Apesar de um crescimento populacional de 21%, considerando-se os censos de 2000 e 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de hospitais particulares em Mato Grosso caiu quase 30% na última década. A rede pública avançou, mas em ritmo lento.
Entre 1999 e 2009, o número de estabelecimentos privados despencou de 126 para 88 unidades, segundo o relatório do Plano Plurianual (PPA 2012-2015), produzido pela Seplan (Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral).
No mesmo período, a rede pública cresceu em número de estabelecimentos municipais: 48 para 53 unidades. O número total (incluindo hospitais estaduais e federal), porém, é inferior ao registrado em 2005, quando havia 63 unidades em operação no Estado.
O número total de leitos disponíveis no Estado caiu 1,9%, de 7283 para 7142 vagas. Os leitos SUS tiveram um aumento de 11% no período, com 5373 vagas – um total inferior, no entanto, ao registrado em 2005: 5656.
Segundo o relatório do PPA, o sistema de atendimento de saúde em MT vive "ao mesmo tempo em uma crise e em uma transição".
"Crise no sentido de que a oferta não absorve a demanda da população com suas principais necessidades, como por exemplo: exames ou cirurgias de alto custo/complexidade para os usuários do SUS; transição porque as mudanças dentro do SUS precisam ocorrer", diz o PPA, em um trecho.
A avaliação do governo considera que a melhoria nas condições de atendimento não depende apenas "do atendimento médico-ambulatorial ou disponibilidade de recursos humanos".
"Para obter serviços e atendimentos de boa qualidade é preciso, antes de tudo, buscar melhorias na cobertura e no acesso aos cuidados de saúde em um quadro de sustentabilidade financeira."
O PPA reconhece que os hospitais mato-grossenses têm "sérios problemas", da falta de leitos à defasagem de tecnologias na área hospitalar.
Esta circunstância, aliada a fatores como o aumento da esperança de vida da população, as novas doenças e o recrudescimento de outras, é motivo de "preocupação", segundo o relatório.
"Em um Estado com extensa área geográfica, como é o caso de Mato Grosso, faz-se necessário conhecer não somente a quantidade de hospitais distribuídos em seu território, mas também, a capacidade instalada de leitos", diz.
Acomodação
O médico José Ricardo de Mello, diretor do Hospital Santa Rosa e presidente do Sindessmat (Sindicato dos Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Estado de Mato Grosso), nega que a queda no número de instituições privadas tenha relação com alguma crise setorial.
"O que houve foi uma acomodação. Em 1999, havia excesso de leitos na rede privada, houve fechamento de alguns hospitais de grande porte e nos últimos anos a situação tornou-se equilibrada", disse.
Outro fator, segundo ele, é que a necessidade de internações é "hoje cada vez menor". "Muitas doenças que exigiam internação hoje são tratadas sem essa necessidade. E temos a ampliação do sistema Home Care, em que os pacientes são atendidos em casa."
O gargalo atual, diz o médico, está nas vagas de UTI (Unidades de Terapia Intensiva). "Hoje em dia, somente os doentes mais graves vão ao hospital. Por isso há tantas queixas por mais leitos de UTI."
Readequação
O secretário de Saúde, Vander Fernandes, disse que muitos dos hospitais fechados no período eram de pequeno porte e sem viabilidade financeira.
"Muitos acabaram municipalizados e seguem em operação na rede pública", afirmou.
Fernandes comentou a situação de hospitais como São Thomé e Modelo, que fecharam as portas e foram comprados pelo Estado, e do Hospital das Clínicas, que foi alugado pelo governo.
"O São Thomé foi readequado dentro da estrutura do centro de reabilitação Dom Aquino Corrêa e o Hospital Modelo irá abrigar a nova sede do Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência]. O Hospital das Clinicas será reaberto em seis meses com 80 novos leitos", disse