Soldado Costa. Assim é conhecido o policial militar José de Barros Costa, 39 anos, que hoje tenta permanecer incólume no quadro da corporação em Mato Grosso, mas que, em um passado recente, se notabilizou pelos laços criminosos que manteve com o pistoleiro Hércules Araújo Agostinho.
Apesar da parceria declarada com um dos homens mais perigosos do Estado e de duas condenações de 28 anos de prisão por assassinatos de pistolagem, o soldado ainda integra a Polícia Militar.
Entre os delitos imputados a Costa, se não o mais grave, ao menos o mais conhecido, foi a facilitação de fuga do antigo Presídio Pascoal Ramos para o comparsa Hércules, em maio de 2003 – crime que teve grande repercussão há sete anos, mas que está emperrado na primeira audiência judicial.
Nesse período, Hércules já foi recapturado, transferido para um presídio federal de segurança máxima, e está de volta ao Estado, sem que o processo sobre sua fuga tenha caminhado.
Indícios apontam Costa também como suspeito de realizar cobranças truculentas para o ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro.
Nunca se comprovou a motivação, mas desavenças pessoais levaram Hércules, anos após sua fuga, a ser a principal testemunha contra Costa de crimes do passado.
A delação de Hércules revelou que em 17 de agosto de 2002, o soldado Costa assassinou o pecuarista José Valdênio Lopes Viriato, em plena manhã, na avenida do CPA, em frente ao antigo Colégio Expressão.
Para cometer o crime encomendado, ele e outro policial receberiam R$ 40 mil de um fazendeiro interessado em glebas pertencentes à vítima, localizadas na região de Peixoto de Azevedo. Viriato foi alvejado quando parou no semáforo por uma dupla que usava uma moto. O outro pistoleiro envolvido foi morto posteriormente.
O assassinato do pecuarista teria sido oferecido a Hércules, inicialmente, mas o policial teria recusado a encomenda e repassado ao colega. A versão sustentada por Hércules e comprovada nas investigações rendeu ao soldado Costa uma pena de 15 anos de reclusão pelo Tribunal do Júri de Cuiabá.
O julgamento do homicídio qualificado aconteceu em 6 de novembro de 2007. Na sentença, a juíza Mônica Catarina Perri determinou a perda do cargo público.
A ordem judicial para demissão do servidor pela Polícia Militar consta também em outra condenação de homicídio qualificado, veredicto dado por julgamento popular em 25 de março de 2008.
Na ocasião, Costa recebeu condenação de 13 anos de prisão pela morte de Márcio Antônio Costa Santos, crime cometido na noite de 21 de julho de 2002, pelo qual Hércules também testemunhou contra o réu.
Por promessa de pagamento, o soldado Costa executou a vítima em uma rinha de galo no bairro várzea-grandense Água Vermelha. Consta no processo que Márcio possuía dívidas de atividades ilícitas, e que esse pode ter sido o motivo que teria ocasionado o homicídio com o crime de pistolagem. A sentença é assinada pela juíza que presidio o júri popular em Várzea Grande, Maria Erothides Kneip Baranjak.
Para o julgamento popular, Hércules foi trazido da Penitenciária Federal de Campo Grande (MS) para depor no caso. Além de complicar a situação de Costa, ele afirmou em juízo que o policial militar já havia cometido ao menos 17 homicídios, e chegou a atribuir ao ex-aliado o assassinato do soldado Ciney Taques, em outubro de 2000, e de outros para os quais a polícia não tinha suspeitos.
Defesa
Os advogados de Costa chegaram a sustentar à época que Hércules estava tentando incriminá-lo em diversos homicídios pelo fato de ter mantido uma relação extraconjugal com a esposa do pistoleiro de Arcanjo.
Hércules negou a versão e alegou que os relatos foram fruto de outros problemas com o soldado. Depois de presos, os dois teriam até mesmo trocado ameaças por meio de seus respectivos advogados.
A extensa ficha criminal de assassinatos cometidos há oito anos, os indícios de envolvimento em outros delitos e de ligação com o crime organizado não foram o bastante para a Polícia Militar excluir o soldado do quadro.
Costa chegou a ficar preso entre 24 de fevereiro de 2004 e março de 2005. Depois de solto, foi detido novamente em agosto de 2005 e obteve liberdade provisória. Hoje ele está à disposição da Academia de Polícia Militar e continua recebendo seu salário de servidor público – cujo piso seria de R$ 1,8 mil, de acordo com a corporação militar.