Papa Francisco foi denunciado por sequestros durante a ditadura militar na Argentina

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Líder religioso teria colaborado com os militares na perseguição de dois missionários jesuítas em 1976

O cardeal argentino Jorge Bergoglio, escolhido nesta quarta-feira (13) para ser o sucessor de Bento 16, manteve relação próxima à ditadura militar na Argentina, e enfrentou até acusações de sequestro na última década.

Bergoglio chegou ao sacerdócio aos 32 anos, quase uma década depois de perder um pulmão por uma doença respiratória e de deixar seus estudos de química.

Mas apesar de seu ingresso tardio, em menos de quatro anos chegou a liderar a congregação jesuíta local, um cargo que exerceu de 1973 a 1979.

Sua ascensão coincidiu com um dos períodos mais obscuros da Argentina, tendo que enfrentar fortes críticas: a ditadura militar que governou o país entre 1976 e 1982.

As críticas foram feitas devido ao sequestro de dois jesuítas detidos clandestinamente pelo governo militar por fazerem trabalho social em bairros de extrema pobreza. Segundo a acusação, de 2005, Bergoglio lhes retirou a proteção de sua ordem religiosa, depois que eles se negaram a interromper as visitas a favelas. Ambos os padres sobreviveram a uma prisão de cinco meses.

O caso é relatado no livro Silêncio, do jornalista Horacio Verbitsky, também presidente da entidade privada defensora dos direitos humanos CELS. A obra se apoia em manifestações de Orlando Yorio, um dos jesuítas sequestrados, que morreu por causas naturais em 2000.

“A história o condena: o mostra como alguém contrário a todas as experiências inovadoras da Igreja e, sobretudo, na época da ditadura, o mostra muito próximo do poder militar”, disse há algum tempo o sociólogo Fortunato Mallimacci, ex-decano da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Buenos Aires.

Julgamento

O agora papa Francisco foi denunciado em 2005 pela Justiça argentina por ter se envolvido no sequestro de dois missionários jesuítas em 23 de maio de 1976, durante a ditadura no país (1976-83).

De acordo com a denúncia feita pelo advogado e dirigente de organizações defensoras dos direitos humanos Marcelo Parrilli, o então arcebispo de Buenos Aires teria colaborado com os militares argentinos na perseguição e sequestro dos dois religiosos, Francisco Jalics e Orlando Yorio, que trabalhavam sob seu comando na Companhia de Jesus.


Segundo a acusação, Bergoglio lhes retirou a proteção de sua ordem religiosa, depois que eles se negaram a interromper visitas que faziam a favelas.

Estes dois sacerdotes supostamente teriam envolvimento com movimentos de esquerda na Argentina e, por isso, se tornaram alvos da ditadura militar do país.

Os defensores de Bergoglio dizem que não há provas contra ele e que, ao contrário, ele ajudou muitos a escapar das Forças Armadas durante os anos de chumbo.

Longe das denúncias

No Vaticano, longe da mancha da ditadura que ainda paira sobre muitos daqueles que tiveram atividade pública nesta fase da Argentina, é esperado que esse homem silencioso conduza a estrutura da Igreja com mão de ferro e com uma marcada preocupação social.

Políticos argentinos foram repetidamente alvo da retórica afiada do sacerdote, que foram acusados por ele de não combater a pobreza e se arraigarem no poder.

Em 2010, também enfrentou o governo da presidente Cristina Kirchner quando o governo apoiou uma lei para permitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

“Não vamos ser ingênuos: não se trata de uma simples luta política; é uma tentativa de destruição do plano de Deus”, escreveu Bergoglio em carta, dias antes de o projeto ser aprovado pelo Congresso.

Cardeal desde 1998, muitos dos cardeais que escolheram Bergoglio o conheciam por sua inesperada e reconhecida atuação de relator durante o Sínodo de 2001.

Filho de uma família de classe média com cinco filhos, de pai ferroviário e mãe dona de casa, pouco inclinado a aceitar convites particulares e dono de um “pensamento tático”, de acordo com especialistas, agora deve apresentar suas credenciais para mais de 1 bilhão de católicos.

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