Detectada no início da última semana, a variante B.1.1.529, batizada como ômicron pela Organização Mundial da Saúde (OMS), tem 32 mutações na proteína spike, que fica na superfície do SARS-COV2 – alvo da maioria das vacinas atuais.
A médica pediatra e patologista clínica Natasha Slhessarenko explicou que este número elevado de variações na nova cepa acende um alerta importante sobre a eficácia dos imunizantes disponíveis contra esta nova variante.
Ao portal, a médica apontou que as variantes de preocupação (VOC) anteriormente descritas (alfa, beta, delta e gama) apresentavam uma média entre 10 e 11 mutações. Contudo, a ômicron tem mais de 50, sendo que 32 concentradas somente na proteína spike.
As atenções redobradas em torno da nova cepa, que tem risco “muito alto” segundo a OMS, se deve ao fato de que a maior parte das vacinas utilizadas tem como alvo esta proteína spike. “Isso é motivo de preocupação porque a grande totalidade das nossas vacinas, com exceção da Coronavac, que é uma vacina feita de vírus morto, todas as outras induzem a produção de anticorpos específicos contra a proteína spike”, apontou.
A alta transmissibilidade é uma possibilidade que também tem gerado questionamentos em torno da nova cepa. Contudo, segundo a médica, ainda não é possível afirmar com detalhes quais são todos os riscos da ômicron. À reportagem, Natasha apontou que estudos mais completos devem ser finalizados pelas fabricantes e divulgados nas próximas semanas.
Apesar do temor, contudo, a médica afirmou que é normal o surgimento de novas variantes, uma vez que as mutações ocorrem todas as vezes que o vírus se multiplica, “as mutações fazem parte da biologia dos vírus, é um mecanismo de sobrevivência do vírus”. Natasha explicou ainda que já existem milhares de variantes mas que a maioria delas não cria uma vantagem competitiva para o vírus e acabam por morrerem.
“O vírus sofre mutação a cada vez que ele se multiplica. Isso é o normal dele. Então, existem milhares de mutações desse vírus. Só que algumas são chamadas de preocupação, as VOC, hoje são 5: alfa, beta, delta, gama e ômicron. E outras são chamadas de VOI, variantes de interesse”, detalhou.
Ao falar sobre o cenário atual, a médica apontou que o Brasil vive um momento muito positivo em relação às situações anteriores da pandemia. Hoje, o baixo número de novos casos diários e a queda na mortalidade pela doença associados ao avanço da vacinação estruturam um ambiente controlado.
“Hoje, está controlado. Se a gente pudesse dizer alguma coisa, está controlado porque grande parte da população está vacinada e foram mantidas as medidas de proteção, que envolvem o uso de máscaras, lavagem frequente das mãos, distanciamento social e evitar aglomerações. Então, hoje, daria para a gente pensar em réveillon, preferencialmente em locais abertos, sem aglomerações, exigir das pessoas a carteira de imunização para eventos”, afirmou.