O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se movimenta para atrair políticos do Centrão como aliados nas eleições de 2022. O bloco dá sustentação ao presidente Jair Bolsonaro na Câmara, mas Lula aposta em desgarrados de partidos que hoje estão com o governo para compor palanques regionais.
Desde que o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou suas condenações na Lava Jato, o petista se tornou novamente elegível e intensificou as conversas para sua candidatura à sucessão de Bolsonaro. Lula desembarcou em Brasília nesta segunda-feira, 3, e tem uma lista de encontros marcados até sexta.
A ideia do ex-presidente é agregar partidos de centro e até de centro-direita para a sua campanha ao Palácio do Planalto.
Presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado, Kátia Abreu (Progressistas-TO), por exemplo, se reuniu com Lula na tarde desta terça-feira, 4. Kátia disse que se comprometeu a intermediar um diálogo entre ele e empresários rurais. O setor apoia majoritariamente Bolsonaro.
“Ele (Lula) pediu que eu me dedicasse muito a essa questão ambiental, que eu tentasse convencer as pessoas, os produtores, do quanto os problemas nessa área podem prejudicar o Brasil. Ele conversou com algumas pessoas do agronegócio, os exportadores, e sentiu preocupações em alguns dos setores exportadores em relação à questão ambiental”, disse Kátia ao Estadão. “Hoje, é este o foco na geopolítica mundial. É um assunto para qualquer candidato a presidente que pretende ajudar o Brasil”.
A senadora foi ministra da Agricultura de Dilma Rousseff (PT) e é uma das maiores líderes da bancada ruralista do Congresso. Está filiada ao Progressistas, partido do Centrão. Em 2018, quando era do PDT, Kátia foi candidata a vice-presidente na chapa encabeçada por Ciro Gomes ao Palácio do Planalto. Ciro vai disputar novamente a Presidência pelo PDT, mas sua relação com o PT de Lula não é boa.
Questionada se iria apoiar Lula, em 2022, Kátia evitou responder e disse que tem conversado com vários pré-candidatos. “Conversei com Luciano Huck, que me procurou há um tempo atrás. Tenho dialogado com todos aqueles que me procuram. Fiz esse compromisso”, afirmou a senadora.
O Estadão apurou que Lula também vai se reunir com o presidente do PSD, Gilberto Kassab. O partido está na órbita do Centrão, mas já foi da base aliada da então presidente Dilma Rousseff (PT). Ex-prefeito de São Paulo, Kassab foi ministro das Cidades na gestão de Dilma e ocupou a pasta de Ciência, Tecnologia e Comunicações na administração Michel Temer.
No governo Bolsonaro, o PSD tem assento com Fábio Faria, ministro das Comunicações. O senador Otto Alencar (PSD-BA), integrante da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, também conversou com Lula nesta terça. Como mostrou o Estadão, a CPI é vista pelo petista como a “joia da coroa”. Derrotar Bolsonaro nessa comissão, no diagnóstico do PT, equivale a meio caminho andado para a disputa de 2022.
Acompanhado do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, que deverá ser o candidato do PT ao governo de São Paulo, Lula transformou a suíte de um hotel em Brasília em escritório político. O petista já tomou as duas doses da vacina Coronavac e agora tem encontros agendados com o ex-presidente José Sarney (MDB), o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ) e o senador Weverton Rocha (PDT-MA), entre outros. Ele já se reuniu com o o ex-presidente do Senado Eunício Oliveira (MDB-CE).
Nesta terça, Lula convidou novamente o senador Fabiano Contarato (Rede-ES) a se filiar ao PT. Contarato está prestes a deixar a Rede, mas ainda não decidiu o seu destino político e tem conversado com o PSB, o PDT, o PSOL e o PC do B, entre outros.
A vacinação contra a covid-19 e o auxílio emergencial para pessoas de baixa renda ganharam lugar de destaque nas conversas mantidas por Lula. Na noite de segunda-feira, o ex-presidente compareceu a um jantar com o embaixador da Alemanha no Brasil, Heiko Thoms, e também tratou desses assuntos.
“Lula tem deixado claro que o foco é a aceleração da vacinação e a ampliação do auxílio emergencial”, afirmou Zeca Dirceu (PT-PR). Para o deputado, é natural que Lula busque diálogo fora da esquerda. “Ele está conversando com gente de todos os partidos”, observou.
O deputado Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que também se reuniu com Lula na noite de segunda, afirmou ser a favor de uma aliança da esquerda com partidos de centro. Pré-candidato ao governo do Rio, Freixo recebeu do ex-presidente o apoio para a disputa de 2022. Nesse arco de alianças no Estado, o deputado Alessandro Molon (PSB) deve sair candidato ao Senado. Molon também esteve com Lula.
“Conversamos sobre a necessidade de se restabelecer o valor do auxílio emergencial de R$ 600 até o fim da pandemia para garantir uma vida digna aos brasileiros. Falamos também da importância de derrotar o bolsonarismo em 2022, sobretudo no berço dele, o Rio”, disse Molon ao Estadão. “Ele manifestou apoio a esse tipo de iniciativa e disse que o PT está disposto a abrir mão de lugar nas chapas estaduais em favor de nomes de outros partidos”.
Freixo, por sua vez, afirmou que, se o centro quiser apoiar essa frente, será muito bem vindo. “A gente quer todo mundo, nem é hora de falar quem não vai estar. Aliança para derrotar Bolsonaro tem que ser ampla”, argumentou Freixo.