O irmão do ex-ministro Mário Negromonte (Cidades), Adarico Negromonte, disse à Polícia Federal que foi apresentado ao doleiro Alberto Youssef – alvo central da Operação Lava Jato – pelo ex-deputado José Janene (PP/PR) e que ganhava R$ 1.500 por semana para “entregar envelopes lacrados”. Ele afirmou que não sabe o que tinha dentro dos envelopes que o doleiro lhe passava.
Adarico ficou preso uma semana na sede da PF em Curitiba, base da Lava Jato, sob acusação de atuar como ‘mula’ do doleiro para transporte de valores de propinas. Ele foi solto nesta sexta feira, 29, por ordem do juiz Sérgio Moro, que conduz as ações da Lava Jato.
Orientado por suas advogadas, Adarico Negromonte apresentou-se segunda feira, 25. A Justiça Federal havia decretado sua prisão temporária. Na PF, ele declarou que desde o final do ano de 2011 “prestava serviços” para o doleiro, personagem central do esquema de corrupção e propinas na Petrobrás.
A PF vinha monitorando Adarico havia meses, antes mesmo do estouro da Lava Jato, em março de 2014, quando Youssef foi preso com o ex-diretor de Abastecimento da estatal petrolífera, Paulo Roberto Costa.
Adarico Negromonte, de 68 anos, disse que ia ao escritório de Youssef, situado à Avenida São Gabriel, em São Paulo. Ele contou que “após muito insistir” conseguiu o emprego de motorista do doleiro, mas que não sabia da verdadeira atividade de Youssef. “Janene me disse que Youssef era um empresário que prestou serviços para ele. Jamais pensei que Youssef estivesse envolvido nessa falcatrua toda. ”
Janene, que foi réu do processo do mensalão, morreu em 2010. Adarico Negromonte disse que soube das denúncias sobre a Petrobrás “pela imprensa”. Ele relatou que levava a namorada do doleiro, Taiana Camargo, “ao médico e para passear”. Geralmente, disse, quem ligava para ele, a mando de Youssef, era Rafael Ângulo – apontado como ‘laranja’ e ‘carregador de mala’ do doleiro. “Eu levava e buscava pessoas nos aeroportos e hotéis”, contou o irmão do ex-ministro de Cidades (2011/2012) do governo Dilma Rousseff (PT).
Ele afirmou que não sabe os destinatários dos envelopes lacrados. “Não sei ao certo para onde, pois foram muitos lugares.” A PF quis saber se ele levava envelopes para empreiteiras ou a agentes públicos, ele disse que não. Afirmou, ainda, que “nunca esteve na sede da Petrobrás ou outra empresa estatal”. Também declarou que levava apenas os envelopes, nunca “malas ou volumes maiores”.
Revelou que Rafael Ângulo o acompanhava na entrega dos envelopes. “Minha remuneração era R$ 1.500 por semana, sem carteira assinada.Sempre coube a Rafael entregar os envelopes. Nunca desci do carro para fazer (a entrega).”
Ele disse que viajou para “outros Estados” para fazer a entrega dos envelopes. Uma vez viajou para o exterior com Rafael Ângulo, “a passeio”, mas sem envelopes. “Pedimos a revogação da prisão temporária do sr. Adarico e o juiz acabou entendendo nossos argumentos”, declarou a advogada Joyce Roysen, que defende o irmão do ex-ministro.
Em sua decisão, o juiz Sérgio Moro anotou que Negromonte exercia o papel de “subordinado”, por isso não viu necessidade de estender o prazo de prisão do irmão do ex-ministro.