Cor azul vem de um Vectra GTX; motor e câmbio são originais, mas proprietário fez questão de rebaixar
Bairro do Belém em São Paulo. Um diálogo direto.
– Olhei. Era feinho, o carro, mas senti que tinha de ser meu.
Assim começa a conversa com o proprietário desta Kombi modernosa. Comprou a perua uma vez, mas o vendedor se arrependeu do negócio e desfizeram. Quatro anos depois, adquiriu novamente.
– Era a vida do cara. Foi o segundo dono, trabalhava de carreto e até peixe transportou. Agora ela tem vida de rainha.
Por mais sonoro e agradável que pareça, o nome Kombi não nasceu de um esperto marqueteiro, mas sim da abreviação de komibinationfahzeug, ou, em tradução livre do alemão, veículo multiuso. A ideia partiu de Bem Pon, um importador Volkswagen holandês, inspirado em um carro usado por seus funcionários para transportar peças no interior da empresa.
Baseada na plataforma do projeto Typ1, nosso conhecido Fusca, surgia a primeira minivan do mundo, o projeto Typ2. A escolha foi feita pela praticidade, a partir da estrutura separada, e não do monobloco comum à época. A Kombi começou a ser fabricada no início da década de 1950.
Motor 1.500 é original, mas esta Kombi ganhou injeção eletrônica (Antigo Motors)
O Brasil foi a terceira unidade Volkswagen no mundo e, em 1953, já produzia a perua. Com a evolução do modelo, adotou chassi próprio, embora compreenda apenas 21 centímetros a mais que o Fusca. Verdade, a carroceria em formato “pão de forma” engana para mais.
O jornalista Portuga Tavares – autor do livro Kombi, da série Clássicos do Brasil, da Editora Alaúde, fala da importância do carro.
– Dá para falar sem medo que, até beirada dos anos 2000, não havia uma concorrente à altura da Kombi em termos de preço e espaço.
Hoje, opções mais modernas e formas acessíveis de financiamento mudaram a cara do segmento.
– A mudança tem proporcionado ao modelo certo status entre admiradores, que mantêm belos exemplares como itens de coleção.
Antes da restauração, que levou um ano, o veículo estava meio para baixo. Cuidado nenhum com a lata, como lembra o proprietário.
– As portas eram fechadas com trinco de portão.
A mecânica, reconhecidamente das mais simples, era a menos prejudicada.
O apaixonado por carros antigos tem outros clássicos na garagem. Confessa que se envolveu bastante nesse projeto para seguir uma linha de veículos personalizados limpa.
– Esse belo azul da carroceria vem do Vectra GTX e, desde o começo do projeto, sabia que a cor é que daria vida ao carro.
Interior tem bancos em couro bege e exala o charme da "velha senhora" (Antigo Motors)
Quanto à mecânica, preferiu manter boa parte original, como câmbio, caixa de redução, motor 1.500, embora tenha colocado injeção eletrônica. Já a suspensão…
– Todos os meus carros são baixos, não tem jeito.
E não é que lhe caiu bem o estilo? Para completar, estofamento caramelo claro em couro seguindo o padrão original das linhas da costura.
Como se diz por aí, “tudo cabe numa Kombi”, sejam pessoas ou coisas, e esse talvez seja o segredo do sucesso. A pequena perua está na moda, principalmente na Europa, onde é vendida por expressivos valores, com todo o clima retrô que suas linhas carregam.
Mas os méritos da Kombi “Made in Brazil” são outros: é o veículo mais antigo em produção. Passou a ser fabricado no país dois anos depois do resto do mundo, e estamos na ativa até hoje. Ainda, são nossos os últimos motores boxer produzidos no mundo, correspondentes à Série Prata da perua, as 200 últimas unidades, como explica Portuga.
– Se parar para pensar, a Volks e a Porsche são o que são hoje por causa desse motor. E veja que maluco, quando íamos pensar que a Kombi e a Porsche têm lá seu grau de parentesco?