Em maio de 2009, foram comercializados mais de 559 mil unidades do medicamento à base da substância. No mesmo mês de 2010, esse número caiu para 213 mil, uma queda de 62%. Essa redução também se verifica quando se comparam as vendas entre abril do ano passado e deste ano. De 530 mil unidades comercializadas em 2009, passou para 216 mil em 2010, o que representa queda de 59%.
Mesmo com a queda das vendas da sibutramina no país, o faturamento chega à casa dos milhões de reais a cada ano. Em 2008, as vendas do medicamento atingiram R$ 215, 5 milhões, mais do que os R$ 215, 1 milhões de 2009. Neste ano, a venda do remédio já rendeu mais de R$ 52 milhões às farmacêuticas, segundo dados da IMS Health do Brasil.
O período coincide com a aprovação de uma resolução da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que, no fim de março deste ano, obrigou esses medicamentos a serem comercializados apenas com a apresentação da receita azul (B2), numerada e emitida pelos órgãos de Vigilância Sanitária locais, por meio de gráficas autorizadas. Ainda pela resolução, o produto passa a ser vendido com tarja preta em vez de vermelha, de caráter totalmente restritivo.
Farmácias não aceitam receita antiga
Para verificar se a orientação da agência está sendo respeitada, a reportagem do R7 visitou 14 farmácias espalhadas pelas cinco regiões da cidade de São Paulo. Entre farmácias de grandes redes e pequenos estabelecimentos, somente em um foi possível comprar a sibutramina sem a receita B2 (azul), utilizando apenas a receita branca, fornecida por qualquer médico, em duas vias, que era antigamente exigida para adquirir o remédio.
A farmácia que vendeu o produto é um pequeno estabelecimento localizado no centro da capital paulista. O atendente do local afirmou que, apesar de não possuir o remédio industrializado (produzido pela indústria farmacêutica), ele poderia fabricar um medicamento por manipulação.
Em outra farmácia, também um pequeno estabelecimento, localizado no bairro da Lapa, na região oeste, um balconista pretendia vender o remédio sem a receita B2 porque ainda possuía caixas de sibutramina com a tarja vermelha. Essa compra, no entanto, foi vetada pelo gerente do local.
Nas outras 12 farmácias, a compra da sibutramina com a receita branca em duas vias não foi permitida, e todos os funcionários abordados souberam explicar o motivo da restrição.
De acordo com a Anvisa, a fiscalização das vendas de medicamentos em farmácias e drogarias é feita, prioritariamente, pelas Vigilâncias Sanitárias dos Estados e municípios. Mas, no caso de medicamentos controlados como a sibutramina, as farmácias e drogarias devem utilizar, obrigatoriamente, o SNGPC (Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados) controlado pela agência, que recebe informação de prescrição e consumo desses medicamentos de forma eletrônica.
Médicos que não receitam o medicamento segundo as novas regras estão sujeitos a penas que vão de advertência a cassação do exercício profissional, segundo decisão do Conselho Federal de Medicina.
O Brasil, Estados Unidos e Argentina são os maiores consumidores de moderadores de apetite no mundo, segundo a Comissão Internacional de Controle de Narcóticos, ligada à ONU (Organização das Nações Unidas). Desta forma, a mudança na receita tem como objetivo diminuir o consumo do emagrecedor que, segundo estudo divulgado pela Anvisa, aumenta em 16% o risco cardiovascular não fatal em pacientes tratados com o remédio.
Segundo o SNGPC, o consumo do produto no país em 2009 se mostrou alto, com crescimento gradativo ao longo do ano. O ápice foi atingido em outubro, quando foram consumidos mais de180 milhões de miligramas de sibutramina no país, ante os 100 milhões de miligramas consumidos em fevereiro – mês com menor registro do ano. Neste caso, vale considerar que o aumento do consumo pode ser em função da preparação para o verão no mês de dezembro.
O recomendado para um adulto é a ingestão de 10 mg por dia. Ainda segundo o relatório, os cinco maiores Estados consumidores de produtos manipulados à base de sibutramina no Brasil são Goiás, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
A restrição ao medicamento passou a ser total na Europa em janeiro deste ano, quando Agência de Medicamentos da Europa (Emea, na sigla em inglês) proibiu a venda dos medicamentos feitos com a substância.
A proibição foi baseada na pesquisa SCOUT (Sibutramine Cardiovascular Outcome Trial), feita pela agência, em que aproximadamente 10 mil pacientes foram avaliados por seis anos com o intuito de relacionar o impacto da perda de peso por meio da sibutramina e problemas cardíacos.
A Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) afirmou que a substância aumenta os riscos de enfarte em pessoas que já têm problemas cardíacos.