A frustração provocada pela Seleção se justifica.
Scolari não expôs seu time em Fortaleza.
Torcedores choraram para as câmeras.
Outros correram, tentaram invadir o hotel.
Não conseguiram.
Fãs de Neymar gritam, choram se descabelam.
Carregam cartas, bichos de pelúcia.
Imploram para ver um mero treino.
Mas Scolari está irredutível.
Desta vez seu radicalismo em relação à Seleção tem razão de ser.
A origem é de 2006.
Nasceu na gelada Weggis, pequena cidade da Suíça.
A ganância da CBF expôs o Brasil ao ridículo.
Ricardo Teixeira vendeu a um grupo de empresários a preparação do Brasil.
A Seleção iria disputar a Copa do Mundo da Alemanha.
Por US$ 1 milhão, Teixeira levou os atletas para a Suíça.
Esse grupo de empresários transformou a Seleção em atração de circo.
Estava lá e acompanhei de perto todos os abusos.
Quem comprou o Brasil queria lucro.
E tratou de montar uma ‘feira brasileira’.
Barracas vendiam de tudo ligado ao Brasil.
Desde guaraná em pó, cerveja, camisa falsificada da Seleção.
O produto mais divulgado era a ‘pinga do Brasil’.
Suíços se embriagavam de caipirinha como aquecimento.
A atração principal eram os treinos do Brasil.
Não eram abertos, eram escancarados ao público.
O acesso era cobrado.
O dinheiro ficava com os organizadores.
Um complexo esportivo foi montado para a Seleção.
Arquibancadas cercavam o campo de treinamento do Brasil.
Nelas, mesmo com o frio de cinco graus, mulatas de biquini sambando.
Os suíços ficavam boquiabertos.
Várias prostitutas se misturavam aos torcedores.
Gritavam, provocavam os atletas.
A segurança era péssima.
Tanto que uma fã de Ronaldinho Gaúcho invadiu o treino.
O abraçou e não queria largar mais.
Parreira assistia a cena e não podia fazer nada.
Quem obrigou a Seleção a treinar lá era Ricardo Teixeira.
Seu coordenador, Zagalo, estava frágil.
Se recuperava de severa cirurgia.
Parreira estava sozinho e via o caos da preparação.
Não houve o menor isolamento.
Nem como exigir nada.
Como um comportamento adequado da torcida.
O motivo era simples e não admitia discussão.
Os torcedores pagavam para acompanhar o treino.
E se comportavam como tivessem ido ao circo.
Eles aplaudiam, vibravam, gritavam entusiasmados.
Não pela estratégia de Parreira.
Mas pelas embaixadinhas.
Logo virou uma competição entre os atletas.
Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Ronaldo.
Todos brincavam.
Se animavam ao querer arrancar palmas dos torcedores.
Roberto Carlos gostava de mostrar a potência dos seus chutes.
Os suíços ficavam encantados com a força que batia na bola.
E ele adorava.
Parreira foi vaiado várias vezes.
Bastava parar o treino para orientar taticamente o time.
E vinham as vaias.
Tudo bizarro demais.
Foram duas semanas bizarras.
Onde o torcedor teve acesso total ao treinamento para a Copa do Mundo.
Foi traumatizante para os poucos jornalistas que foram até lá.
Quanto mais para Parreira.
“Foi erro que nunca mais deve ser repetido.
Um grande exagero”, disse o treinador após o Mundial.
Os reflexos vieram na Alemanha.
O prejuízo não foi só tático.
Ronaldo e Adriano disputaram a Copa muito acima do peso.
O preparo físico do Brasil foi vergonhoso.
Depois da eliminação diante da França, a raiva de Ricardo Teixeira.
Quanto ele soube detalhes de Weggis, cortou na própria carne.
Demitiu seu tio Marco Antônio Teixeira da CBF.
A história é traumática.
E não há a menor chance de se repetir com Felipão.
Ele detesta treinamentos abertos ao público.
Ainda mais com os atletas sendo tratados como celebridades.
O técnico deseja que o torcedor mostre seu amor nos jogos.
Não nos treinamentos.
Por isso tudo é cerceado nesta Copa das Confederações.
A frustração da torcida se justifica.
O momento é tenso.
O Brasil ocupa a 22ª posição no ranking da Fifa.
Scolari quer foco total na conquista da Copa das Confederações.
Será assim até o final da competição.
Sabe que treinamento não foi feito para ser repartido com torcedor.