O meia Phillipe Coutinho (frente) deixou o Vasco aos 18 anos e foi para a Inter de Milão
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Prova disso é que em 2009 o sérvio Petkovic foi considerado o melhor meia do futebol brasileiro, depois de levar o Flamengo ao título do Brasileirão. Em 2010, dois argentinos foram eleitos pela CBF como os melhores da posição. Conca, campeão com o Fluminense, e Montillo, vice com o Cruzeiro.
O problema ficou escancarado na Copa do Mundo da África do Sul, em 2010. Kaká era o único responsável pela armação do time mas não conseguia criar jogadas diferentes para decidir as partidas. No banco, nenhum dos reservas tinha como principal característica a criatividade. Resultado: o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela Holanda, time no qual quem ditava o ritmo era o meia Sneijder, um camisa 10 clássico.
Quando estava no São Paulo, Muricy Ramalho, campeão brasileiro de 2010 com o Fluminense, tentou resolver o problema. Convocou uma reunião com Marcos Vizolli, então treinador das categorias de base do clube, para pedir que os times de jovens atuassem em esquemas táticos que favorecessem a formação de meias.
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Em entrevista ao R7, Vizolli lembra daquela reunião e reclama de que muitas vezes os jovens saem da base como meias e são usados em outras posições no time profissional.
– Ele [Muricy] teve uma reunião com a gente sobre isso e eu fui muito claro com ele. A base se preocupa em formar meias. O Muricy falou que a base precisaria jogar no 4-4-2 para formar mais meias, só que ele mesmo não joga no 4-4-2. Eu vejo alguns treinadores de nome falando que a base é importante nessa formação, mas quando chegam no profissional eles utilizam esses jovens de uma outra forma. O que eu vejo é que tudo o que nós trabalhamos na base é perdido quando os garotos chegam no time de cima.
Vizzoli, que hoje dirige o time B do São Paulo, dá o exemplo de Jean, lateral-direito do São Paulo, para mostrar como um jogador é “modificado” ao longo da carreira.
– Quando chegou na base do São Paulo, o Jean era um meia forte, que marcava e jogava bem com a bola nos pés. Automaticamente ele foi trazido para trás porque ele tinha muita força e boa saída de bola, então foi jogar de volante, como cabeça de área. E agora está na lateral direita porque é forte, sabe marcar.
– Acho que o Brasil acaba perdendo os melhores muito cedo para fora do país, mas em algum momento houve falha na formação dos clubes do Brasil, sem dúvida. Acho que todo ano nós teríamos que ter pelos menos o domínio nas indicações para as premiações.
Para o dirigente, Phillipe Coutinho, que saiu do Vasco em julho de 2010, aos 18 anos, era um grande candidato ao prêmio de melhor meia do Brasileirão. Mas o dinheiro falou mais alto, e o garoto hoje brilha com a camisa da Inter de Milão.
– Não dá nem tempo do garoto jogar no profissional, porque o clube precisa do dinheiro e vende o jogador. É uma pena, mas infelizmente está acontecendo muito isso. E aí a gente tem que correr atrás para trazer lá fora alguns jogadores desse estilo, porque aqui não temos mais.
Biasotto apresenta duas soluções para o problema. Primeiro, os clubes têm que segurar suas estrelas, como fez o Santos com Neymar e Ganso. No que diz respeito à categoria de base, a saída seria utilizar vários esquemas táticos.
– Existem alguns problemas táticos que precisam ser resolvidos na base para que sejam formados mais jogadores em posições específicas. Isso varia muito de clube para clube. Tem alguns que formam mais meias, outros mais zagueiros, outros mais atacantes. Se você for tirar uma média do Santos nos últimos anos, vai ver que é um clube que formou muitos meias e atacantes.Outros clubes só formam zagueiros. A solução seria revezar os sistemas táticos para que possamos formar jogadores em várias posições.