Depois de um período de incertezas pela pandemia, a
indústria de máquinas agrícolas do Brasil pode fechar o ano no azul, com alta
de 5% a 10% nas vendas ao agricultor, puxada pela necessidade de renovação na
frota de tratores e colheitadeiras, e pela retomada de investimentos do setor
de grãos. É o que estima o vice-presidente da New Holland Agriculture para a
América do Sul, Rafael Miotto, citando que há uma “recuperação consolidada” na
venda direta aos agricultores.
Para as vendas a concessionárias, no entanto, o executivo vê
um processo mais lento e um avanço mais modesto no desempenho anual, em torno
de 5%. “Temos uma base de demanda e necessidade de renovar o parque de máquinas
(para atualizar a tecnologia) e esse momento de remuneração muito boa, com a
safra sendo vendida antecipadamente, e bons preços”, afirmou à Reuters.
Segundo ele, 2020 tinha potencial para ser um ano de recorde
nas vendas de máquinas, considerando o cenário atual de preços das commodities,
mas os impactos do coronavírus que ocorrem “fora da porteira” limitam a
ampliação de investimentos. “A pandemia não afeta o produtor, mas afeta todo o
entorno dele. Ele está sendo cuidadoso”, acrescentou.
Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea) mostram que, entre janeiro e setembro, foram vendidas no
mercado interno 33,28 mil unidades de máquinas agrícolas e rodoviárias, aumento
de 0,9% ante mesmo período do ano anterior. Até o primeiro semestre, a
comercialização recuava 1,3% na comparação com o intervalo equivalente de 2019,
para 19,64 mil unidades, pressionada pelos meses de pico da covid-19.
Se por um lado a pandemia trouxe incertezas no primeiro
semestre, por outro, o surto da doença impulsionou o dólar que, por sua vez,
tornou as commodities agrícolas mais competitivas para exportação.
Soma-se a isso uma forte demanda, principalmente da China por soja, e o
agricultor disparou na comercialização antecipada -fator determinante para a
reação no mercado de máquinas.
“Este cenário mostra que já temos potencial para crescimento
no ano que vem. Temos que ter um pouco de cautela, mas minha opinião é de
otimismo. Não consigo ver forma de não melhorar”, disse Miotto, sem arriscar um
número para a projeção de alta em 2021. No Brasil, maior produtor e exportador
de soja do mundo, as lavouras estão em fase de plantio, com mais da metade da
produção esperada já comercializada. Em Mato Grosso, principal fornecedor do
grão no país, as vendas chegam a 60%.
Instabilidade
Do ponto de vista de produção, os dados são menos
animadores. Segundo a Anfavea, houve queda de 19,6% nos nove primeiros meses
deste ano e a fabricação de máquinas agrícolas atingiu 33,18 mil unidades. No
início de junho, o executivo da New Holland disse à Reuters que o setor passava
por problemas com fornecimento de peças importadas e a alta do dólar levaria as
companhias a aplicarem reajustes de portfólio.
Agora, Miotto afirmou que o fornecimento de peças “melhorou
muito”, mas ainda existem alguns gargalos devido à segunda onda do novo
coronavírus em alguns países. “Temos componentes suficientes para manter a
capacidade máxima de produção das unidades, mas temos dificuldade para formar o
mix de produção”, explicou, lembrando que parte das peças era trazida do
exterior por via aérea, logística que se tornou muito mais escassa durante a
pandemia.
Devido à tecnologia embarcada nas máquinas, a importação
pode variar de 15% a 50% do custo de produção da indústria e, como a
desvalorização do real continua pesando nesta conta. Por isso, ele não descarta
novos reajustes no portfólio. “Houve aumento de preços, tivemos que repassar
porque os custos foram muito grandes, isso ainda é uma preocupação para a
cadeia”, admitiu.
“Podem vir novos repasses de custo sim, se continuar a
tendência de valorização (do dólar) têm coisas que são inviáveis”, completou.
Agência Brasil