Jayme diz que candidatura de Taques está colocada e não terá recuo

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Sônia Fiori/A Gazeta


João Vieira
Senador Jayme Campos

Ex-governador do Estado e ex-gestor de Várzea Grande por três anos, o senador Jayme Campos (DEM) é dono de um perfil de político como poucos, do tipo “que costuma honrar compromissos”. O comprometimento com as causas do partido também lhe dá o direito de cobrar postura idêntica de correligionários e aliados de plantão. Esse aspecto, em particular, faz do parlamentar um dos mais astutos nos meandros das costuras políticas com vistas às eleições de 2014, com trânsito aberto entre oposição e o grupo governista, lhe rendendo convites extras para o pleito geral. Nessa entrevista para A Gazeta, Jayme Campos faz uma análise conjuntural das amarrações junto ao bloco da oposição do senador Pedro Taques (PDT), e não fecha portas para novos horizontes. Em tom crítico, se posiciona em relação ao desempenho da gestão estadual sobre o contexto das obras para a Copa. O Congresso Nacional também passa pelo crivo do senador, em razão da exacerbada “subserviência” ao governo federal.

Qual a leitura dessa pré-aliança com o grupo liderado pelo senador Pedro Taques?

Nós estamos conversando com o PDT e com outros partidos, como o PSDB, o PPS, o PTB, PV e outros. Isso vai demandar algum tempo por questões de acomodações políticas dentro desse arco de aliança. De qualquer forma, há um bom encaminhamento, nada de forma concreta, até porque só será concretizado tudo isso na medida em que forem realizadas as convenções. É preciso fazer uma ressaltava, porque antes de realizar as convenções, o DEM particularmente, estamos fazendo no DEM uma oitiva, uma verdadeira audiência de escuta, de ouvir os companheiros nossos. Todos os 141 municípios serão ouvidos. Nós não queremos fazer um acordo de cúpula aqui, sem ouvir as bases. Queremos fazer uma composição de alto nível e com propostas para oferecer nesse arco de alianças.

Recentemente o presidente do PDT, Zeca Viana, expressou o indicativo de que o PR poderá não estar nesse grupo. O senhor ainda vê o PR como possível aliado?

Eu diria que estamos conversando com o Pedro Taques, e o PDT também está conversando dentro de alguns critérios e esses critérios de o PR deixar a base do governo, e entregar os cargos, para vir para nossa coligação partidária, isso já foi dito lá em reunião anterior. De qualquer maneira, quem vai procurar os parceiros, quem terá o martelo na mão, ou seja, quem terá definitivamente a palavra final será o Pedro Taques. É evidente que dentro dessas composições, poderá ter um partido que não aceite pela forma de condução do processo. Mas acho que daqui para a frente, o senador Pedro Taques tem que escutar os demais partidos que já estão mostrando essa possibilidade de caminhar junto com ele.

Em que conjuntura o senhor avalia a construção de uma terceira via para a corrida ao governo, como o DEM tem posto, e nesse caso, disponibilizaria seu nome para a liderança de chapa majoritária?

Poderia surgir uma terceira via e são conversações, até porque lá atrás tivemos conversas com o deputado José Riva (PSD) para participar de uma composição com o governo, o deputado Carlos Bezerra (PMDB) também procurou o deputado Júlio Campos (DEM). Mas pelo fato de já termos iniciado as conversações com o grupo do Pedro Taques então no momento é impossível. Agora, falar que lá na frente não poderá ter uma terceira via? Isso parte do processo, é natural, é normal. Tudo é possível em política.

O senhor disponibilizaria o seu nome então?

Não nesse exato momento. Não é minha pretensão, até porque já está praticamente definido que minha candidatura é pela reeleição. É bom lembrar que não sou nenhum alucinado. Sou político de princípios e acima de tudo, faço política com reciprocidade. Eu não vejo em hipótese alguma, de querer atropelar um processo que possa prejudicar meu partido.

