A Gazeta
A dificuldade em contratar e manter trabalhadores é comum as empresas de todos os portes e em todas as atividades econômicas atualmente. Nem mesmo o aumento da oferta de cursos de qualificação gratuitos pelos governos federal, estadual e municipal foi suficiente para atenuar o problema do déficit de mão de obra em Mato Grosso. A cada dia surgem novas vagas para serem preenchidas nas áreas do comércio, serviços, indústria e agropecuária. No 1º trimestre de 2014 as vagas de emprego ofertadas pelo Sistema Nacional de Empregos (Sine) em Mato Grosso aumentaram 28,46% em comparação com o mesmo período do ano passado e somaram 16,723 mil.
O aproveitamento dessas vagas não evoluiu na mesma proporção. Pelo contrário. O número de trabalhadores colocados no mercado de trabalho entre janeiro e março deste ano retraiu 2,66% em relação ao mesmo intervalo de 2013. Enquanto no 1o trimestre do ano passado foram inseridos 4,543 mil trabalhadores, este ano a quantidade ficou em 4,422 mil. O total de trabalhadores encaminhados as vagas ofertadas pelo Sine no início de 2014 foi maior que o registrado em 2013, mas cresceu num índice inferior ao de vagas disponíveis no mercado formal. Foram feitos 23,101 mil encaminhamentos nos primeiros 3 meses de 2014, sendo 7,29% acima dos encaminhamentos realizados em 2013 (21,531 mil).
Os problemas relacionados a contratação e permanência de colaboradores tem desestimulado a microempresária Raquel Pereira a manter o negócio. Proprietária da Fofuxa Festa, ela relata que não encontra profissionais qualificados para auxiliar nas atividades da empresa. “Muitos querem o emprego, mas não querem ter trabalho”. Até mesmo o microempreendedor individual (MEI) Benedito Antônio Ferreira da Cruz, 55, não consegue garantir um único colaborador. “Tenho vontade de me desfazer da fábrica de licores (Licores Bom Demais), porque é muito difícil conseguir funcionário e quando encontro, ele não trabalha mais do que 6 meses”. Para ele, muitos trabalhadores rompem o contrato de trabalho com o objetivo de garantir o seguro-desemprego.
Mas, na opinião da superintendente do Sine Estadual, Clélia Borges Teodoro Inouye, a principal dificuldade em garantir o preenchimento das vagas disponíveis no mercado e em evitar a rotatividade está relacionada a frágil formação inicial dos trabalhadores. Por isso, a ampliação de cursos técnicos não é suficiente para garantir o aproveitamento dos novos postos. “Tem surgido muita oferta de vagas, mas as empresas não conseguem assegurar o preenchimento porque os candidatos muitas vezes não tem o domínio básico de língua portuguesa ou matemática. É comum o candidato não passar da simples entrevista”. Na tentativa de melhorar o aproveitamento das vagas, o Sine busca encaminhar o trabalhador de acordo com o perfil exigido pela empresa, completa a superintendente. “Fazemos uma pré-seleçao antes do encaminhamento”.
Sobre o agravamento da falta de mão de obra no mercado de trabalho, a coordenadora regional de Educaçao Profissional do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), Silvânia Maria de Holanda aponta alguns fatores que contribuem para esse cenário. São eles: os baixos salários ofertados e a falta de benefícios, o crescimento do empreendedorismo, o interesse dos jovens egressos de cursos técnicos em continuar aprimorando os estudos, a indefinição da população mais jovem em atuar na área de formaçao e o desconhecimento sobre a profissão escolhida. “Em Mato Grosso, 40% dos alunos que terminam os cursos técnicos do Senai já emendam com a faculdade, ou seja, não vão imediatamente para o mercado de trabalho”.
Ela conjectura que esse índice tende a aumentar no próximo ano, por causa da mudança na forma de ingresso nos cursos gratuitos, assegurados por meio do Programa de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) em parceria com o Senai. “São alunos com um perfil mais jovem e a tendência é que eles continuem investindo na qualificação, sem pressa de ir ao mercado de trabalho”. Por enquanto, o aproveitamento da mão de obra qualificada nos cursos do Senai pelo mercado de trabalho local fica acima da média nacional, afirma a coordenadora.
Na condição de empregador, o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon/MT), Cezário Siqueira avalia que muitos egressos de cursos de qualificação não se vinculam formalmente a nenhuma empresa por preferir atuar de forma independente, como prestadores de serviços. “Eles percebem que muitas vezes poderão ganhar mais assim, mas o risco também é maior e não compensa”. Siqueira sustenta que as indústrias da construção “perdem” trabalhadores para as pequenas obras.
Para ele, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) deveria fiscalizar a situação com o objetivo de orientar e não punir, juntamente com os sindicatos laborais. “Hoje o investimento na qualificação não é suficiente para garantir o aproveitamento das vagas e evitar a rotatividade porque as indústrias perdem esse trabalhador para a informalidade”.
Para o diretor da Federação das Associações Comerciais de Mato Grosso (Facmat), Manuel Gomes, os jovens estão estudando mais e muitos visam garantir uma colocação na administração pública. “Eles querem um emprego estável, mas não é só isso: uma grande parcela quer investir num negócio próprio”. Sem conseguir garantir o preenchimento de todas as vagas ofertadas, o setor do Comércio investe na qualificação dos funcionários já admitidos, como medida para diminuir a rotatividade, explica o diretor. “Muitos cursos de qualificação, apesar de gratuitos, não tem adesão da população e por isso também os empresários tem investido cada vez mais na qualificação dos trabalhadores mantidos nas suas empresas”.