Índios atacam fazendas e cobram cumprimento de decisão judicial

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Os xavantes atacaram novas  fazendas localizadas dentro da terra indígena Marãiwatsedea, no município de Alto da Boa Vista, no Leste do Oeste.  Casas foram demolidas e incendiadas. O agricultor Francisco Silva disse que  foi surpreendido com a chegada de 60 guerreiros. "Tocaram fogo nas duas casas que tinha. Queimaram tudo de imediato. Chegaram com a gasolina dizendo ‘tirem os trens que vamos por fogo’. Me atacaram, me amarraram e me carregam por 600 metros nas costas", contou Francisco, relatando a violência dos índios.

Os xavantes cobram o cumprimento da decisão do Tribunal Regional Federal, que determinou em outubro de 2010 a saída da reserva de todos os ocupantes não índios.
"Se demorar muito, nós vamos invadir outra fazenda. Se sair guerra, é guerra. Nós vamos morrer por causa da terra", afirmou o cacique Damião Paradzane, que lidera o movimento.

Não é a primeira vez que os índios avisam que vão atacam para garantir a posse de suas terras, asseguradas na Justiça Federal. Em maio, cerca de 200 índios invadiram a Fazenda Velho Oeste. Eles ocuparam o local e denunciaram que parte da área estaria sendo arrendada para formar mais pasto. “O dono está arrendando parte da terra para formar pasto e vendendo outras partes. Isso não pode ser feito” – declarou.  “Não são os índios que estão ‘criando caso’. Os índios querem que os fazendeiros respeitem a decisão da Justiça. Dividir e vender os lotes não é certo”.

Dom Pedro Casaldaliga vive na região há 40 anos e disse que os xavantes foram retirados da área em 1966. Fotos mostram grupos indígenas embarcando em aviões da FAB, sendo levado para outra aldeia a 400 km do local, mas em 2003 eles decidiram voltar e encontraram a terra toda ocupada. “É uma verdadeira devastação. Eles foram arrancados da terra e transportados pela FAB. Então, essa deportação foi oficial”, lembrou Dom Pedro

Funai, Incra e Polícia Federal elaboraram um plano para a retirada dos fazendeiros, que ainda vai ser avaliado pela Justiça. A reserva Maraiwatsede se estende pelos municípios de Alto Boa Vista e São Felix do Araguaia, ao nordeste de Mato Grosso e tem 165 mil hectares ocupados por centenas de fazendas e sítios.

Dentro da terra indígena também existe um povoado onde vivem quase três mil pessoas. Pela decisão judicial, todos deverão sair. No vilarejo há escolas, comércio, posto de combustível e silos de armazenagem de grãos. “Tem uns R$ 10 milhões de investimentos. Beneficiamos mil sacos de arroz por dia”, conta a empresária Delcristiana Moresco.

O empresário Roberto Soares da Silva é dono de um posto de combustíveis e disse ter investido mais de R$ 800 mil. Os moradores não índios mostram as escrituras das áreas registradas até em cartório. "Eu gastei R$ 84 mil. Estou com 68 anos. Vou para onde?”, indagou um morador.

Para o Ministério Público Federal, esses documentos não têm valor. “Já se reconheceu que esta área foi, de fato, invadida. Estão todos cientes de que ali se tratava de uma área indígena", explicou a procuradora da República, Débora Duprat.

O governo de Mato Grosso ofereceu para a Funai um parque estadual preservado para transferir os xavantes e manter os moradores na área. “Nós oferecemos essa área e vamos ajudar a montar a estrutura, como dissemos. Agora, a forma legal, a Funai e o Ministério da Justiça que resolva. Eles que criaram o problema na região", afirmou o governado do Mato Grosso Silva Barbosa.

Mas os xavantes recusaram a oferta e rasgaram a lei que autorizou o governador a negociar a troca da área. O Ministério da Justiça reafirmou que o plano de desocupação está em fase final de elaboração. Depois de pronto, terá de ser apresentado à Justiça Federal.
 

 

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