A realização de um laudo de balística pode dar um novo direcionamento às investigações da "Chacina do Beco do Candieiro", que há 13 anos vitimou os adolescentes Adileu Santos, 13, o Baby, Edgar Rodrigues de Arruda, 15, o Indinho, e Reginaldo Dias Magalhães, 16, o Nado, no Centro Histórico de Cuiabá.
Três testemunhas apontam o ex-cabo PM Hércules de Araújo Agostinho como autor do triplo assassinato e tentativa de homicídio de Edilson Alves Ferreira Júnior, ocorridos em 10 de julho de 1998. Hércules ganhou notoriedade como pistoleiro de João Arcanjo Ribeiro, ex-chefe do crime organizado em Mato Grosso, preso em Campo Grande (MS).
O pedido para confecção do laudo foi feito pelo Ministério Público e aguarda parecer da Justiça. O processo tramita na 12ª Vara Criminal e está no gabinete para despacho.
Conforme argumentação, as vítimas foram atingidas por vários tiros de pistola calibre 765, semelhante a arma de Hércules usada para matar Alinor Santana Pereira, em 1999. Esse assassinato foi cometido pelo policial militar Sandro Márcio Martines.
A suspeita do ex-cabo ter cometido os crimes surgiram depois que Ananias Santana da Silva, Edmilson Pereira da Silva e José de Barros Costa, todos amigos do ex-braço armado de João Arcanjo, prestaram depoimento à Gerência de Repressão a Sequestro e Investigações Especiais, da Polícia Civil. Nas oitivas, os 3 afirmaram que Hércules contou que havia assassinado os adolescentes porque as vítimas haviam furtado Valdete Pedrosa da Silva, sua esposa à época dos crimes. A mulher nega a versão.
Preso pela acusação de extorsão, Ananias afirmou que estava na casa do ex-cabo e o ouviu contando a Edmilson que na noite anterior havia matado 3 adolescentes que furtaram a esposa. Em depoimento, ele conta que Hércules teria sondado os jovens que pediam dinheiro no Bar do Amarelinho e visto aonde eles se recolhiam para dormir. Em seguida, matou os adolescentes.
Valdete teria ido ao Centro de Cuiabá para pagar contas e depois seguiria para a casa da mãe no Coxipó. Porém, a mulher foi furtada por 3 jovens, que levaram uma corrente de ouro e um vale transporte. Como não tinha como ir embora, ela ligou para o marido buscá-la e contou o que havia ocorrido.
A mesma versão sobre o porquê dos assassinatos foi contada por Edmilson, que também é acusado de extorsão. Ele revela que também estava na casa do ex-policial quando soube dos fatos. Eles assistiam televisão quando foi noticiada a chacina e Hércules disse que "aqueles não roubariam mais corrente de ninguém".
A ação criminosa teria sido revelada com detalhes aos que estavam presentes. Disse aos amigos que usou uma roupa preta com capuz e foi de moto até o local das mortes, não dando qualquer chance de defesa às vítimas. "Morreram que nem viram", relatou Hércules, conforme versão de Edmilson.
O terceiro depoimento que coloca o ex-cabo na cena do crime é do ex-policial militar José de Barros Costa, que foi expulso da PM por ter cometido vários crimes, incluindo o auxílio a Hércules durante fuga da Penitenciária Central do Estado, em maio de 2003.
Atualmente, Costa é marido de Valdete. Ele afirma que ficou preso com Adeir de Souza Guedes Filho, no Presídio Militar de Santo Antônio, onde ficou sabendo que o colega de cadeia era acusado da chacina. Filho teria comentado que não era culpado e Costa destacou que sabia disso, pois Hércules havia assumido a autoria entre amigos.
Costa se colocou à disposição de Filho para testemunhar a seu favor. Ele afirma que Valdete havia confirmado o envolvimento do ex-marido nas mortes, mas em depoimento ela nega a versão. E destaca que não foi furtada, apenas abordada por um rapaz que pedia dinheiro.
Além de Filho, outras duas pessoas chegaram a ser denunciadas pelo Ministério Público pela Chacina. Porém, Filho foi reconhecido 3 anos depois dos fatos, por meio de uma fotografia, pela vítima sobrevivente. Laudos do processo mostram que no dia do crime, Edilson Júnior estava completamente dopado pelo uso de drogas.