Uma incógnita no meio político é a possibilidade de o senador Blairo Maggi vir a disputar o governo, em que pese ele oficialmente insistir que não é. Se esse cenário se confirmar, aposta que o senador Pedro Taques ainda assim será um adversário em potencial?

O senador Blairo Maggi indiscutivelmente é um bom candidato. Mas ninguém tem direito de desconhecer os 
adversários. O senador Pedro Taques ao que me parece não conhece marcha à ré, é só para a frente. Ele está determinado, e nesse caso se o senador Blairo Maggi for candidato, é legítima sua candidatura, mas todavia, quem vai decidir é o povo mato-grossense nas urnas, de forma livre e democrática.

Quadro da gestão estadual. O senhor e o senador Pedro Taques fizeram duras críticas sobre a área da segurança pública de Mato Grosso. Como avalia esse setor e outros de suma importância para a Copa, como a saúde além é claro, da infraestrutura, obras de mobilidade urbana?

Primeiro, esse quadro da segurança no Estado é aterrorizante. Isso é claro, não é só privilégio de Mato Grosso. O quadro nacional piorou. Está faltando uma política de Estado, com ações de policiamento preventivo, mas acima de tudo com uma polícia bem formada, bem remunerada, uma polícia mais preparada para combater a marginalidade. Lamentavelmente, nos temos as fronteiras entre Brasil e Bolívia precárias. Na fronteira seca, tenho informações de que está sendo fechado três ou quatro postos avançados. Nós precisamos combater. Acho que um dos piores males é a questão do narcotráfico, ou seja, dos milhões de jovens brasileiros que são hoje dependentes químicos. Quando eu governei Mato Grosso (1991/94) o Estado contava com 6.416 policiais. Agora, passados 20 anos, com mais municípios, o número do efetivo é praticamente o mesmo. Isso fica ainda pior se considerada a remuneração da classe, uma das mais baixas do país. A PEC 300 (proposta de emenda à Constituição que fixa um piso nacional para os policiais militares e bombeiros), em tramitação, poderá amenizar essa problemática.

O senhor teme pelo desempenho do Estado na Copa?

Temo sim. Fico muito preocupado, porque por exemplo, não temos nem leito hospitalar em Cuiabá. O hospital que era para ser construído aqui em Cuiabá, que é o universitário, para atender a demanda eventualmente, não será concluído a tempo. A questão da mobilidade urbana é muito séria. Arrebentaram Cuiabá e Várzea Grande. O Estado teve a possibilidade de contrair alguns bilhões de empréstimos, na casa de R$ 5 bilhões ou R$ 6 bilhões e a compreensão que o povo matogrossense teve nesse caso, foi enorme, porque a conta, a fatura vai começar a chegar e daqui a pouco terá que ser pago. E as obras hoje, apontadas pela própria imprensa, são de péssima qualidade. Tem obra que foi feita e já começou a desmoronar, a cair. Acho que nós vamos passar vergonha, pelo fato de obras não serem concluídas. E daqui pra frente, não sabemos o que pode acontecer.

O Pacto Federativo vem sendo posto em debate há anos e sem resultado algum. O que faz o senhor acreditar que neste ano isso pode mudar?

O Congresso se levantar, usar suas prerrogativas. Lamentavelmente o Congresso no Brasil é submisso ao Poder Executivo. É inconcebível, num país como o nosso, onde os municípios não têm dinheiro e estão empobrecidos, que o governo federal fique esbanjando, financiando obras em Cuba, obras na Nicarágua, obras na Venezuela, e esqueceram dos nossos problemas aqui. Tem município que a população não tem nem água para beber, e como vai financiar obra em porto de Cuba? E quem vai pagar a conta? A maioria desses empréstimos, esses países não pagam a conta. Depois mandam projeto para o Senado dizendo, “olha, perdoaram a dívida”. E aqui, milhões de brasileiros nem mesmo são alfabetizados. Os parlamentares no Brasil deveriam ser livres e independentes, mas infelizmente, são muito poucos. Para se ter um exemplo, de 513 deputados no país, 400 apoiam o governo, de joelho.

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