Acidentes de transporte mataram mais pessoas entre 1 e 19 anos do que homicídios, em Mato Grosso, entre os anos de 2003 e 2013. São 1.635 óbitos de crianças e adolescentes por acidente de trânsito contra 1.459 assassinatos. É o que aponta o relatório “Violência Letal Contra as Crianças e Adolescentes do Brasil”.
O gestor em segurança pública e risco, Raimundo Silva Santos, não se surpreende. “O trânsito sempre matar mais que qualquer outro motivo”, afirma.
O estudo de Julio Jacobo Waiselfisz, pesquisador da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, está registrado no mais recente levantamento sobre violência contra crianças e adolescentes feito no país. Os dados são de 2013 porque são os últimos consolidados no Sistema de Informações de Mortalidade do Ministério da Saúde.
Mato Grosso é o estado com maior índice de mortes por acidente de transporte no país, responsável por 17,2% do total. Cuiabá é a 3ª capital que mais mata jovens por essa causa, somando 277 naquele período. Foi a 2ª com maior crescimento nessa taxa: 56,3% de aumento em uma década, ficando atrás apenas de Boa Vista (RR).
O relatório chama a atenção para os números da capital mato-grossense e vê com preocupação. Diversos motivos justificam os números tão elevados, conforme Santos. “Desde a qualidade das vias públicas, sinalização, sinaleiros sem temporizadores, até o fato de o uso de celular ser constante. As leis precisam ser mais rígidas, e o poder público precisa resolver todas essas questões de infraestrutura mesmo”, explica.
Em relação aos casos envolvendo crianças de 1 a 12 anos, o especialista defende a responsabilização por abandono de pais e mães em mortes no trânsito. “O direito de ir e vir está muito grande. Mas, crianças nessa faixa etária não entendem. Você vê nos bairros mais periféricos a criançada na rua, jogando bola no meio das vias, vulneráveis”, diz.
No ranking das 100 cidades com maior número de óbitos por acidente de transporte, 7 municípios mato-grossenses aparecem em posições expressivas: Rondonópolis (35ª), Sorriso (39ª), Campo Novo do Parecis (41ª), Sinop (55ª), Cáceres (57ª) e Confresa (84ª).
O estudo revela que a mortalidade por essa causa evidenciou uma tendência crescente de 1980 a 1997, ano que entrou em vigor o Código Nacional de Trânsito, tornando mais rígidas as normas de conduta, infrações e penalidades para os usuários das vias públicas. Com o impacto do CNT, as taxas caíram nos primeiros anos. Porém, na virada do século os índices voltaram a subir. O crescimento mais significativo começou em 2008.
Homicídios
Já em relação aos homicídios, Mato Grosso é o 14º Estado com o maior índice, sendo responsável por 17,1% deles no país nessa faixa etária.
Entre as federações onde os números mais cresceram, MT ocupa a 16ª posição: subiu 55,1% em uma década. Por outro lado, no período de um ano, entre 2012 e 2013, fica em 4º lugar de crescimento: 23,5%.
Só em Cuiabá, foram 469 homicídios, entre 10 anos. Em 2003 era a 9ª capital com maior número de homicídios nessa faixa etária. Em 2013, caiu para a 18ª posição.
Entretanto, a capital não aparece na relação das 100 cidades que mais assassinam. Aparecem Sinop (72ª) e Várzea Grande (97ª).
O meio que mais mata é a arma de fogo (77), seguido por objeto cortante (9), objeto contundente (6), outros (6) e estrangulamento (1). Nenhum homicídio foi registrado por uso de força corporal.
Para que os números continuem diminuindo, Raimundo da Silva Santos afirma que a principal medida é reforça o policiamento.
“90% dos homicídios ocorrem no período noturno, onde as rondas ostensivas são menores. Você vê muito mais o efetivo policial trabalhando durante o dia, tantos nas ruas quanto administrativamente. O número de policiais nas ruas deve aumentar, pelo menos, 50% no período da noite. A dimensão é muito grande para pouco policiamento”, finaliza.