120 dias, vai ser o território e o espaço para debater todas as questões, mas principalmente de quem tem propostas e soluções para Mato Grosso. Não é comum adversários se aliarem, mas acontece. O presidente Lula também era adversário ferrenho de Paulo Maluf, Fernando Collor de Melo e José Sarney, e hoje tem todos eles em sua base aliada e isso não impede que a população avalie de maneira positiva o Governo Lula.
Diário – A Assembleia Legislativa tem em curso a CPI da Saúde. Tendo como estopim a crise no setor em Cuiabá, ela vai investigar os repasses do Governo para a Prefeitura e, por sua vez, os investimentos da prefeitura no setor. O senhor teme o resultado dessa CPI? E inda, como é presidida pelo deputado Sérgio Ricardo, do PR, acha que ela pode se tornar uma arma eleitoral?
Wilson – Nós não tememos nenhum resultado da CPI e já fornecemos todos os documentos requisitados. Tenho certeza de que a CPI vai chegar à conclusão de que a saúde de Cuiabá é a melhor do Estado, que o interior não possui saúde pública. A redução do atendimento no pronto-socorro é nosso melhor termômetro, o quanto atingiu o interior do Estado.
Diário – Umas das principais críticas da prefeitura ao governo é em relação à falta de um hospital regional na Capital…
Wilson – Na verdade, a saúde não vem sendo tratada como prioridade pelo Governo do Estado. A infraestrutura médico-hospitalar no interior é muito frágil e Cuiabá acaba sendo sobrecarregada. E a minha ordem é atender a todos, independente da origem, do município, recebemos a todos. O pronto-socorro não fecha, funciona 24 horas por dia durante o ano todo, é a única unidade de saúde referenciada para urgência e emergência. A solução seria a construção de um pronto-socorro estadual em Cuiabá, a conclusão do hospital central, a expansão da rede de hospitais regionais no interior, um apoio financeiro do Estado para que os municípios contratem médicos especialistas suficientes, ampliação dos leitos de UTI no interior, e ainda que gaste de 15 a 18% de toda receita corrente liquida do Estado com saúde, hoje gasta-se menos de 10%.
Diário – Na sua gestão, quais as áreas onde a prefeitura teve mais avanços?
Wilson – Em todas as áreas. Por isso que Cuiabá teve muitos avanços. Vencemos Campo Grande para sediar a Copa do Mundo; temos o segundo melhor Índice de Desenvolvimento Humano do Estado, só perdemos para Lucas do Rio Verde. Em IDH, superamos municípios jovens e fortes economicamente, como Sapezal, Sorriso, Primavera, Sinop, Nova Mutum, Campo Verde, Tangará da Serra. Fomos considerados pela revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios a terceira melhor cidade do Brasil para investimento, na faixa populacional de 500 a um milhão de habitantes. Ganhamos o prêmio Prefeito Amigo da Criança, o prêmio Mama África, de política de promoção da igualdade racial; temos o prêmio Prefeito Empreendedor do Sebrae nacional; no índice de desenvolvimento da Educação Básica, há dois anos estamos acima das exigências do MEC; temos a educação inclusiva para deficientes; colocamos três mil jovens dentro das universidades, em cinco anos. Temos uma política de fomentar o micro e pequeno empreendedor através do Cuiabanco. Na saúde, reduzimos em mais de 25% a mortalidade infantil na Capital; ampliamos a rede física; voltamos os olhos para a saúde preventiva aumentando de 29 para 63 equipes da saúde da família. Na Cultura, fizemos um grande programa valorizando a cultura cuiabana, as raízes, sem deixar de valorizar as demais culturas. No esporte, chacoalhamos o município com o Peladão, o Bengalão e colocamos Cuiabá nas corridas de rua. Na parte de regularização fundiária nossa gestão é recordista, pois entregamos mais de 13 mil títulos na periferia da cidade. Na área do saneamento, estamos retomando as obras do PAC, fazendo nova licitação. Enfim, mas sem dúvida, acho que a área em que mais evoluímos foi a educação. Em países de terceiro mundo ou em desenvolvimento, como é o caso do Brasil, não vejo nada mais importante que a educação. Desenvolvimento sólido, firme e consistente se faz com educação.
