O Brasil é um dos líderes mundiais em incidência de HPV, onde mais de 685 mil pessoas vivem com o vírus. A doença sexualmente transmissível, causada por relação sexual desprotegida ou contato genital, é a quarta mais comum no país, com números acima dos casos de Aids, que acomete 630 mil brasileiros, de acordo com o Departamento de DST e Hepatites Virais do Ministério da Saúde.
Segundo os médicos consultados pelo R7, a forma mais eficaz de prevenção contra a doença, além do uso da camisinha, é a vacina contra o HPV, disponível no país somente em clínicas privadas. Cada dose custa de R$ 240 a R$ 380, dependendo de sua composição.
Como são necessárias três doses para que o organismo fique protegido contra os tipos mais perigosos do vírus HPV (existem mais de cem), a imunização não sai por menos de R$ 1.000, ou mais de dois salários mínimos.
A vacinação contra o HPV é indicada para mulheres de 9 a 26 anos, com o intuito de prevenir o contágio antes do começo da atividade sexual e durante seu ápice. No Brasil, a maioria das infecções ocorre entre 15 e 25 anos da idade.
Vacina previne contra câncer de colo de útero
O principal objetivo do produto é proteger a mulher do câncer de colo de útero, que é a quarta causa de morte entre as brasileiras, explica a infectologista pediatra Lily Yin Weckx, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). A transmissão do vírus do HPV é responsável por 90% dos casos deste tipo de câncer relatados no país, que acomete mais de 18 mil mulheres por ano e mata ao menos 4.000, segundo o Inca (Instituto Nacional do Câncer).
Segundo a infectologista, os homens também podem se vacinar desde que apresentem receita médica, assim como mulheres com idade superior a faixa etária indicada.
– A vacina é mais indicada às mulheres porque elas correm risco de pegar o câncer de colo de útero. Por mais que os homens possam contrair o HPV, o câncer de pênis, possível por causa do vírus, são bem mais raros.
Até o ano que vem, no entanto, pode haver mudanças na bula da vacina. O laboratório MSD, fabricante de uma das vacinas vendidas no Brasil, informou ao R7 que já fez pedido à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) para estender a faixa etária da vacina para mulheres de 27 a 45 anos e indicá-la a meninos de 9 a 26 anos.
Por que a dose é tão cara?
O preço de qualquer vacina tende a ser alto quando se chega ao mercado, pois suas vendas ainda estarão pagando os custos muito elevados de produção, explica o Renato Kfouri, diretor da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações). No caso do Brasil, a situação piora, pois as duas vacinas disponíveis são importadas.
– Toda vacina nova que se desenvolve tem um custo gigantesco. Tem que testar níveis de sangue, desenvolver nos laboratórios, testar em animais e em humanos, tudo durante muitos anos e em vários locais do planeta, com milhares de pessoas, sendo que às vezes não dá certo.
Kfouri explica que, da mesma forma que uma vacina demora para chegar ao resultado esperado, é necessário tempo para ela se fixar no mercado e se tornar viável a todos.
– Depois que o mundo inteiro usar, aparecer concorrentes, quebrar a patente e aumentar a produção, a tendência é que o preço caia, havendo a possibilidade da incorporação no sistema público.
O alto custo impede muitas brasileiras de se protegerem efetivamente contra o HPV, observa o infectologista pediatra José Geraldo Leite Ribeiro, da Secretaria Estadual de Saúde de Minas Gerais.
– A gente estima que somente 8% das meninas brasileiras podem se vacinar em clínicas privadas. Por isso é necessário que o país se planeje em um tempo mais curto possível para tentar a inclusão da vacina no sistema público.
Falta dinheiro para oferecer vacina de graça
A incorporação da vacina do HPV no calendário nacional de vacinação, cujas vacinas são oferecidas de graça, ainda não é uma realidade no Brasil, mas está nos planos do Ministério da Saúde. Em parecer técnico enviado à reportagem, o ministério, em parceria com o Inca, afirma que sua introdução no PNI (Programa Nacional de Imunizações) implicaria em um impacto de R$ 1,857 bilhão, apenas para a cobertura da faixa etária de 11 a 12 anos, enquanto todo o orçamento do programa é de R$ 750 milhões ao ano, segundo dados dados de 2008.
Mesmo que o governo negue a incorporação da vacina no curto prazo, o R7 apurou que o ministério estuda a introdução da vacina contra o HPV no calendário nacional por meio de um comitê de acompanhamento formado por várias entidades de saúde. Na escala de prioridades, a adoção da vacina contra o HPV no calendário estaria atrás apenas do imunizante contra a varicela (catapora), mas ainda não há uma data para que isso ocorra.
Mas, antes de universalizar a dose de prevenção ao HPV, o governo trabalha em busca de condições para produzir a vacina no Brasil. A transferência de tecnologia tende a baratear o preço da dose.
Atualmente, pelo SUS só é possível fazer exames que diagnosticam a doença em postos de coleta de exames ginecológicos, localizados em postos de saúde e hospitais públicos, onde são feitos testes gratuitos de HPV.