Rejeição e desconfiança da política trazem riscos à legitimidade do próximo presidente

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Prédio do Congresso Nacional visto das colunas do Palácio do Planalto em Brasília© REUTERS/Ueslei Marcelino Prédio do Congresso Nacional visto das colunas do Palácio do Planalto em Brasília

O crescente clima de desconfiança e descrédito na política tende a elevar a parcela de eleitores disposta a votar em branco, nulo, ou simplesmente se abster, o que aumenta as incertezas sobre o cenário eleitoral e levanta dúvidas sobre a legitimidade e a estabilidade do próximo presidente, avaliam especialistas.

Se em eleições passadas prevalecia a percepção que um candidato com altos índices de rejeição seria pouco competitivo na disputa eleitoral, em tempos de apatia e até mesmo de indignação com a política, os níveis de repulsa do eleitorado tornaram-se um denominador comum aos nomes colocados.

O cofundador do Instituto Update Caio Tendolini pondera que o cenário ainda é muito nebuloso para previsões mais certeiras, mas avalia que a tendência de elevação de brancos, nulos e abstenções não deve ser revertida diante da desconfiança da população e da agudização da crise de representatividade.

“Essa sensação acumulada durante muito tempo gerou essa crise de confiança enorme que vai se manifestando e resulta no voto nulo, no voto branco, ou até mesmo no voto de protesto”, disse à Reuters.

“É natural que essa crise de confiança se manifeste em um voto que ou não escolhe ninguém, ou quando escolhe, é para se vingar desse sistema, quase protestar contra esse sistema, de alguma forma.”

Pesquisa Datafolha divulgada no domingo mostra que 28 por cento dos eleitores pretendem votar em branco, anular o voto ou não votar em nenhum candidato nos cenários que não têm o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa, quase 10 pontos a mais que o líder das preferências nesses casos, o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ), que soma 19 por cento.

Com Lula no páreo, o petista tem 30 por cento das intenções de voto e a soma de votos nulos e brancos com os que não votarão em nenhum candidato cai a 17 por cento.

Os dados obtidos até o momento e os sintomas do clima eleitoral dão indícios que um novo presidente da República, se eleito com altos índices de abstenção e rejeição, não terá vida fácil à frente do país

“Do ponto e vista de conjuntura, é o pior clima de todas as eleições desde a restauração da democracia”, avaliou a socióloga e especialista em pesquisas de opinião Fátima Pacheco Jordão, acrescentando que a pulverização de candidatos e a divisão entre os partidos tornam o momento “pouco animador” e há o risco de a atual instabilidade se agravar.

“A minha convicção é que se esse clima perdurar, realmente vamos ter uma eleição que não dará legitimidade aos futuros eleitos”, argumentou.

Na mesma linha, Tendolini, do Update, prevê dificuldades práticas a um candidato eleito com altos níveis de rejeição para tocar seus projetos, negociar com o Congresso e cumprir eventuais promessas de campanha.

“Isso é muito complexo. Para a estabilidade política, para o tipo de reformas que o candidato quiser propor, para as políticas públicas que vai querer propor, os acordos que vai fazer, o olhar que quer dar, a história que quer contar, para a sua gestão… é um desafio que me parece um pouco novo”, disse.

Lula, que lidera com folga a disputa no cenário que aparece como candidato, é o postulante com a segunda maior rejeição, com 36 por cento, atrás do também ex-presidente Fernando Collor de Mello (39 por cento) e à frente de Bolsonaro (32 por cento).

O pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, é rejeitado por 27 por cento, aponta a pesquisa, e Marina Silva, da Rede, por 24 por cento. Outros 23 por cento não votariam de jeito nenhum em Ciro Gomes (PDT).

DE VOLTA PARA O FUTURO

Para Daniel Falcão, especialista em direito eleitoral do escritório Boaventura Turbay Advogados e professor da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), as características do contexto atual remetem à conjuntura das eleições presidenciais de 1989, quando Collor foi eleito.

“É possível que um candidato com uma baixa votação consiga chegar ao segundo turno”, disse o especialista, diante do quadro de pulverização de candidaturas, da rejeição aos candidatos, e aos índices de brancos e nulos.

Na ocasião, com mais de 20 candidatos a presidente, Lula chegou ao segundo turno contra Collor obtendo 17,2 por cento dos votos válidos na primeira rodada.

Segundo ele, ainda é cedo para se falar em aumento expressivo de brancos e nulos — “pode haver crescimento, mas não tão grande assim”. É possível dizer, no entanto, que no segundo turno os níveis de rejeição podem se traduzir na nulidade do voto.

Para Falcão, que também é especialista em marketing político, no entanto, o jogo ainda não começou e só deve produzir efeitos palpáveis na segunda quinzena de agosto, com as candidaturas já registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e a campanha eleitoral propriamente dita em andamento.

“E ainda tem toda a questão do Lula. Todos sabem que essa é uma carta que vai embaralhar o jogo”, avaliou.

O ex-presidente está preso há mais de dois meses, cumprindo pena pela condenação por lavagem de dinheiro e corrupção no caso de tríplex do Guarujá (SP).

O petista, que alega inocência e diz ser alvo de perseguição política, deve ser impedido de concorrer devido à Lei da Ficha Limpa, mas o PT vem insistindo que ele é o candidato do partido.

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