A pretexto de preservar sua biografia, Roberto Carlos insiste mais uma vez em emporcalhá-la.
Rompido com o movimento Procure Saber, aquele da Paula Lavigne, do Caetano Veloso e do Chico Buarque, movimento que nasceu para policiar as biografias e depois meio que se desinteressou pelo assunto, o Rei resolveu levar sua jihad contra os biógrafos até o Supremo Tribunal Federal.
É o endereço certo; a gente sabe que lá o pessoal é chegado a uma Santa Inquisição.
Roberto até criou um certo Instituto Amigo, muy amigo aliás, que subscrever como causa interessada sua ação pró-censura. Ele diz, porém, que não é censura. É a favor das biografias não-autorizadas… desde que devidamente autorizadas.
Como essa fotobiografia que ele próprio lançou, dias atrás, e abençoou publicamente. Dá a versão lisonjeira da história, o ângulo bom do Rei, sem precisar desperdiçar nenhuma palavra com isso.
Roberto Carlos em Detalhes, a generosa biografia escrita por Paulo César de Araújo, fã declarado do Rei, continua na geladeira à espera da lei que revoga os entraves para os biógrafos. A Câmara de Deputados já aprovou. Falta o Senado. Pela lei, nenhum biógrafo precisa pedir autorização prévia ao biografado ou à família dele para, no final das contas, prestar um serviço importante para a sociedade e para a posteridade.
Me pergunto porque a obsessão de Roberto se tudo o que ele pretende esconder já é fartamente sabido. Só pode ser aquele TOC, a busca maníaca de controlar tudo que gira em torno de Sua Majestade, a neurótica mania de impedir que o mundo pense dele outra coisa senão aquilo que o próprio Rei autorizaá-lo a pensar.
Se Rei é, Roberto está mais para aquele Rei Lear, do Shakespeare. O pessoal do teatro sabe o que estou dizendo.
Vida pública não tem dono. O biógrafo deve, claro, ser respeitoso para com a verdade. Se não for, a lei faculta que ele pague por isso.
Bertold Brecht dizia: pobre país que precisa de heróis. Eu digo: pobre país cujos ídolos não querem que o país os reconheça como heróis.