O governador de Mato Grosso, Pedro Taques, não se calou, sexta-feira, em Brasília, no encontro de governadores com a presidente Dilma, após ela declarar que o fato da Polícia Federal levar Lula para depor era “abuso de autoridade”, que “bastava convidar Lula” a prestar esclarecimentos e que estava “indignada”.
O governador, que foi procurador de justiça e professor de Direito, se posicionou e não concordou com Dilma. “Entendo que não houve desrespeito, presidente. Ninguém está acima da lei. A lei não pode servir para beneficiar amigos nem para prejudicar inimigos. Eu não sairia desta sala com a consciência tranquila e não respeitaria o bom povo de Mato Grosso, que me mandou aqui, se não expressasse minha opinião.
Entendo que não houve abuso ou perseguição. Ninguém está acima da lei. Todos, inclusive eu, podemos ser investigados”, afirmou Taques. A informação é do jornalista Josias de Souza, do UOL.
Josias registrou que Taques foi o único a enfrentar Dilma e manifestar contrariedade ao seu discurso atacando o Ministério Público Federal e a Justiça Federal. O jornalista relata mais detalhes do que ocorreu na reunião dos governadores com a presidente:
Além das referências a Lula, Dilma tomou o tempo dos governadores para defender a si mesma das acusações feitas por seu ex-líder no Senado, Delcídio Amaral, hoje um delator premiado da Lava Jato. Delcídio disse, entre outras coisas, que Dilma sabia que a refinaria de Pasadena, no Texas, fora adquirida com sobrepreço pela Petrobras, para que a diferença fosse usada no pagamento de propinas: Dilma presidia o Conselho Administrativo da Petrobras na época em que o negócio foi fechado.
Contra o ataque de Delcídio, ela exibiu aos governadores decisão do procurador-geral da República Rodrigo Janot. Em despacho de julho de 2014, o chefe do Ministério Público Federal arquivara representação em que um grupo de senadores pedia a abertura de inquérito para responsabilizar Dilma pelo prejuízo imposto à Petrobras –coisa de US$ 800 milhões.
Por mal dos pecados, Pedro Taques assinou a representação protocolada na Procuradoria contra Dilma. Na época, ele era senador pelo governista PDT. Viu-se compelido a mencionar o fato na reunião da última sexta: “Presidente, quero dizer a Vossa Excelência que eu, pessoalmente, redigi essa peça. Representei contra a senhora na Procuradoria.
Meu nome está aí. Não posso esquecer o que assinei e redigi. Eu e colegas como Cristovam Buarque, Pedro Simon, Randolfe Rodrigues… Li a decisão do procurador-geral. Respeito a sua história. Mas não renego o que escrevi.”
“Você viu a minha resposta ao procurador?”, indagou Dilma, determinando a um auxiliar que entregasse cópia a Taques. O governador respondeu que já conhecia a peça. Não quis polemizar com a presidente. Autorizado, deixou a reunião antes do término-
De Brasília, Taques voltou para Cuiabá.