Diário – E os setores que carecem de mais investimento em Cuiabá?
Wilson – Na verdade, os municípios brasileiros são os burros de carga da nação. Enquanto a União fica com 64% das receitas e os Estados com 22%, os 5.562 municípios ficam com apenas 14%. Isso é insuficiente para tocar o dia-a-dia da cidade, imagine falar em investimentos. Mas minha gestão ainda foi pródiga. Construímos a Avenida das Torres, com 13 km, dupla, toda iluminada, em parceira com o governo do Estado, com a senadora Serys. Depois de 23 anos a cidade ganha uma avenida estruturante. Iniciamos o rodoanel, idealizamos e estamos executando esse projeto. Estamos fazendo a maior reforma da história do pronto-socorro, em parceria com o Ministério da Saúde. Enfim, mesmo com todas as dificuldades, e sem ter o governador e o presidente na minha base aliada, não tive a sorte de contar com nenhum dos dois na minha base, consegui fazer projetos importantes, obras seculares, que irão transformar para melhor a vida da cidade.
Diário – O senhor vai completar troca de secretariado até abril?
Wilson – São poucas mudanças. A Secretaria de Trabalho e Emprego vai para o PPS, compromisso antigo nosso. Na pasta de Assistência Social, a Celcita Pinheiro pediu para sair, e então vai entrar o Jader Martins Moraes. Na educação, o secretário Carlão vai ser candidato a deputado estadual e no lugar dele entra o Permínio Pinto.
Diário – O PRTB, com dois vereadores na Câmara, há tempos quer o comando de uma Secretaria. Em face dos novos escândalos, com o vereador Totó Cesar, além do caso de Ralf Leite, eles podem continuar sem espaço?
Wilson – o vice-prefeito Chico Galindo está nomeado para tratar desse assunto. Logo ele volta de férias e vai tratar disso.
Diário – Se o senhor sair, o vice-prefeito Chico Galindo terá autonomia de gestão ou vai haver sugestões tucanas na administração?
Wilson – O Chico Galindo é uma saudável surpresa. Leal, trabalhador, profundo conhecedor da prefeitura e que vai dar continuidade à nossa gestão. Os compromissos que eu fiz na campanha passada também são do Chico. Muitas coisas eu deixarei em fase final, por concluir. Tio Chico dará o acabamento. Outras coisas ele continuará, mas a gestão do Chico é a continuidade da nossa gestão.
Diário – No caso do senhor ou Jayme como candidato, quem seria o adversário mais forte: Silval Barbosa ou Mauro Mendes?
Wilson – Bem, eu não tenho adversários, tenho concorrentes de momento, de ocasião. Não os vejo como adversários, inimigos.
Diário – Adversário nas urnas…
Wilson – Quem quer vencer eleição não escolhe concorrente. Vamos respeitar todos, como sempre fizemos. E vamos estar preparados para o debate. Que o Estado ganhe, que a população sinta firmeza na experiência, no preparo para fazer as mudanças de que o Estado precisa, consolidar as conquistas da atual gestão e melhorar a vida da população, governar para todos, não para uma meia dúzia.
Diário – Para o próximo pleito, além da aliança com o DEM e PTB, quais outros partidos o PSDB gostaria de ter juntos na aliança?
Wilson – O PSDB está trabalhando com DEM, PTB, PPS e PV. Mas daqui até junho a gente define uma aliança.
Diário – O PPS, mesmo com o presidente estadual da sigla, Percival Muniz, trabalhando na candidatura de Mauro Mendes, tem chance de compor com o PSDB em Mato Grosso?
Wilson – Tenho certeza de que o PPS estará conosco, essa é a orientação institucional do partido. Estamos dialogando com o PPS estadual, queremos esse entendimento de maneira elevada, não por questões individuais, pessoais. Tenho certeza de que eles estarão nesse arco de aliança. O partido faz parte da minha gestão, o vereador Ivan Evangelista foi meu líder na Câmara Municipal. O PPS ocupa cargos estratégicos na atual gestão e tenho certeza de que o partido cumprirá a orientação nacional e marchará na aliança onde estarão DEM e PSDB