Indígenas se preparam para eleição municipal e tentam ampliar sua presença na política

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O Dia do Índio, comemorado nesta quinta-feira (19), levanta discussões sobre direitos desses povos, entre eles o do acesso às instituições políticas. Nesta área, há grande expectativa. O secretário-executivo do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Cleber Buzatto, aposta que mais indígenas devem ser eleitos para prefeituras e câmaras municipais em 2012, seguindo uma tendência de pleitos anteriores.

Um levantamento da organização mostrou que, em 2008, seis indígenas conquistaram o cargo de prefeito, o que representa o dobro da eleição de 2004.

— Essa é uma tendência que se fortalece junto aos povos indígenas das diferentes regiões do País. […] Comunidades têm mais ciência dos seus diretos e dos espaços que o Estado brasileiro oferece em sentido de governança.

Buzatto diz que, em geral, as experiências de índios nos poderes Executivo e Legislativo têm sido positivas.



— Eles conseguem agir especialmente em políticas mais locais, nas áreas de saúde, educação, serviços e assistência às comunidades. Temos muitas situações, infelizmente, que as comunidades, as aldeias indígenas estão completamente abandonadas pelo poder público municipal, com extrema dificuldade de acesso, por exemplo.
 

Aurivan dos Santos, cacique truká, é um dos mais de 60 índios que conseguiram se eleger vereador em 2008. Além de vencer o pleito, Santos, que hoje está no PSD, tornou-se presidente da Câmara Municipal de Cabrobó (PE). Segundo ele, o resultado foi muito positivo não só para indígenas, mas também para outras populações antes desassistidas, como os ribeirinhos.

— O que conseguimos no município foi trazer a pauta indígena para a Câmara. Nós não tínhamos nenhum representante, então ninguém defendia a questão indígena. […] Conseguimos avançar bastante na política. As populações que eram menos beneficiadas nos procuram.

O vereador conta que levou discussões sobre empreendimentos na região, como a transposição do rio São Francisco. Também tentou sensibilizar a população da cidade para a causa da comunidade indígena, propondo, em seu primeiro projeto de lei, a criação da Semana do Povo Indígena Truká. Santos também propôs a criação da Secretaria de Assuntos Indígenas. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), Cabrobó tem 3.639 indígenas, o que corresponde a quase 12% da população da cidade.

Perspectivas

Santos conta que a comunidade se preparou oito anos para lançar um candidato em 2008, quando havia chances reais de vitória. No entanto, o indicado, Mozeni Araújo, foi assassinado por traficantes cerca de um mês antes da votação. Foi nesse momento que o cacique Aurivan entrou na disputa.

Em 2012, segundo ele, a comunidade pretende lançar dois candidatos a vereador: além dele, pode entrar na disputa Demar Gavião. O cargo de prefeito deve ficar para o futuro, assim como o de deputado estadual.

Os truká têm diálogo aberto com os outros 11 povos indígenas de Pernambuco. Do total, só quatro ainda não têm representantes nos poderes municipais. A tendência, na avaliação de Santos, é que os indígenas consigam formar lideranças estaduais.
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— Muita coisa depende também da conjuntura política e de alianças que fizermos.

O cacique ressalta que os jovens indígenas estão cada vez mais envolvidos em movimentos de luta por direitos e, com acesso è internet, têm se comunicado melhor. Com preparação, opina ele, estas novas gerações poderiam ocupar cargos de maior repercussão no futuro.

No entanto, para Cléber Buzatto, secretário-executivo do Cimi, o obstáculo do preconceito ainda precisa ser vencido.

— O preconceito é um grande limitador, mas muitos estão conseguindo superar os estigmas.

Rumo à Brasília

Hoje, os indígenas não têm representantes no Congresso, e isso não deve ocorrer no curto prazo, dizem as fontes ouvidas pelo R7. Isso já aconteceu no passado, porém. Nos anos 80, a Câmara tinha um deputado indígena: era Mario Juruna, morto em 2002, que exerceu o mandato entre 1983 e 1987 e se tornou uma liderança mundialmente conhecida.

 

Para o secretário do Cimi, os indígenas sabem da importância da eleição de um deputado federal ou um senador, mas ainda não existe uma unidade que possibilite isso.

— Os diferentes povos são assediados por diferentes partidos, o que acaba dividindo o eleitorado indígena em diferentes Estados. Isso acaba dificultando ainda mais a eleição de um indígena nas esferas estaduais e federais.

Buzatto lembra ainda que hoje a luta indígena é muito difícil porque, no Congresso, as forças são desequilibradas e a bancada ruralista tem muita influência.

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